Cobardia é cobardia
seja qual for o chefe

Ao que parece, os ortodoxos do MPLA – superiormente dirigidos por José Eduardo dos Santos – não conseguem deixar a todos nós angolanos algo mais do que a pura expressão da cobardia que, entre outras coisas, faz com que milhões de angolanos tenham pouco ou nada, e poucos tenham muitos milhões. Além disso, a esperança que João Lourenço nos mostrou parece esfumar-se na troca de acólitos. A cobardia terá apenas mudado de chefe?

Por Orlando Castro

Talvez esses génios, os de ontem e os de hoje, os de hoje que eram os de ontem, quase todos paridos nas latrinas dessa cobardia, pensem que não é necessário dar corpo e alma à angolanidade. É por isso que alimentam o ódio e a discórdia, o racismo, não reconhecendo que a liberdade deles termina onde começa a dos outros. Não aceitando que a competência não é um exclusivo do MPLA, os exemplos de João Lourenço começam a entrar na esfera de mais do mesmo, de alterar as moscas para que o resto seja o mesmo.

Porque não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, permitimo-nos a ousadia (que esperamos – com alguma ingenuidade, é certo – compartilhada por todos os que responderam a esta chamada) de tentar o impossível já que – reconheçamos – o possível fazemos nós todos os dias.

Como jornalistas, como angolanos, como seres humanos, nós cá no Folha 8 entendemos que a situação no nosso país ultrapassa todos os limites, em nada preocupando de facto os que, estando no poder há 42 anos, nada fazem para acabar com a morte viva de um povo que morre mesmo antes de nascer.

E morre todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos. E morre enquanto José Eduardo dos Santos, João Lourenço e o respectivo séquito de bajuladores cantam e riem. E morre enquanto outros, nos areópagos do pode em Luanda, comem lagosta. E morre enquanto outros, cerca de 20 milhões, mal sabem o que é comer.

É que, quer o MPLA queira ou não, quer João Lourenço queira ou não, como na guerra, a vitória eleitoral (como qualquer outra) é uma ilusão quando o povo morre à fome. E o nosso Povo morre de barriga vazia. Tal como está a Angola profunda, a Angola real, ninguém sairá vencedor. Todos perdem. Todos perdemos.

Cremos, aliás, que o próprio ex-Presidente José Eduardo dos Santos teve, de vez em quando, consciência de que a sua ditadura não foi uma solução para o problema angolano, sendo antes um problema para a solução. O mesmo se passa, agora, com o afã exacerbado de João Lourenço que resolveu exonerar quase todos e quase tudo, esquecendo-se de exonerar o essencial: a fome, as doenças, a mortalidade.

Cremos que é, ou pode ser, pequeno o passo que é preciso dar para que os angolanos, irmãos com muito sangue derramado, se entendam para ajudar Angola a ser um país onde os angolanos sejam todos iguais e não, como agora acontece, uns mais iguais do que outros.

Se nos entendemos para que Angola deixasse de ser uma gigantesca vala comum, não será difícil entender que a força da razão pode e deve substituir a razão da força. José Eduardo dos Santos não o entendeu durante 38 anos. João Lourenço disse que entendeu mas, até agora, só conseguiu substituir as raposas que estavam a tomar conta do galinheiro por outras… raposas.

Durante demasiados anos de guerra, os angolanos mataram-se uns aos outros. Acabada essa fase, os angolanos continuam a matar-se uns aos outros. Não directamente pela força das armas, mas pelo poder que as armas dão aos que querem subjugar os seus irmãos que consideram de espécie inferior.

Mais do que julgar e incriminar importa, nesta altura, parar. Parar definitivamente. Não se trata de fazer um intervalo para, no meio de palavras simpáticas e conciliadoras, ganhar tempo continuar o processo de esclavagismo, ganhar tempo para formar novos milionários, ganhar tempo para sabotar eleições, ganhar tempo para continuar a enganar o Povo.

Convém, por isso, que a democracia, a igualdade de oportunidades, a justiça, a liberdade e o Estado de Direito cheguem antes de morrer o último angolano. Esperamos que disso se convença João Lourenço, um angolano que certamente não se orgulha de ser presidente de um país onde os angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome.

Ou será que se orgulha?

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