ANGOLA. A TAP já investiu em mais dívida pública angolana, indexada ao dólar, para se precaver de novas desvalorizações do kwanza, face às dificuldades em repatriar dividendos bloqueados em Angola, disse hoje o presidente da companhia aérea portuguesa.
“Sim, investimos mais”, afirmou Fernando Pinto, num encontro com jornalistas, sem quantificar o investimento e quando questionado sobre se, mantendo-se a situação em Angola, a companhia tem continuado a adquirir mais dívida daquele país.
“Existem dificuldades, todos sabemos. De qualquer forma, continuamos a falar com o Governo (…). A situação não pode continuar assim, temos sentido sensibilidade do Governo angolano e tenho a certeza de que vamos chegar a bom porto”, acrescentou.
No relatório e contas de 2016 da TAP, a companhia aérea portuguesa reconhece as dificuldades no repatriamento de depósitos em moeda nacional angolana, provenientes das operações em Luanda, para onde voa diariamente.
A transportadora refere que as vendas para Angola caíram cerca de 20% em 2016, face ao ano anterior, situação “acompanhada de uma redução da oferta de voos muito significativa”.
Além disso, a empresa portuguesa, que em Luanda deixou de aceitar moeda nacional angolana para pagar viagens com início fora daquele país africano, identifica que teve de “mitigar problemas relacionados com a acumulação de valores pendentes de autorização de transferência para Portugal”.
“Mais de metade dos valores depositados em Angola, em final de 2016, estavam salvaguardados de novas desvalorizações cambiais, como a que sucedeu em Janeiro de 2016, visto ter sido utilizada uma parte dos depósitos em kwanzas para a aquisição de obrigações do tesouro angolano indexadas ao valor do dólar”, refere a companhia.
Em concreto, a TAP afirma ter subscrito, no decorrer do exercício de 2016 e utilizando mais de metade dos depósitos que tinha então retidos nos bancos angolanos, Obrigações do Tesouro de Angola no montante total de 6.899 milhões de kwanzas, no valor de 39,6 milhões de euros, “correspondentes à taxa de câmbio original de 165,074 kwanzas por dólar”.
Estas obrigações têm como data de maturidade 6 de Dezembro de 2018 e encontram-se indexadas ao valor do dólar, não sujeitas por isso a eventuais novas desvalorizações do kwanza.
Além destes títulos, a TAP fechou o ano de 2016 com depósitos bancários em Angola no montante de 35,9 milhões de euros, os quais não consegue repatriar.
Somando depósitos e títulos soberanos angolanos, a TAP tinha em Angola, retidos, sem conseguir repatriar, em 31 de Dezembro de 2016, cerca de 75,5 milhões de euros.