Dispositivo inovador
para testar a malária

O engenheiro informático de 24 anos do Uganda, Brian Gitta (foto), ganhou o Prémio África com um dispositivo inovador que testa a malária sem tirar sangue, o “Matibabu”, palavra suaíli para “tratamento”. Houve 216 milhões de casos de malária em 2016, comparativamente aos 211 milhões de casos em 2015. O número de mortes por malária foi de 445 mil em 2016 e de 438 mil em 2015. 90% dos casos de malária e mais de 90% das mortes por malária ocorrem na África Subsaariana.

“É um exemplo perfeito de como a engenharia pode desbloquear o desenvolvimento – neste caso, melhorando os cuidados com a saúde”, afirmou em comunicado a presidente do júri do Prémio África de Inovação em Engenharia, Rebecca Enonchong.

O novo “kit” de teste da malária funciona com um feixe de luz vermelha sobre um dedo para detectar mudanças na forma, cor e concentração das células vermelhas do sangue, afectadas pela malária, sendo os resultados enviados em um minuto para um computador ou telemóvel vinculado ao dispositivo.

Brian Gitta tornou-se no mais jovem vencedor daquele prémio, no valor de 33 mil dólares (28.300 euros), foi seleccionado em Nairóbi, no Quénia, dando um importante passo no combate a esta doença mortífera em África.

“Vamos desenvolver [o kit] para os hospitais em primeiro lugar, para que as pessoas possam familiarizar-se primeiro à marca e conquistar a confiança dos pacientes ao longo do tempo”, disse Brian Gitta, citado pela agência de noticias Associated Press.

Milhões de casos sobretudo em África

A malária é uma infecção parasitária que invade os glóbulos vermelhos do sangue. É uma doença evitável, detectável e tratável, que se apresenta mais comumente em áreas pobres e desfavorecidas.

A doença é causada por parasitas do género Plasmodium dos quais há quatro espécies principais: Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae, Plasmodium vivax e Plasmodium ovale. O P. falciparum é a principal causa da malária clínica grave e de mortes. Estima-se que metade da população mundial esteja em risco de se infectar com o parasita.

O parasita é transmitido através da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectado. Esses mosquitos geralmente picam entre o anoitecer e o amanhecer.

Uma vez que o mosquito infectado pica o humano, os parasitas viajam até o fígado, onde se multiplicam e entram nas células vermelhas do sangue. Dentro dessas células, os parasitas multiplicam-se rapidamente até elas se romperem, liberando ainda mais parasitas na corrente sanguínea e manifestando, nesse processo, os sintomas típicos da doença.

A malária começa como a gripe, com os primeiros sintomas surgindo entre nove e 14 dias após a infecção. Os sintomas incluem febre (podem ocorrer ciclos típicos de febre, calafrios e suor em grande quantidade), dor nas articulações, dores de cabeça, vómitos frequentes, convulsões e coma.

Se a malária simples não for tratada, ela pode tornar-se grave – anualmente, cerca de oito milhões de casos de malária progridem para o tipo grave da doença. Mortes por malária podem ocorrer devido a danos cerebrais (malária cerebral) ou danos nos órgãos vitais. A redução das células vermelhas no sangue pode causar anemia.

O diagnóstico da malária é feito rapidamente por meio do teste da tira reagente ou por meio da observação do parasita em microscópio numa amostra de sangue. Entretanto, testes rápidos nem sempre estão disponíveis, microscópios não são sempre efectivos e, por isso, diagnósticos baseados em sintomas ainda são comuns em grande parte do mundo em desenvolvimento.

Isso significa que os pacientes são frequentemente diagnosticados de forma errónea e as verdadeiras causas dos seus sintomas permanecem sem tratamento. Isso também indica que medicamentos antimaláricos são utilizados em excesso em alguns casos e desperdiçados quando extremamente necessários.

O tratamento mais eficiente para malária é uma terapia combinada à base de artemisinina (ACTs, em inglês). A terapia tem baixo nível de toxicidade, poucos efeitos colaterais e age rapidamente contra o parasita.

Hoje, 41 países africanos alteraram oficialmente seus protocolos para tratar a malária de primeira linha com ACTs. Mas, em muitos países, a quantidade de ACTs disponíveis é escassa. Por exemplo, segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2015, estima-se que apenas 13% das crianças na África subsaariana que apresentaram febre tenham recebido um ACT.

O controlo vectorial é a principal estratégia para reduzir a transmissão da malária. Se a cobertura da estratégia for alta, a protecção pode ser garantida para as comunidades. A Organização Mundial da Saúde recomenda dois tipos de controlo efectivos: mosquiteiros tratados com insecticida e borrifamento residual intra-domiciliar.

Farmacêuticos prometem guerra à doença

A Novartis (grupo farmacêutico suíço criado em 1996) renova o seu compromisso com a erradicação da malária, investindo 100 milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos antimaláricos de nova geração ao longo dos próximos cinco anos.

O compromisso inclui aumentar o acesso a medicamentos antimaláricos pediátricos e implementar programas para contribuir para o objectivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), de reduzir a mortalidade infantil relacionada com a malária em, pelo menos, 90% até 2030.

Novos estudos realizados em África mostram que as metas de erradicação da malária até 2030 estão em risco, e os líderes do continente necessitam de investimento urgente em formas inovadoras de prevenção da doença e de novas ferramentas de tratamento.

A Novartis anuncia um compromisso de cinco anos na luta contra a malária, juntamente com a 7ª Conferência da Iniciativa Multilateral sobre a Malária e a Cimeira sobre a Malária da Reunião de Chefes de Estado da Commonwealth. Durante o evento, a companhia apresentou novas pesquisas que estão em curso em África e as acções que está a desenvolver, com o objectivo de atingir a meta de eliminação da malária em 2030, juntamente com os programas Elimination 8 e KEMRI-Wellcome Trust.

Ao longo dos próximos cinco anos, como parte do seu compromisso, a Novartis irá investir mais de 100 milhões de dólares para impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de tratamentos de nova geração para combater a resistência à artemisinina e a outros medicamentos antimaláricos utilizados actualmente.

A empresa também irá implementar uma estratégia de preços igualitários a estes novos tratamentos quando estiverem disponíveis, com o objectivo de maximizar o acesso ao medicamento, em países onde a malária afecta significativamente a população.

De modo a contribuir com o objectivo da OMS de redução da mortalidade infantil relacionada com a malária em, pelo menos, 90% até 2030, a Novartis irá facilitar o acesso a fármacos antimaláricos pediátricos e implementar programas de reforço do sistema de saúde em 4 países subsaarianos.

“A resistência ao tratamento apresenta a maior ameaça ao progresso que foi alcançado na luta contra a malária, nos últimos 20 anos. É por isso que nos comprometemos a investir em pesquisa e o desenvolvimento de tratamentos de nova geração”, disse Vas Narasimhan, CEO da Novartis, acrescentando: “Ao mesmo tempo temos de trabalhar para garantir que a nossa inovação chegue a quem mais precisa, mesmo aos doentes que se encontram nos locais mais remotos”.

O investimento em pesquisa e desenvolvimento tem como objectivo impulsionar o portfólio da Novartis para a malária até 2023 e concluir um programa global de ensaios clínicos para dois novos medicamentos antimaláricos. Ambos pertencem a novas classes de medicamentos que foram seleccionados pela sua capacidade de tratamento da malária de formas diferentes das terapias actuais. O investimento também inclui novas utilizações da tecnologia para identificar áreas mais afectadas pela malária, sendo que esta informação poderia então ser utilizada para apoiar futuros centros de ensaios clínicos, de modo a que os medicamentos possam ser avaliados em populações que mais precisam.

Para que doentes que vivem em países onde a malária é endémica possam pagar estes novos tratamentos a empresa irá também implementar uma estratégia de preços igualitários. baseada nas condições socioeconómicas dos diferentes segmentos de cada região. A análise das condições de cada local será realizada com a ajuda de parceiros de desenvolvimento e financiamento e outras partes interessadas.

Apesar do incrível progresso feito no combate à malária, ainda morre uma criança a cada dois minutos devido a esta doença. Na Nigéria, na República Democrática do Congo e, em pelo menos, mais dois países da África Subsaariana, que apresentam o número mais elevado de mortalidade infantil relacionada com a malária, a Novartis pretende trabalhar com parceiros para ajudar a aumentar o acesso à terapia pediátrica de combinação com artemisinina (ACT) e à realização de iniciativas integradas de gestão de casos comunitários (iCCM). A iCCM é reconhecida como uma estratégia-chave para aumentar o acesso a tratamentos essenciais e para a redução da mortalidade infantil devida a doenças tratáveis, como a malária, a pneumonia e a diarreia.

A Novartis está comprometida na luta contra a malária há mais de duas décadas. A primeira dose fixa de ACT foi lançada em 1999 e o primeiro ACT dispersivo desenvolvido em parceria com a Medicines for Malaria Venture (MMV), em 2009. Até hoje, trabalhando com outros parceiros, a empresa proporcionou mais de 850 milhões de tratamentos, incluindo 350 milhões de tratamentos pediátricos, sem lucro a países onde a malária é endémica.

O novo compromisso é lançado simultaneamente com os resultados de um novo estudo de investigação (Malaria Futures for Africa, MalaFA) realizado em 14 países da África Subsaariana. No total, 68 especialistas governamentais africanos, a comunidade científica e organizações não-governamentais expressaram os seus pontos de vista sobre o progresso e os desafios, sempre com o objectivo de cumprir as metas globais de eliminação da malária, até 2030.

As mortes relacionadas com a malária diminuíram mais de 60% entre os anos 2000 e 2015. No entanto, há o receio de que este progresso possa retroceder. A não ser que os governos nacionais proporcionem mais fundos e que as organizações internacionais apliquem o seu apoio de forma mais efectiva.

Muitos especialistas também demonstraram os seus receios sobre o fato de os mosquitos estarem cada vez mais resistentes a insecticidas. Além disso também há o medo de os parasitas da malária poderem tornar-se resistentes aos ACT, nos próximos 15 a 20 anos. Alguns temem que a resistência se dissemine rapidamente devido à expansão do comércio e às viagens entre a África e a Ásia, onde os primeiros sinais de resistência ao fármaco começam a surgir. Outros pensam que também é provável que a resistência surja de forma independente em África.

O público pesquisado expressou apoio generalizado a uma melhor utilização das ferramentas actualmente disponíveis, destacando que deve haver ênfase à melhoria da utilização das intervenções já existentes e das novas para combater a malária – uma área actualmente subfinanciada.

O estudo MalaFA foi encomendado pela Novartis e co-orientado por Richard Kamwi do programa KEMRI-Wellcome Trust, Quénia e Universidade de Oxford, Reino Unido. Os conselheiros de investigação incluem Roll Black Malaria, Malaria No More UK e a Aliança de Líderes Africanos contra a Malária.

De acordo com o Relatório Mundial sobre Malária 2017, houve 216 milhões de casos de malária em 2016, comparativamente aos 211 milhões de casos em 2015. O número de mortes por malária foi de 445 mil em 2016 e de 438 mil em 2015. 90% dos casos de malária e mais de 90% das mortes por malária ocorrem na África Subsaariana. As crianças com menos de 5 anos estão particularmente em risco e a malária tira a vida a uma criança a cada dois minutos.

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