Entreguismo, corrupção, incompetência & petróleo

A maioria dos políticos são vistos como canalhas, canalhas, canalhas, pelos malefícios, paradoxalmente, causados aos cidadãos, qual maioria ingenuamente cadastrada na estatística eleitoral, que leva ao poder, amiúde, os menos capazes, muitas vezes, os imbecis e piores preparados para a condução do(s) país(es).

Por William Tonet

A minoria, não acreditando na ladainha de um “país das maravilhas” condiciona o voto irracional, lançando “pranchas” à prudência, ao bom senso, levando o benefício da dúvida, atracando no porto do equilíbrio e da ética republicana, importante arco-íris da democracia.

Para estes, nem toda tribo política é vira-lata, intriguista, complexada, anti-patriota, tão pouco vende a alma ao diabo, escancarando as portas ao capital estrangeiro, numa criminosa colonização económica, depois da vivida pela colonização global, levada a cabo, no caso angolano, pelo fascismo português do século passado.

Ainda existe esperança na política, pois sem ela não haverá, o normal, saudável e imparcial, desenvolvimento da tríade do Estado: Legislativo, Executivo e Judicial, como aspiração da maioria dos cidadãos, que ambiciona ver o poder repousar em políticos verdadeiramente avessos à fraude, mesmo a incubada, por comprometidos com a cidadania, a ética, a moral pública e o dever de realizar o país, para lá das ideologias barrocas e vaidades partidocratas.

Angola está a viver períodos conturbados derivados de uma (des)política, pior dos épicos anos da ditadura socialista do MPLA-PT e da economia centralizada, quando, na rotunda de 2017, uma onda de esperança, chegou a “masturbar”, intelectualmente, franjas significativas de cidadãos, que auguravam tempos áureos, face ao discurso de mudança do novo timoneiro; João Manuel Gonçalves Lourenço, também do MPLA, mas que se esperava detentor de sapiência de humildade cidadã.

Triste e dramática (porque repetida) ilusão óptica!

O inversor, para desgraça colectiva, quando aplicado ao quadro, não alterou, positivamente, o fornecimento de energia, nem melhorou a qualidade do mentor e predecessor, com ordem de sair de circulação, 38 anos depois. Pelo contrário, dos irregulares 220, fornecidos, anteriormente, sem qualquer doseamento, aumentou-se a voltagem, qual emoção, raiva e trungungu, para 320.

Muitos acreditaram, emotivamente, ser a cosmética, os paliativos, o apontar de dedos, o fechar de algemas, ferramentas bastantes para melhorar a balbúrdia anterior e apagar os malefícios da política de “acumulação primitiva do capital”, cujos resultados práticos, foram em sentido contrário, a consolidação de uma burguesia angolana, capaz de encarnar e alavancar, como prioridade patriótica, o desenvolvimento agro-industrial.

A política adoptada de rotular o anterior número 1 (José Eduardo dos Santos – 1979-2017): “MARIMBONDO-MOR” (equivalente, em linguagem, ocidental, em chefe de quadrilha de ladrões e corruptos) pelo actual, número 1 (João Lourenço), na capital da antiga Metrópole, Lisboa, anunciando ainda a prisão de um dos seus filhos (Filomeno dos Santos, ex-presidente do Fundo Soberano) e uns tantos colaboradores próximos, capitaneados por um ex-ministro que mais fundos públicos terá alocado, indevidamente, em contravenção à Lei Eleitoral, para a campanha da lista e cabeça-de-lista do MPLA, nas eleições de 2017, consideradas fraudulentas.

“É corajoso!” “Vai ser diferente”! “Acabará com a corrupção!”, foram palavras e títulos garrafais nos órgãos de comunicação social em Lisboa e do jornalista português que conseguiu o furo de exclusividade do novo presidente angolano (paradoxalmente, quando se esperava o contrário, a nova imagem de marca, foi o discriminar os jornalistas angolanos), pela bomba declaratória do candidato de prender e combater sem tréguas a corrupção.

O mundo ocidental rejubila, no seu crónico cinismo, quando vê, políticos e líderes, negros, de países africanos e subdesenvolvidos, gladiarem-se entre si, não para combater de forma geral e abstracta os males de ontem, tão pouco, para a implantação de um programa global de combate aos vícios sistémicos, mas, infelizmente, as palavras e chavões bonitos servem apenas para a afirmação de um projecto pessoal de poder absoluto.

E isso, desilude os crentes na cidadania patriótica, por a prática do “estelionato político-governativo”, continuar a inverter, ilicitamente, as regras de jogo, transformando o imprescindível combate à corrupção, ao nepotismo, ao peculato, à roubalheira e ladroagem, que se institucionalizaram, pela opção partidocrata, como males sistémicos, em luta endémica, selectivamente, direccionada à esfera individual de adversários incómodos.

Obviamente, estas acções (prender adversários e rotulá-los pejorativamente) dificilmente se mantêm no topo, por muito tempo, e dão certo, principalmente, quando desacompanhadas de melhorias na vida dos cidadãos e empresas, cerca de dois anos depois. O preço do tomate, da batata, do óleo alimentar, da fuba, dos transportes públicos, das propinas escolares, dos impostos, das casas, aumentando diariamente, de mãos dadas com o desemprego, a inflação e a falta de dinheiro, descredibilizam a falta de um coerente projecto e programa económico.

O Titular do Poder Executivo, João Manuel Gonçalves Lourenço, voluntária ou involuntariamente, não conseguindo dar um blindado prazo de validade às acções e programa de governo, por manifesta incompetência da sua equipa económica, perseguindo cega e impiedosamente adversários políticos, caricatamente, do partido, que (des)governa Angola, faz 43 anos, longe de convencer os cidadãos, calcina ainda mais o sentimento de descredibilização do MPLA, como partido do mal e, segundo actos do seu novo líder, é uma organização criminosa, criada para fazer mal a Angola e aos angolanos e que deveria ser banida do espectro político-partidário.

É o regabofe total, pois, até agora, nada parece dar certo, na estratégia de João Lourenço, para lá das prisões e processos judiciais, mal instruídos, por partidocratamente vinculados, subjugados e dependentes, a ele próprio, enquanto, Titular do Poder Executivo, fruto de uma Constituição atípica da qual não prescinde, tão pouco tem interesse numa revogação ou alteração, parcial ou total, capaz de credibilizar a aparente pretensão de mudança dos corroídos pilares do regime.

Ficando no mesmo marco, as exonerações e a perseguição selectiva de determinados adversários, vinculam-no a uma política sem norte e visão estratégica da função Presidente da República, cujo mérito repousa, na capacidade de estabelecer pontes, entre diferentes, engolir sapos, em nome da reconciliação e governar para efectivar a melhoria da vida dos cidadãos, suplantando vaidades umbilicais.

O contrário é a reunião, numa capa foleira, de adjectivos cegos, incapazes de visualizar o horizonte e quando assim é, a saturação social começa a crescer em espiral, como se fosse um rastilho de pólvora, que se não for contido, atempadamente, poderá redundar numa explosão de consequências imprevisíveis, pese o acirrado controlo dos Serviços de Inteligência, das Polícias e Forças Armadas, face à propagação do Tsunami Fome e Desemprego.

O privilegiar de uma política de entreguismo das riquezas e economia nacional aos estrangeiros, o aumento dos impostos, agravados com a criação do IVA de 14%, a ausência de investimentos externos, o encerramento de serviços e fábricas, o empobrecimento dos empresários angolanos, a imigração forçada de cidadãos comuns, políticos e deputados, mesmo com foro privilegiado, descrentes no actual sistema de justiça, não abonam a favor da actual liderança do país.

MUDAR MANTENDO… A CORRUPÇÃO

Tanto assim é que a falta de combustível, vivida nos últimos dias, que paralisaram, quase por completo o país, são a mais clara e inequívoca demonstração da incompetência institucional (sem precedentes), que grassa no gabinete presidencial e, se dúvidas houvesse, a substituição do anterior PCA da Sonangol, Carlos Saturnino, pelo actual, Pai Querido, ambos acusados, administrativa e processualmente da prática de crimes de corrupção e branqueamento de capitais, em Angola e no estrangeiro, apenas vêem sustentar o descrédito da equipa e do próprio Presidente da República, João Lourenço, ao optar trocar seis por meia dúzia. E uma pergunta que não se quer calar é: tendo no Conselho de Administração da petrolífera nacional, dois ex-secretários-gerais do MPLA e ex-primeiro-ministro, por que razão os mantém, não executivos, mesmo nesta hora, quando a sua serventia poderia ser avocada, em nome da imagem e credibilização da companhia, interna e externamente?

Não sendo assim, a única leitura é a da acomodação de ambos: Lopo Ferreira do Nascimento e Marcolino José Carlos Moco, não ser do ponto de vista económico, por não carecerem, pois devem ter pecúlio, para vencer o dia-a-dia, mas para, com a nomeação, domesticá-los, arredando-os da luta, como potenciais adversários políticos, face ao seu capital social e peso intelectual.

A inacção do Comité Central, do Bureau Político e do grupo parlamentar do MPLA, torna-os cúmplices da degradação da situação sócio-económica e política actual, ao ponto de um dos seus membros, denunciar temor pela integridade física, ameaças policiais, descrédito no sistema judicial, a partir do exterior do país, denotando claramente, antes de tudo mais, que a instituição Presidência da República, não é um rio de todos angolanos.

As declarações de “Tchizé” dos Santos, não podem ser analisadas, como filha do ex-presidente da República, como marimbondo, como corrupta, mas como uma cidadã, com prerrogativas especiais, que não acredita na imparcialidade das instituições do país, inclusive do próprio Presidente da República. Isso é muito grave e longe de quaisquer paixões ruidosas e clubistas de defesa de JLo ou de JES, deve levar os intelectuais a uma séria e profunda discussão, que transcenda o míope comunicado da bancada parlamentar do MPLA, cuja cumplicidade e cegueira, a descredibiliza (bancada) ainda mais, numa clara demonstração de, voluntária ou involuntariamente, o principal cancro do desnorte e pobreza da maioria dos povos de Angola, ser a incompetência dos dirigentes do partido no poder, que não conseguiram, sequer, acabar ou minimizar a seca no Cunene, uma região, cujos lençóis de água está abaixo dos 10 metros.

Assim, um dever patriótico, por este andar, poderá ser o de cada eleitor que se considere um verdadeiro autóctone angolano, comprometido com o futuro do país, não acreditar mais, em falsas promessas da tribo política que, desde 1975, não conseguiu superar nenhuma mais valia, concedida pelos colonialistas portugueses aos indígenas colonizados.

É preciso mudar, para haver mudança real.

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