15 livros fazem a diferença
– É “chato” sermos… pobres!

Estudantes da Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Angola manifestaram-se hoje preocupados com a falta de infra-estruturas adequadas para o curso e a inexistência de estágios internos, recebendo (sem nada pagar em troca, recorde-se) garantias do Governo de que vai tomar “medidas práticas”.

As preocupações foram apresentadas hoje às ministras angolanas do Turismo, Ângela Bragança, e do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Sambo, durante uma visita que fizeram às instalações da instituição em Kilamba, arredores de Luanda.

Segundo os estudantes, em cinco anos, a qualidade das infra-estruturas da instituição, vocacionada para a formação de especialistas do sector da hotelaria e turismo, “são impróprias para a respectiva formação e os estágios não existem”, sublinhando ainda que o estabelecimento necessita de um “hotel-escola”.

A ministra do Turismo manifestou-se solidária (claro, claro) com os estudantes de hotelaria e turismo, garantindo que irá criar mecanismos, em conjunto com o Ministério do Ensino Superior, para melhorar e acudir às preocupações apresentadas.

“Tal como podemos constatar por intermédio da interacção com os estudantes, há dificuldades nas infra-estruturas. São precisas condições para a realização do trabalho prático e laboratórios onde os estudantes possam ter contacto com as acções práticas”, disse Ângela Bragança, salientando ainda a inexistência de uma biblioteca.

Essa de os estudantes precisaram de “condições para a realização do trabalho prático” onde “possam ter contacto com as acções práticas” é brilhante. Ainda bem que a ministra percebeu.

“Há ainda uma acção em torno do estudo dos currículos, uma acção que deverá igualmente ser conjunta, de modo a que as duas valências, quer a da formação básica quer a da hotelaria e turismo, sejam devidamente equacionadas”, acrescentou.

Já a ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Sambo, considerou “legítimas” as preocupações dos estudantes, tendo apontado “medidas práticas” para inverter a situação.

“As medidas práticas para inverter esta situação são precisamente aquelas que têm a ver com a criação de maiores oportunidades de estágios, como locais privilegiados para que a formação desses estudantes não seja meramente teórica”, adiantou.

“Todas as unidades que existem e que estão ligadas ao turismo no seu todo, e desde que a Universidade Agostinho Neto (UAN) apresente propostas, no quadro da sua autonomia, devem criar condições para que a formação dos estudantes possa ser melhorada”, assegurou.

Para responder às preocupações dos estudantes, a reitora em exercício da UAN, Antonieta Baptista, prometeu apoiar os alunos com 15 livros sobre gestão de turismo, bem como instalar naquele estabelecimento uma biblioteca virtual. Quinze livros. A UAN não se poupa a esforços. É que não são dois ou três, são um montão deles: 15!

“Estive já a concertar com a direcção e vamos tentar conseguir, pelo menos, o software de apoio aos laboratórios virtuais. Também vamos ajudar a direcção da instituição a conseguir alguns contratos, ainda que a nível não muito alto, de estágios nalgumas unidades”, apontou.

Turismo de pólvora… seca

O ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social angolano defendeu no dia 19 de Dezembro de 2017 a criação de parcerias internacionais, antecedida de medidas que vão facilitar o processo, como a simplificação na emissão de vistos, para a atracção de mais turistas.

Como se vê, dá Deus ginguba a quem não tem dentes. Mais um arsenal de pólvora seca descoberto pelos peritos escolhidos por José Eduardo dos Santos. Perdão, por João Lourenço…

Manuel Nunes Júnior fez nesse dia a abertura da 1ª reunião ordinária da Comissão Multissectorial da Hotelaria e Turismo, na qual participaram os titulares das pastas da Cultura, Ambiente, Juventude e Desportos, Agricultura, Interior, Finanças, Relações Exteriores, Saúde, Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Comércio, Comunicação Social, Transportes e Energia e Águas.

O governante referiu ainda que a necessidade de se proceder ao mapeamento, cadastramento e organização dos recursos turísticos existentes em Angola, bem como segmentar os mercados emissores de turistas e categorizar os produtos turísticos angolanos.

Para Manuel Nunes Júnior, deve dar-se continuidade aos projectos de implementação dos polos turísticos de Cabo Ledo e Calandula e elaborar uma estratégia de promoção internacional do projecto KAZA Okavango-Zambeze.

Nesse sentido, ao Estado cabe a tarefa de criar condições institucionais, macroeconómicas e de segurança, para que a indústria turística arranque, contando para o efeito com o apoio do sector privado, associações de especialidade e operadores turísticos.

Segundo o ministro de Estado, é importante que a comissão multissectorial se reúna com a periodicidade desejada e que trace um programa concreto de atracção de turistas para o país, para que o seu número acompanhe os investimentos que forem sendo feitos no sector.

“Este é o desafio que lanço ao concluir esta minha intervenção, esperando resultados que indiciem um firme compromisso com a arrecadação de receitas e criação de empregos e cada vez maior mobilização do investimento privado nacional e estrangeiro para o sector turístico”, considerou.

Curiosidades da… pólvora

Recorde-se que o Governo anterior, do qual João Lourenço foi ministro da Defesa, garantira que iria “aligeirar” a concessão de vistos de turismo e com isso captar receitas, tendo para o efeito criado um grupo de trabalho que apresentou, ainda em 2016, propostas ao Presidente da República.

A informação constava de um despacho presidencial que criou este grupo de trabalho “para aligeirar o sistema de atribuição de vistos para turismo”, coordenado pelo ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares, e que integrava, entre outros, os directores dos serviços de Inteligência Externa, de Inteligência e Segurança do Estado e de Migração e Estrangeiros.

A dificuldade e burocracia envolvendo a concessão de vistos para entrada em Angola, nomeadamente com turistas a necessitarem de documentos de chamada para poderem entrar no país, era uma das principais críticas de empresários e de responsáveis do sector, em específico.

Aquele despacho presidencial reconhecia a “necessidade de melhorar e agilizar o sistema de atribuição de vistos de turismo”, para que os destinos turísticos angolanos “fiquem à disposição dos turistas nacionais e internacionais”.

Admitia também a “existência de alguns factores que devem ser removidos para que os programas sejam concretizados”, especialmente “no âmbito da captação de receitas, que é um dos objectivos do Plano Operativo do Turismo, como estratégia para saída da crise e diversificação da economia” angolana, face à quebra nas receitas do petróleo.

O grupo integrava ainda, entre outros elementos, os ministros das Relações Exteriores e da Hotelaria e Turismo, e tinha como atribuições a realização de “um estudo sobre o sistema de vistos de outros países que dominam o turismo” e “criar um sistema de concessão de vistos de turismo em Angola, que permita aligeirar o processo actual, com base na legislação em vigor”.

O sector do Turismo em Angola empregava em 2015 cerca de 192.000 trabalhadores, representando então mais de 530 mil visitas anuais.

Numa estratégia de diversificação da economia, que continua dependente das exportações de petróleo, e das suas receitas, a meta do executivo angolano da altura passava por atingir um milhão de trabalhadores e 4,7 milhões de turistas (acumulado) até 2020.

Angola conta actualmente com cerca de 180 unidades hoteleiras de várias dimensões, totalizando à volta de 8.000 camas, segundo dados do Governo.

Folha 8 com Lusa

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