Estatísticas eufemísticas do re(i)gime ditatorial

Foram publicadas, recentemente, estatísticas sobre a mortalidade infantil, efectuadas pelo governo do re(i)gime angolano. Os dados são tão brilhantes e cintilantes que quase nos querem convencer de que o governo de José Eduardo dos Santos foi capaz de ressuscitar os muitos milhões de mães e crianças pobres abandonadas que morreram durante os seus 37 anos como ditador.

Por Veríssimo Kambiote

Esta divulgação de resultados trouxe-nos à memória um acontecimento cómico, a propaganda de um sindicato comunista acerca da adesão a uma greve que convocou e teve fraca adesão por parte dos trabalhadores. Os sindicalistas andaram em povoações do concelho de um país europeu, num carro com um altifalante, transmitindo música “revolucionária” e anunciando os resultados da participação na greve: a empresa de fabrico de agulhas para máquinas de costura teve uma adesão de 115%, a empresa de fabrico de medicamentos teve uma adesão à greve de 157%, a empresa de fabrico de candeeiros teve uma adesão à greve de 126%…

Nós, que também estudámos estatística na universidade, queremos lembrar o governo do MPLA de que a colheita de dados para efeitos estatísticos não deve ser selectiva, na tentativa de suportar sofismas pré-concebidos. Nesta avaliação todos os elementos devem contar para o resultado final, no sentido de melhorar a qualidade de serviços prestados às populações. É por isso que dizemos que as estatísticas publicadas pelo MPLA são uma mentira muito infantil, matumba e sanzaleira.

Ainda há muito pouco tempo (meses) o chefe dos Kapangas do re(i)gime dizia que mais de metade da população de Angola não beneficiava de qualquer tipo de assistência médica. Ainda há poucas semanas os órgãos oficiais de propaganda e informação anunciavam que muitas pessoas em Angola não tinham acessos rodoviários a centros urbanos ou semiurbanos. Ainda há pouquíssimo tempo os órgãos oficiais de propaganda do re(i)gime diziam que para o recenseamento eleitoral os prestadores de serviços tiveram necessidade de se deslocarem de helicóptero, por não haver outro meio de transporte para permitir o acesso aos vários povoados mais remotos.

Mais. Ainda há pouco tempo a televisão portuguesa SIC e o Nicholas Kristof do New York Times mostraram a vergonha dos hospitais de Angola, sem medicamentos e os medicamentos oferecidos pela caridade internacional, para tratarem os pobres, a serem comercializados à porta dos hospitais. Há alguns meses um “jornalista” do Jornal de Angola dizia que no Hospital de Icolo e Bengo não havia medicamentos para tratar os doentes e estes melhoravam (os que não morriam) e tinham alta hospitalar devido só ao carinho e simpatia dos enfermeiros…

Tudo isto vem demonstrar que as estatísticas publicitadas sobre a mortalidade infantil em Angola são uma enorme falácia. Se os serviços de saúde estivessem incluídos no Orçamento Militar talvez acreditássemos que Angola tivesse registado alguma melhoria com um decréscimo significativo na mortalidade infantil.

A guerra contra as epidemias ainda é feita com paus, catanas, fisgas, canhangulos e o recurso à feitiçaria. Os cidadãos angolanos residentes nos musseques e nas regiões não servidas por redes viárias não têm helicópteros para se deslocarem aos hospitais de Luanda e de outros centros urbanos, onde faltam os medicamentos e o material de higiene, onde o Kagamba e a Tchulé se destacam, através da publicidade difundida pelos órgãos oficiais de informação do re(i)gime, por fazerem caridade oferecendo luvas e máscaras de protecção contra infecções.

O Rei Zé, a continuar assim, vai à falência na tentativa de vender banha de jacaré, consumida por cá apenas pelos mais fanáticos militantes do MPLA.

Há quem considere que o Auguste Comte foi o fundador das Ciências Sociais. José Eduardo dos Santos é, de certeza, o fundador e gestor das Ciências Boçais.

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