Um “malandro” a menos

A propósito da morte, ontem, de Afonso Dhlakama, líder da Renamo, recordemos que, no dia 23 de Março de 2017, a UNITA reagia, em comunicado, às declarações que qualificou de “insultuosas” de João Lourenço, às forças políticas na oposição em Angola e em Moçambique, por ocasião da visita que o candidato do MPLA efectuou àquele país do Índico.

A UNITA condenou nos “termos mais enérgicos tais declarações” e disse que João Lourenço não tinha o direito de tratar de “malandros” as forças políticas credíveis que em Angola e em Moçambique, concorram legitimamente para o exercício do poder político.

“João Manuel Gonçalves Lourenço foi infeliz, revelou a sua mesquinhez política, bem como o seu espírito arruaceiro, ao pronunciar-se nos termos em que o fez. Ainda bem que assim tenha sido, pois mostrou que não está à altura de dirigir os destinos de Angola e dos angolanos”, dizia o documento.

A UNITA relembrava ao cabeça-de-lista do partido que sustenta o poder em Angola desde 1975 que, nos termos da Constituição da República de Angola, (artigo 17º) “os Partidos Políticos concorrem em torno de um projecto de sociedade e de programa político para a organização e para a expressão da vontade dos cidadãos, participando na vida política e na expressão do sufrágio universal, por meios democráticos e pacíficos com respeito pelos princípios da independência, da unidade nacional e da democracia política”.

Mais adiante, a nota da UNITA referia que os membros do MPLA foram muito mal representados em Moçambique, por um João Lourenço intolerante que quis, sem pejo, transmitir esse vírus de discórdia aos irmãos do Índico.

“A UNITA reconhece e agradece a pronta e pontual reacção dos Parlamentares Moçambicanos, que repudiaram as insinuações do MPLA, considerando-as perniciosas aos esforços e processos de paz e reconciliação em curso tanto em Angola como em Moçambique, recordando que nem o MPLA é Angola, nem a FRELIMO é Moçambique”, afirmou a UNITA.

Segundo a UNITA, os dirigentes do MPLA, incluindo João Lourenço, não têm moral para se arvorarem “legítimos representantes do Povo angolano”, porque, recorda-nos a História, tomaram o poder pela força das armas, em 1975, com a ajuda das forças comunistas e reaccionárias de Portugal, do corpo expedicionário cubano e dos imperialistas da ex-União Soviética, e têm-se mantido no poder graças às sucessivas fraudes eleitorais.

Prosseguindo, o comunicado da UNITA sublinhava que “as únicas batalhas relevantes contra a presença colonial portuguesa, foram realizadas pela Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e pela União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA), o que justifica, aliás, que o MPLA nada realce relativamente às batalhas da luta de libertação nacional”.

Mais adiante a UNITA refere que “Angola precisa de dirigentes íntegros, credíveis e sem envolvimentos em escândalos financeiros, nem de corrupção. Para a sua liderança, Angola precisa de dirigentes de grandeza moral inquestionável e, sobretudo, congregadores, cuja conduta tenha como base o respeito pelas normas de convivência pacífica. João Lourenço está muito longe de ser isso”.

“Ao mesmo tempo que compreende o desespero que se apossou daqueles que constituíram as suas as riquezas, roubando o erário público de Angola, a UNITA não pode entender que quem pretende ser Presidente de um país como Angola, divida os angolanos entre supostos “bons” e “malandros”. Essa posição é demonstrativa do total desprezo que os dirigentes do MPLA dão à reconciliação nacional genuína”, ressalta a UNITA no seu comunicado, aconselhando os moçambicanos da FRELIMO, a ficarem sozinhos com o seu saudosismo monopartidário, e recordando que apenas aos angolanos cabe o direito de escolher quem deve conduzir os seus destinos. Angola não é Moçambique e o inverso também é válido.

“A UNITA recorda que a mudança em Angola tornou-se um facto inevitável e reitera o seu empenho numa governação virada para todos os angolanos, sem distinção, incluindo aqueles que, como João Lourenço, participaram e ainda participam na delapidação do erário público”, afirma finalmente o documento da UNITA.

Dois dias depois, a 25 de Fevereiro, o então líder do MDM, segunda força política da oposição de Moçambique, Daviz Simango, em declarações exclusivas ao Folha 8, condenou as tristes e deploráveis declarações do ministro da Defesa, João Lourenço, proferidas em Maputo, onde esteve, em visita oficial, por 24 horas, ao considerar malandros, os membros dos partidos da oposição de Moçambique e de Angola, por quererem, com base nos princípios constitucionais, alcançar o poder político, um dos fins da democracia participativa… quando ela existe de facto e não apenas formalmente.

“O ministro de Angola, João Lourenço, esteve em visita à Moçambique, uma visita partidária e ele como cidadão angolano, está num outro Estado soberano e, o Estado moçambicano, rege-se por uma Constituição própria, dentro da sua soberania, e não é admissível, que um ministro da Defesa e sobretudo uma pessoa que se pressupõe ser candidato para dirigir uma Nação, desrespeite os princípios de um Estado de Direito, desrespeite os princípios da soberania de uma nação”, afirmou Daviz Simango.

O então líder do MDM acrescentou: “Nós não admitimos que ele venha ao nosso país, abuse dos direitos cívicos dos moçambicanos, porque nós como moçambicanos não gostaríamos também de fazer isso em Angola. Isto mostra que este cidadão angolano não tem noção de um Estado de Direito. Não sabe que um Estado de direito, se faz com os partidos políticos. Não sabe que o Estado de Direito se faz com os cidadãos, por isso, nós condenamos e exigimos que este cidadão angolano, não use estas palavras em território alheio. Terroristas são os do MPLA, que matam e chateiam o povo angolano e violam os direitos humanos. Esses sim, são malandros e tolos.”

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