Falta pouco para o vosso
amo “conquistar” Lisboa!

O ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, anunciou hoje oficialmente, em Luanda, que o Presidente angolano, João Lourenço, efectuará uma visita oficial a Portugal a 23 e 24 de Novembro. O Portugal político (com excepção do Bloco de Esquerda) prepara uma recepção de arromba. Bem que os funcionários públicos (pelo menos esses) deveriam ter tolerância de ponto.

Manuel Augusto falava hoje à imprensa à margem do VII Conselho Consultivo do Ministério das Relações Exteriores, que decorre até terça-feira, sob o lema “As Oportunidades e Desafios no Futuro”.

Sobre a visita do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, o chefe da diplomacia angolana disse que a delegação portuguesa chega a 17 deste mês, feriado em Angola, pelo que será realizado, nesse dia, um programa informal.

“Já está aqui uma equipa de avanço neste momento a trabalhar. O senhor primeiro-ministro [António Costa] vai chegar no dia 17 e teremos um programa informal, porque é feriado. No dia 18 será o dia da visita”, explicou o governante angolano.

Relativamente à hipótese da assinatura de um acordo de isenção de vistos, o ministro angolano negou essa possibilidade, salientando que Portugal, tal como a maior parte dos países europeus, pertence ao espaço Schengen e “não tem a capacidade de exercer a reciprocidade”.

“Não podemos ter desvantagem para os cidadãos angolanos. Isentamos aqueles que nos podem isentar. E os países da União Europeia, os que fazem parte do Schengen, não têm essa capacidade, mas estamos a encontrar caminhos da facilitação de vistos para que, de facto, não haja obstáculos”, frisou.

Recentemente, o responsável da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, disse que António Costa se irá reunir com o chefe de Estado angolano, João Lourenço, salientando que a visita “terá uma componente económica muito importante, porque o relacionamento comercial e em termos de investimentos recíprocos de Portugal e de Angola é muito intenso”.

Augusto Santos Silva referiu ainda, em Bruxelas, à margem da cimeira da NATO, que “Portugal e Angola irão também assinar o novo programa estratégico de cooperação”, estando ainda previstos encontros do primeiro-ministro com a comunidade portuguesa em Luanda.

PS deve expulsar a “irritante” Ana Gomes

No passado dia 26 de Maio, o Jornal de Angola criticou, em editorial, as “ervas daninhas” das relações luso-angolanas, referindo-se às posições assumidas pela eurodeputada socialista Ana Gomes, que alerta constituírem o “único irritante” entre os dois países. Trata-se de uma “cópia” do que era habitual este mesmo jornal dizer sempre que a eurodeputada falava do regime. Também, neste caso do JA, as “ervas” mudaram mas as que lá estão continuam a ser “daninhas”.

No editorial, o jornal detido pelo Estado/MPLA reagia às declarações de Ana Gomes, que afirmou que a transferência para Luanda do processo do ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, – que era exigida pelas autoridades do MPLA/Estado e que o Governo português classificava como “o único irritante” nas relações bilaterais – “foi fabricada”.

“Quando pensávamos todos que o processo de normalização das relações entre as autoridades políticas portuguesas e angolanas conhecessem um momento reciprocamente vantajoso, eis que não faltam vozes que preferem correr em contramão”, começa por descrever o editorial sob o título “As ervas daninhas das relações luso-angolanas”.

Certamente que, por ser o mais nobre paradigma do jornalismo instituído nas aulas de “educação patriótica” do MPLA, o Jornal de Angola continua na senda – já muito bem iniciada no templo da dupla José Ribeiro/Artur Queirós – de tentar chegar ao prémio Pulitzer pela via intestinal.

Acrescentava o Pravda (agora na versão JLo) que “de algum tempo a esta parte, uma das vozes desestabilizadoras, do tipo ervas daninhas” das relações entre Angola e Portugal, “com recurso ao que para muitos parecem tentativas frustradas de ajuste de contas políticas, tem sido indubitavelmente a eurodeputada socialista, Ana Gomes”.

O jornal falava mesmo numa “cruzada” de Ana Gomes “contra o Estado angolano e contra as autoridades angolanas”, nas posições assumidas, recordando que no processo judicial envolvendo o ex-vice-presidente de Angola (na altura dos factos PCA da Sonangol), “as autoridades portuguesas sempre fizeram constar, com toda a razão e sentido de Estado, que por força da separação de poderes o poder político não podia interferir nas decisões dos tribunais, de resto uma posição em que também alinha o Estado angolano”.

“Pretender que houve pressão política interna das autoridades políticas para as judiciais, a fim de se efectivar a transferência do processo para Angola é de uma irresponsabilidade política, da parte de Ana Gomes, mas que, a ninguém surpreende. Provavelmente, se não ocorresse a decisão do poder judicial português de enviar o processo do antigo vice-presidente para Angola, Ana Gomes teria inventado outras ‘barbaridades verbais’, um comportamento errático e obsessivo que começa a transformar-se, isso sim, no ‘único irritante’ laço entre os dois povos”, aponta o editorial.

O Pravda não disse mas, certamente, depois de previamente aprovado por quem manda em Angola, este editorial deve ter sido subscrito também por impolutos cidadãos portugueses, de Marcelo Rebelo de Sousa a António Costa, de Augusto Santos Silva a Assunção Cristas, de Azeredo Lopes a Jerónimo de Sousa e sem esquecer Rui Rio.

Recorde-se que o senhor Silva (Santos), ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, desmentiu “em absoluto” que as autoridades políticas portuguesas tenham exercido pressão política para que a justiça decidisse enviar o processo do ex-vice-presidente angolano para Luanda, como afirmou a eurodeputada socialista Ana Gomes.

“No que me diz respeito, se a alegação de que houve pressão política quisesse dizer pressão das autoridades políticas portuguesas, eu desminto em absoluto”, afirmou aos jornalistas o senhor Silva.

“O que mais contribui para tentativas de descarrilamento das relações entre os dois Estados são essas ervas daninhas, nos dois lados, herdeiras de um passado que não volta e sedentas do advento de uma era que não chegará nunca”, acrescenta, por seu lado, o editorial.

O brilhantismo anedótico e histriónico deste parágrafo é mesmo típico de José Ribeiro. Será que não foi ele quem o escreveu? Hum!

Por isso, o Jornal de Angola alerta: “Não é exagerado esperar um posicionamento mais firme das autoridades angolanas contra quem fala, age e actua contra si, contribuindo para todos os efeitos negativos deste procedimento recorrente”.

O Pravda defende que “é verdade que relativamente à relação dos Estados, as autoridades angolanas estão descansadas”, em função das posições assumidas pelo ministro português dos Negócios Estrangeiros, mas que “não podem” ficar “impassíveis diante de palavras tão graves e irresponsáveis da eurodeputada Ana Gomes”.

“Sempre que pode e não se sabe exactamente movida por que razões” (José Ribeiro culparia Jonas Savimbi), “lança todo o seu fel contra tudo o que diga respeito a Angola e às suas autoridades. As autoridades angolanas não se vão deixar intimidar por essas ervas daninhas, dentro e fora de Angola, que procuram inviabilizar o crescimento da planta nascida com o actual processo de reaproximação entre Angola e Portugal”, conclui o editorial.

Folha 8 com Lusa

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3 Thoughts to “Falta pouco para o vosso
amo “conquistar” Lisboa!”

  1. josé de vasconcellos

    o Carlos oliveira fez uma análise muito assertiva e concedeu o benefício da dúvida ao JLO . mudar de repente só iria dar confusão. é preciso paciência de chinês e já agora em tom de brincadeira, uma bala por cada politico corrupto talvez resultasse SE EVENTUALMENTE houvesse pena de morte como em Conacri

  2. carlos oliveira

    Apesar do folha 8 ser um jornal de oposição, julgo que por vezes exagera sobre a situação de Angola, no presente. É verdade que milhões de angolanos passam privações. A vida é difícil para a grande maioria do povo angolano. No entanto, devemos ter esperança de que a situação melhore,. E, na verdade, com João Lourenço, têm sido tomadas um conjunto de medidas que o distinguem do seu antecessor. Não se pode melhorar tudo num só dia e não nos esqueçamos que JLO está no poder há pouco mais de um ano, tempo manifestamente insuficiente para alterar o que quer que seja. Esperemos, pois, que a sua liderança dê frutos. É um homem corajoso, pela forma como afrontou interesses instalados. Tal não significa que o Folha 8, outro meio de comunicação e a sociedade civil não montem vigilância e criticam quando tal for oportuno. A critica tem que ser fundamentada. Sem este desiderato é mero devaneio e perda de legitimidade. O “botabaixismo” não conduz à resolução dos problemas.

    1. Obrigado Carlos Oliveira pelos seus comentários.

      Como sabe, preferimos (ao contrário de outros) ser salvos pela crítica do que assassinados pelo elogio.

      Somos de facto, desde 1995, um jornal de oposição/escrutínio ao Poder, seja ele qual for. O Jornalismo é isso mesmo. Se assim não for é apenas propaganda.

      Cumprimentos.

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