Fome “estuda” no Instituto Agrário do Kwanza Norte

Os conceitos em Angola estão em permanente mutação, como este, capaz de ser aplicado, em circunstâncias sui generis: “Qualquer coincidência com a realidade é mera semelhança”. No Instituto Agrário do Kwanza Norte a fome entrou sem bater à porta e ficou. Os alunos? Bem, esses tiveram de… sair.

Custa a acreditar na morte de um macaco, debaixo de uma bananeira carregada de fruta. Mas é possível, que isso aconteça, em algumas florestas, com uma espécie de macacos, arrogantes, prepotentes e que se acham detentores de toda verdade, incluindo a de serem os únicos donos da floresta. E com base nisso, habituaram-se a não trabalhar, mas a abocanhar o que é dos outros, com a agravante de os discriminar.

Essa espécie, que deveria estar em extinção, continua a fazer morada nas nossas pradarias, para desgraça da maioria, que se vê remetida à fome.

Mas vamos para outras fomes. A fome real, a fome impensável, a fome provocada pela incompetência criminosa mas não criminalizável, a fome derivada do crime, a fome causada pela má gestão, também ela um (mais um) crime de lesa-humanidade.

Infelizmente, todas e muitas delas, se cruzam, em Angola, em pleno século XXI, e, pasme-se, até em lugares onde existe tudo e todas as condições da natureza, para dar certo…

Angola tem regiões aráveis, terras férteis, rios, que dão inveja a muitos países e povos, que vencem as adversidades, das montanhas, das terras com pedregulhos e longos desertos, com o pragmatismo dos dirigentes e inteligência cidadã.

É aquela inteligência, colocada ao serviço do próximo, do colectivo, do povo, fazendo com que das zonas inóspitas, germine toda espécie de hortícolas, produção de aves, gado, etc.. É aquela inteligência de que quem não vive para servir… não serve para viver.

Como em Angola se pode admitir que o povo passe fome e morra de fome, causada pela inércia, incúria e incompetência de quem, apenas se lhe reconhece competência no uso da força, no controlo absoluto e partidocrata do aparelho do Estado, na realização ficcionada de eleições, garante de uma imagem de pluralidade, que não passa de uma pseudo-democracia, ancorada na fraude eleitoral, rampa de perpetuação no poder, tudo pode acontecer. Pode e acontece mesmo.

Pese esse trungungu, a maioria dos gestores são tão incompetentes, que não conseguem fazer girar os rolamentos da máquina administrativa pública, salvo, quando se trata de a delapidar, como está a acontecer no Instituto Agrário do Kwanza Norte, nesta semana.

É possível acreditar que esta instituição do ensino médio, situada a cerca de 250 quilómetros da capital do país, Luanda, com equipamento para agricultura, campos excelentes, rio próximo, tenha encerrado, por abandono dos alunos, devido à fome, por gritante falta de comida…?

Pode isso ser real? Em Angola, 43 anos de poder absoluto de um partido só, pode!

Tanto é verdade que os últimos alunos a abandonar a instituição, juraram não mais regressar ao Instituto por três situações: a fome, a incompetência da direcção e a falta de capacidade de gestão.

“Mas o Ministério da Educação, o próprio Presidente da República, o partido no poder e os deputados da Assembleia Nacional, são cúmplices dessa nossa situação e desgraça, pois todos sabem e não tomam providências”, disse ao Folha 8, o estudante Mangala José, para quem os alunos foram avisando da necessidade de se fazer alguma coisa, “até com o dinheiro que os nossos pais pagam”.

“Só nos faltou, por um pouco amarrar o director e a sua equipa e se isso acontecesse iria ser manchete nacional e todos iriam correr para o Kwanza Norte, mas como lá só estão mesmo filhos dos camponeses e pobres, ninguém está preocupado, com a nossa sorte”, acrescenta num lapidar e paradigmático grito de revolta.

Já o estudante Ernesto Bongo Andrade, lamentou o sucedido por ser mais um atraso nas suas vidas, “mas se a filha do Presidente da República estudasse aqui e não nos Estados Unidos, até direito a Guarda Presidencial teríamos. Isso em Angola já não muda. Eles dão o melhor para os filhos e o pior para nós, filhos do povo, para continuarem a dominar-nos eternamente, pois os filhos deles sempre terão melhor formação que nós, logo, ficarão com os melhores empregos”, concluiu.

A serem verdadeiras estas denúncias, sendo um Instituto ligado à agricultura com equipamentos e terras aráveis, a primeira medida teria de ser a instauração de um processo disciplinar e ou judicial, ao director e respectivo elenco, para se aferir responsabilidades sobre a gestão, que levaram ao encerramento e abandono dos alunos.

Sem saudosismo, nunca, no período colonial, isso aconteceria e se hoje, na Angola Independente, governada por negros, ocorrem estas práticas de gestão criminosas, contra a maioria preta, os povos têm, com base na Constituição, de exercer a soberania, de votarem massivamente, enfrentando inclusive a máquina da fraude eleitoral, para uma nova aurora.

Nos anos 60 e 70, os campos de concentração como o de São Nicolau, bem como a maioria dos institutos, por exemplo, naquela região o do Késsua, eram auto-suficientes e o excedente agrícola permitia a permuta ou a compra de outros produtos, como sabão, óleo, quando não transformassem a ginguba e dendém, sal, peixe e outros bens industriais.

Foto de arquivo datada de 2009

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