A consultora Bloomberg Intelligence considera que a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Angola e a emissão de dívida nos mercados financeiros ajudarão a manter as reservas internacionais, mas podem não compensar a perda de receita fiscal do petróleo.
“O s fundos disponibilizados pelo FMI e a emissão de ‘eurobonds’ deve ajudar a aumentar as reservas de Angola em moeda externa este ano, mas podem não ser suficientes para compensar a perda de receitas fiscais devido à descida dos preços do petróleo”, escrevem os analistas numa nota divulgada hoje pela agência de informação financeira Bloomberg.
As reservas internacionais desceram de 11,9 mil milhões de dólares, em Novembro, para 10,6 mil milhões de dólares, em Dezembro, “apesar da disponibilização de quase mil milhões de dólares pelo FMI”, acrescenta-se na nota escrita pelos analistas económicos da Bloomberg.
A queda das reservas de Angola em moeda estrangeira “acelerou no segundo semestre de 2018, provavelmente devido às fortes quedas da produção de petróleo, e foi tornada pior pela descida dos preços do petróleo no último trimestre de 2018”, acrescentam, notando que a produção de crude desceu de 1,8 milhões de barris por dia, em 2016, para entre 1,4 a 1,5 milhões no segundo semestre do ano passado.
Isto, concluem, “está a dificultar a capacidade de o Governo servir a dívida”, pelo que é necessária “uma taxa de câmbio mais baixa para anular as perdas de reservas em moeda estrangeira, mesmo com um programa do FMI em vigor”.
O programa do FMI, assinado em Dezembro na presença da directora-geral do Fundo, Christine Lagarde, contempla uma verba de 3,7 mil milhões de dólares, dos quais 991 milhões foram disponibilizados de imediato.
A consultora Bloomberg Intelligence (uma espécie de marimbondo que de vez em quando teima em azucrinar a superior qualidade governativa da equipa de João Lourenço/MPLA) afirmou em 12 de Dezembro que novas desvalorizações do kwanza, no seguimento do acordo com o FMIA, podem fazer com que Angola caia para o quinto lugar das maiores economias da África subsaariana, sendo ultrapassada pelo Quénia e Etiópia.
Mal sabe a consultora que, nesta altura, estará já a ser escolhida uma comissão técnica e multissectorial para encontrar matéria de facto que justifique que o Presidente emita um Decreto para a sua… exoneração.
“O Fundo elenca a flexibilidade da taxa de câmbio para recuperar competitividade como um pilar crítico do programa; uma desvalorização adicional do kwanza deve fazer com que Angola escorregue para o quinto lugar das maiores economias da África subsaariana”, escrevem os analistas da Bloomberg Intelligence.
As previsões actuais do FMI para Angola estão baseadas numa desvalorização do kwanza em 48,5% em 2018 e 28% em 2019, o que compara com as estimativas anteriores de 10,1% e 7,3%, respectivamente, acrescentam os consultores da agência de informação financeira Bloomberg.
A Nigéria e a África do Sul lideram a lista das maiores economias apontadas pelo FMI nas Previsões Económicas Mundiais de Outubro, seguido de Angola, Quénia e Etiópia, sendo que estes dois últimos ultrapassariam Angola na lista se as desvalorizações do kwanza continuarem, segundo a Bloomberg Intelligence.
Sobre a redução do valor do programa do FMI, várias vezes apontado pelo Executivo (4,5 mil milhões de dólares) para 3,7 mil milhões de euros, esta consultora diz que este valor “deve ajudar a redimensionar a sua economia para uma produção de petróleo mais baixa”.
Desde Janeiro de 2018, quando se situava nos 165,92 kwanzas por dólar, a moeda angolana depreciou-se 46,64%.
No princípio de Dezembro, o administrador do banco central angolano Pedro Castro e Silva garantiu que a pressão sobre as divisas em Angola “terminou”, após as medidas que geraram uma maior previsibilidade no mercado cambial e de uma melhor comunicação com os bancos comerciais.
O facto de, desde Janeiro do ano passado, o kwanza ter-se depreciado significativamente estava previsto no âmbito do Programa de Estabilidade Macroeconómica (PAM), que passou por uma maior liberalização da taxa de câmbio.
“Esta tarefa está cumprida e já não temos mais nenhum ajustamento a fazer”, sublinhou Castro e Silva, para justificar a relativa estabilidade da moeda angolana nas últimas semanas.
Castro e Silva disse acreditar que, nos próximos tempos, a tendência será a de Angola entrar numa fase em que a moeda nacional “vai assumir comportamentos como se vêem nas outras moedas”, com movimentos de depreciação, quando a procura for maior que a oferta, e de apreciação, quando suceder o contrário.
Folha 8 com Lusa