O jornal português Expresso, na sua edição de ontem, num artigo assinado pelo correspondente em Luanda, Gustavo Costa, dizia que, “abandonado pelo presidente”, Manuel Vicente “está sob o fogo cruzado de acusações veladas que visam transformá-lo no bode expiatório da crise financeira de Angola”.
Recordemos um nosso exclusivo, aqui publicado no dia 25 de Maio de 2016, sob o título: “Manuel Vicente pede demissão”:
O vice-presidente da República de Angola, Manuel Vicente, também, conhecido como “Mr. Petróleo”, endereçou uma carta ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos solicitando a sua demissão do cargo.
Recorde-se que a ascensão deste alto quadro do regime se deveu a uma aposta pessoal do presidente da República, contra a maioria do seu próprio partido, o MPLA, que nunca considerou o ex-homem forte da Sonangol um militante identificado, com a causa ideológica.
Uma fonte segura do Folha 8, do Palácio Presidencial, confirmou ter Manuel Vicente apresentado a carta de demissão, com “carácter irrevogável”, bem como a firme disposição de não mais concorrer “na lista do partido, às eleições de 2017”, o que pode significar, prescindir, também, de integrar as listas de delegado ao próximo congresso do MPLA.
Esta posição deve-se ao alegado esvaziamento das funções e protagonismo que augurava ter, após a nomeação como número dois da República. “Ele não resistiu às intrigas palacianas, facilmente consumidas pelo grande chefe e, quando menos esperava Dos Santos tirou-lhe o tapete”, disse a fonte de F8. Foi grande a decepção de Manuel Vicente, uma vez ter sido ele, enquanto PCA da Sonangol, o grande responsável pelo enriquecimento ilícito dos filhos, familiares e assessores directos do Presidente da República”.
Recorde-se que o pequeno restaurante Miami, situado na ilha de Luanda, não foi criado por Isabel dos Santos, como ela propala, mas por um jovem hoteleiro, que a convidara para a sociedade. Mas, a grande serventia de Manuel Vicente, para o enriquecimento ilícito, com base em fundos públicos da primogénita de José Eduardo dos Santos, verificou-se aquando da criação da UNITEL onde, para além deste ter colocado à disposição a Mercury, empresa de telecomunicações da Sonangol, entrou com o capital requerido para a empreitada das operações da novel operadora, em nome de Isabel.
Igualmente, o capital com que Tchizé e Coreon Dú dos Santos (filhos do Presidente da República), entraram como accionistas no banco BNI, com Mário Palhares e na Semba Comunicações, que recebeu sem concurso público dois canais da TPA, televisão pública, nomeadamente o Canal 2 e o Internacional, saiu do saco azul da Sonangol, tal como o dinheiro para a criação do banco Quantum (actual Kwanza) de Zenú dos Santos (igualmente filho de Eduardo dos Santos).
Irmãos e outros altos dirigentes, como Toninho Van-dúnen (ex-secretário do Conselho de Ministros), Carlos Feijó (ex-chefe da Casa Civil do Presidente da Repúbica, cujo escritório de advogados tem uma avença de serviços/mês de cerca de 350 mil dólares), general Dino (das Comunicações do PR), Manuel Hélder Vieira Dias Kopelipa (chefe da Casa de Segurança do PR) e companhia, todos se tornaram bilionários e milionários com dinheiro oriundo dos cofres da empresa pública de petróleos, a Sonangol, à época em que Manuel Vicente era o presidente do Conselho de Administração.
“Este enriquecimento dos filhos do camarada presidente, constituíram uma forte relação de cumplicidade entre ambos, retribuídos com a sua indicação para número dois, na lista do MPLA e vice presidente da República, em 2012”, garantiu ao F8, um dirigente do partido no poder.
Apesar da contestação que tinha a nível dos “camaradas”, Manuel Vicente subiu ao poder entusiasmado de poder ajudar o sonho megalómano de Dos Santos fazer de Angola uma réplica de Singapura.
“Ele tinha muitas ideias, projectos e pensava implementar programas económicos e sociais, tendo em conta as relações internacionais criadas, quando esteve à frente da Sonangol. Mas a máquina do sistema eduardista, enciumada, não deixou que isso se materializasse”, asseverou a fonte.
Nos últimos tempos a cabeça de Manuel Vicente tem sido pedida, em surdina, nos círculos do partido no poder, que o responsabilizam pelo descalabro da implantação de projectos económico sociais, com o apoio da Sonangol, durante a sua gestão.
Estas vozes partidárias defendem que poderiam ser melhor implantados os projectos da ZEE (Zona Económica Especial e das centralidades imobiliárias), que na realidade, só por razões e cegueira política podem ser adjudicadas a uma empresa de petróleos, com um objecto específico.
É face a esta “intrigalhada” que o homem pretende dar um basta e sair do palco, para não ser degolado, quando menos esperar.
No entanto Eduardo dos Santos face às repercussões que tal decisão poderia causar, nesta altura, com o cinismo que lhe é peculiar, rejeitou o pedido, solicitando que o mesmo, pondere da pretensão, uma vez contar com ele, para a empreitada eleitoral de 2017.
Mas isso não impede que a sua cabeça continue a estar na borda da guilhotina, bastando ver a humilhação presidencial, com a indicação da sua filha para reestruturar a Sonangol, com uma avença milionária, avaliada em cerca de 3.500.000.000,00 (três milhões e quinhentos mil dólares) mês, quando bem se poderia socorrer do “know how” de Manuel Vicente e outros quadros nacionais de reconhecida competência e com custos mais modestos.
Finalmente, resta agora saber se tal como Garcia Miala, também não se inventa uma calúnia de tentativa de golpe de Estado, para o completo apagamento político e profissional de Manuel Vicente. É esperar para ver…