Fazer muito em pouco tempo é diferente de pouco em muito

O cidadão comum pretende colocar na linha da frente os políticos que, ascendendo ao poder, cumprem com as promessas eleitorais que os catapultaram, transformando-se em verdadeiros servidores públicos, adoptando uma gestão pública cidadã, debitando respeito para com os povos e consolidando as liberdades, a competência, a unidade e a democracia.

Por William Tonet

Estes homens descomprometidos com as excentricidades monetárias, que consideram sagrado os cofres do erário público, exigindo rigor nas contas e na sua aplicação financeira, em benefício das populações, principalmente, as mais carenciadas, perduram na memória colectiva, para além dos mandatos…

Infelizmente, destes líderes o mundo está carente, parecem uma espécie em vias de extinção, de Angola já nem se fala, poucos (dois apenas), na condução do Estado deixarão real saudade e um legado, capaz de atravessar as próprias fronteiras.

O problema de líderes egocentristas é o de confundirem a mediocridade, por força da bajulação, com meritocracia ou carisma de liderança.

Afastados da realidade do dia-a-dia, do pulsar e gemer dos povos que dirigem, institucionalizam a boçalidade como divisa do Governo. Esta alergia à competência, sanciona-a, através de órgãos de repressão (SIC, Polícia Nacional do MPLA, FAA, Defesa Civil, etc.) ou da Constituição e leis (com ajuda dos tribunais e juízes, eles também na senda do regime autocrático), todos quantos, acreditando, ingenuamente, na cidadania ousem pensar diferente e pela própria cabeça.

É uma mera ilusão óptica acreditar na evolução da boçalidade ou bestialidade de fascistas e ditadores, qualquer que seja a marca ou proveniência ideológica. Eles não conseguem passar da cepa torta, salvo para o aumento da discriminação, da repressão, dos assassinatos e restrição das liberdades: de imprensa; de expressão; de reunião e manifestação, entre outras, desígnio dos Estados de Direito e Democrático.

Sendo a esperança a última a morrer, muitos sentem-se, no meio de tanta descrença, aliviados, quando escutam, em pleno século XXI, um diagnóstico sábio, feito por um homem franzino, sem exército privado, sem controlo unipessoal dos poderes: legislativo, executivo e judicial, sem o domínio e partidarização das Forças Armadas, dos órgãos de Segurança e da Polícia, com uma linguagem de identidade cidadã.

Um homem, cuja simplicidade o catapultou ao poder e, lá chegado, assumiu o compromisso de servir e gerir o bem público, com ética, com responsabilidade e com elevado sentido de dever, afastado do nepotismo e peculato.

Este homem, que no dia 20 de Janeiro abandonou, depois de 8 anos a Presidência da nação mais poderosa do mundo: os Estados Unidos da América, é Barack Obama, que a dado momento da sua governação disse: “ livre-se dos bajuladores. Mantenha por perto pessoas que te avisem quando você erra”. Esta máxima fez dele um gigante, catalisador de solidariedades várias, baseado numa governação responsável, suprapartidária e transparente, assente na competência das pessoas e no rigor da gestão da coisa pública.

Este homem, na sua humildade fez-se sábio e não precisou de 30 ou 40 anos de poder para ganhar, sem coro e corredores de bajuladores, o Prémio Nobel da Paz. Obama abandonou o poder na Casa Branca, com a popularidade em alta, muito por não ter transformado a mulher em milionária, tão pouco as filhas em bilionárias ou no controlo das reservas petrolíferas do país. Elas têm, como os demais cidadãos americanos de lutar com as mesmas oportunidades, para um lugar na função pública ou na abertura de uma empresa.

É isso que o torna diferente, deixando saudades nos seus compatriotas, inclusive nos de outros partidos, que nele nunca votaram, mas não estão imunes ao reconhecimento das suas realizações públicas, simplicidade e grandeza interior, que o levou a caminhar a pé, entre eles, na compra de um hamburguer ou degustação de um sushi.

Outro homem que deixa também saudades, e muitas, muitas, nascido no sul de África, verdadeiramente comprometido com o povo, apesar de 27 anos, enclausurado, pelos próprios “irmãos brancos”, que foi capaz de transformar a dor num grito de alegria, capaz de cicatrizar as feridas de uma opressão abjecta e desumana, carimbada como apartheid.

Um homem que estendeu a mão ao inimigo de ontem, colocando-o no pedestal de adversário de hoje, para juntos, num interesse maior, uma vez o passado não recuar, inaugurarem juntos, o caminho da LIBERDADE, para a grande realização do país.

Na mais alta magistratura de homem visionário, Nelson Madiba Mandela, o último grande líder do século XX, viu que havia os analfabetos e os analfabetos funcionais nas duas trincheiras que se antagonizaram durante tantos anos de apartheid: brancos e pretos, quando apelou a que as novas luzes iluminassem de igual forma, as letras em todas as linhas, mesmo as tortas, com o instinto de escreverem, sempre as palavras, irmandade, conciliação, reconciliação, liberdade, democracia e não a discriminação e o racismo, em prol de uma nova nação.

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito e inspirar esperança onde há desespero”.

Para desgraça colectiva, com a ausência de um sério e responsável comprometimento, em políticas de educação cidadã, não é possível alcançar o sonho de Mandela, que deixou um grande legado, reflectido no rio de lágrimas que rasgou todas as margens da nação sul-africana, na sua partida, para junto de Deus Pai.

Os angolanos sentem-se, 41 anos depois uma miopia dos seus dirigentes, preocupados numa eterna exploração e opressão, alicerçada, também, no analfabetismo, dos povos, para melhor serem iludidos. Os outros dois presidentes deixaram um legado, que rasga todas as lianas mentais dos respectivos países, Dos Santos deixará esqueletos putrefactos de um “projecto-país” que não conseguiu implantar, por ganância e discriminatória cegueira intelectual.

Deixa, em frangalhos, até mesmo, a república do MPLA, com uma economia dilacerada pelos altos índices de corrupção, mortalidade infantil, tribunais e juízes partidocratas e dependentes, com a maioria dos autóctones a viver pior que no tempo colonial, sem auto-suficiência alimentar, com impossibilidade de poderem ter carro próprio, como motor da diversificação da economia, face a uma lei estúpida de proibição de importação de viaturas com mais de três anos (inexistente nos países fabricantes, como Estados Unidos, Inglaterra, França, Espanha, etc.) e com as epidemias e endemias em alta, a educação deficitária e ruim, onde os alunos não sabem os conceitos básicos, superando todos os gráficos deixados pelo colonialismo português.

Nesta hora de partida, compete, não a mim, mas à longa corte bajuladora de José Eduardo dos Santos, com realismo, reflectir sobre o legado que este deixará, para além da opressão, das leis anti-democráticas, como a da comunicação social, da discriminação, do nepotismo e da institucionalização da roubalheira do erário público, através dos seus ministros, generais, membros governamentais de todos os níveis, filhos, familiares, etc., transformados em comerciantes vorazes, que roubam no país, para investir no exterior, com assessoria mercenária estrangeira.

José Eduardo dos Santos, não deixa um símbolo nacional capaz de ser abraçado e preservado por todos, desde a moeda, ao bilhete de identidade, da bandeira ao hino nacional, das Forças Armadas, a Polícia Nacional, da segurança do Estado, ao país, nada espelha uma outra imagem que não a do culto de personalidade, que o entronizará como ditador, pois nunca foi capaz de organizar, ao longo de 37 anos de poder (nunca foi nominalmente eleito), eleições livres, justas e transparentes. Todas foram assentes na fraude, na lógica da batata, da lei da batota.

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