O Presidente angolano, João Lourenço, deu uma entrevista à RTP. O enviado da televisão pública portuguesa perguntou o que todos já perguntaram e ouviu as respostas que todos já ouviram. Ora, isso não é Jornalismo. É propaganda. Jornalismo é perguntar o que o entrevistado, neste caso, não quer que seja perguntado. Tudo o resto (como foi o caso) é apenas e só publicidade.
Nessa acção de propaganda da RTP (fazendo lembrar os tempos de Paulo Catarro), João Lourenço afirmou hoje que as relações entre Angola e Portugal estão neste momento “no pico da montanha” e que o processo que em Lisboa envolveu o ex-vice-Presidente Manuel Vicente “não deixou sequelas”. Novidade? Nenhuma.
O chefe de Estado angolano apontou também a necessidade de continuar a aprofundar o relacionamento com Portugal que “sempre foi especial” entre os dois países.
“Neste preciso momento as relações estão no pico da montanha, estão lá bem em cima. De qualquer forma, temos o dever de continuar a trabalhar no sentido, não diria de manter esse nível, mas de subir ainda mais”, disse João Lourenço.
O Presidente angolano acrescentou que o diferendo com Portugal, a propósito da investigação da Justiça portuguesa a Manuel Vicente, por suspeitas de corrupção, enquanto presidente da petrolífera angolana Sonangol, resultou do incumprimento de um acordo ao abrigo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ao nível da Justiça, com Luanda a reclamar receber o processo.
“Para Angola, essa questão foi relevante porque nós estávamos perante um incumprimento de um acordo entre dois Estados – e dois Estados que se querem bem – e havia a necessidade de uma das partes recordar à outra parte que tínhamos um acordo que precisa de ser cumprido. Felizmente, o bom senso acabou por vencer e esse momento difícil passou rapidamente e não deixou sequelas”, declarou João Lourenço.
Sobre a chegada, hoje, do Presidente português a Luanda, precisamente no dia do 65.º aniversário do chefe de Estado angolano, João Lourenço admitiu que “na política não há acasos”. “Juntamos o útil ao agradável”, disse, a propósito da participação de Marcelo Rebelo de Sousa no jantar de aniversário.
O chefe de Estado angolano descreveu que mantém “boas relações” com Marcelo Rebelo de Sousa, “apesar da diferença de idades”. Uma diferença substancial. Um tem 70 anos, outro faz 65…
Questionado sobre as orientações dadas à Sonangol relativamente às participações que a petrolífera detém em Portugal – indirectamente na Galp e directamente no Millenium BCP, com 19,49 % do capital social -, o chefe de Estado insistiu que são para manter.
“De uma forma geral, a Sonangol tem orientação no sentido de se retirar daqueles negócios que não têm muito a ver com a sua actividade, que é a extracção e comercialização de petróleo, isto é no geral. No concreto, vamos ver caso a caso”, insistiu, tal como já tinha feito em Novembro, durante a visita de Estado a Portugal. Concretizando, João Lourenço reiterou que no caso da Galp, como está ligada à extracção de petróleo, “não há razão para sair”. “Portanto, a Galp não se põe”, disse, acrescentando que sobre a posição no Millennium BCP “em princípio vamo-nos manter”.
E foi assim durante toda a acção de propaganda. Perguntas inofensivas e banais, respostas banais e inofensivas. Reconheça-se, contudo, que o funcionário da televisão pública portuguesa que leu as perguntas não é um criminoso. Criminoso seria se, sabendo o que se passa, se calasse. Mas como, convenientemente, não sabe o que se passa… é tão somente um imbecil.
Folha 8 com Lusa
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