Uma mina chamada gado

O Governo angolano prevê um investimento de 90,5 mil milhões de kwanzas (668 milhões de euros) até 2018 para aumentar a produção nacional de carne bovina e reduzir as importações, que asseguram 79 por cento das necessidades do país.

D e acordo com o conteúdo do Programa Dirigido à Produção de Carne Bovina, aprovado por decreto presidencial de 18 de Junho, os investimentos no aumento da produção de carne, que prevêem a importação de 340.509 animais para reprodução e de 1.010.152 animais para recria e engorda – das raças Bonsmara, Simentaller e Brahma -, arrancam já este ano.

Angola consumiu no ano passado 129.485 toneladas de carne bovina, mas apenas 27.019 toneladas (21%) de produção nacional, segundo os dados constantes no mesmo documento. Este programa prevê aumentar a produção nacional de carne em 2016 para 46.833 toneladas e em 2018 para 79.148 toneladas.

No documento que suporta a aplicação deste programa é definido o objectivo de “aumentar a produção e a produtividade interna de carne”, melhorando as condições de produção nas explorações pecuárias empresariais, através da sua especialização na reprodução, cria, recria e engorda animal.

“Considerando que o aumento da produção interna de carne bovina vai contribuir para a diminuição das importações, a criação de novos postos de trabalho e a melhoria da qualidade de vida dos angolanos”, lê-se no preâmbulo do programa que consta do decreto assinado pelo Presidente José Eduardo dos Santos.

Prevê a mobilização de parceiros e investidores externos para a produção, conservação, distribuição e processamento de carne, bem como a selecção, entre as 142 explorações pecuárias nacionais, das que apresentem condições para concretizar os objectivos do programa.

Angola apresenta actualmente uma capacidade de abate de 195.360 animais por ano, para um total de 39.072 toneladas de carne. Tendo em conta projecção de produção de carne, cerca do dobro desta capacidade, o Governo angolano prevê a necessidade de implantação de um matadouro industrial por ano até 2018.

Só para este ano está prevista a importação de 400.000 animais (para reprodução e engorda) e um investimento de 29.187 milhões de kwanzas (215 milhões de euros), no entanto o programa não específica fontes de financiamento do mesmo, que no total está estimado em 90.546 milhões de kwanzas.

Até 2018, a estimativa do programa passa pela criação de mais de 23 mil postos de trabalho.

Recorde-se que a notícia de que os governadores da Huíla, Cunene e Namibe estão envolvidos na pecuária com negócios de gado envolvendo milhares de dólares está a causar algum celeuma em Angola.

O jurista Nelson Viriato disse à voz da América que há “princípios da probidade pública” e que “apesar de agirem a título individual, há situações de interesse público que estão em jogo”.

“Eles devem ser imparciais (…) neste caso particular, os agentes públicos ferem o princípio da imparcialidade”, acrescentou.

Um dos governadores envolvido no negócio de gado, Kundi Pahiama, da Huambo, defendeu publicamente, na semana passada, que o governo central deveria reintroduzir subsídios de combustível para os criadores de gado e agricultores.

O presidente da Federação das Cooperativas Agro-pecuárias, Manuel Monteiro, prefere destacar a importância de complexos que geram emprego e não pretende julgar ninguém.

“Penso que não há tabu (…) as fazendas não são ocultas, são áreas muito extensas. O Estado angolano tem leis, penso que eles não estão impedidos de manifestar o que têm sido as suas actividades,” disse Manuel Monteiro.

Para o director provincial da agricultura, Francisco de Assis, as fazendas são públicas, com proprietários identificados, e a situação dos governadores não é diferente de dirigentes noutras partes do mundo.

“Dos presidentes americanos, talvez só o Obama não tenha um rancho. Na Austrália, muitos ex-membros do governo possuem acima de cem mil hectares,” disse.

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