A emissora local Luanda Antena Comercial (LAC) baniu da sua grelha o espaço de opinião “Elas e o Mundo” devido ao seu pendor crítico e independente. Era um dos programas mais ouvidos da estação radiofónica angolana.
Por Nelson Sul D´Angola (*)
D epois do encerramento, em Novembro de 2014, do Angolense, um semanário incómodo ao regime angolano, a liberdade de imprensa e de expressão em Angola acaba de sofrer mais um duro golpe com a suspensão do espaço de opinião ”Elas e o Mundo”.
Até agora, este era o único programa radiofónico em Angola onde as mulheres discutiam várias questões da vida política e económica, nacional e internacional, sem qualquer interferência política ou da direcção da rádio.
Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual o programa foi banido da grelha de programação daquela rádio por supostamente ter revelado algo incómodo ao poder político. Contudo, a direcção da LAC, em comunicado enviado às integrantes do programa, limitou-se apenas a informar sobre o fim do programa, sem adicionar outra informação.
Decisão polémica
Perplexa, a jornalista Suzana Mendes, que durante vários anos integrou o programa “Elas e o Mundo”, diz ter recebido a notícia com “profunda tristeza”.
Foi um espaço de debate, onde pude exprimir livremente a minha opinião durante um longo período. Neste momento sinto um vazio porque era um compromisso também com os ouvintes, mas quando recebemos a comunicação da direcção da LAC, respeitamos” a decisão, contou à DW África.
A secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas de Angola, Luísa Rogério, também manifestou “muita apreensão e tristeza” e um “profundo desapontamento” pelo fim do espaço de opinião da LAC, “um dos programas de maior audiência, não só da LAC, mas geral”, sublinha.
Para a da sindicalista, “Elas e o Mundo” era um programa que se destacava “pelas abordagens que fazia e pela pertinência e, sobretudo, pela oportunidade que dava a vozes contraditarias”. Na opinião de Luísa Rogério, há motivos mais do que suficientes para desconfiar da decisão.
Imprensa privada sufocada
Para muitos, este é só mais um exemplo de que a liberdade de expressão em Angola está cada vez mais limitada, com a imprensa privada a ser profundamente sufocada para que não possa cumprir com o seu papel social.
Desde 2010, a maioria dos órgãos de comunicação social no país foram compradas por empresas próximas ao regime de Luanda, com objectivo de limitar as críticas contra a governação do Presidente José Eduardo dos Santos.
Em Angola, num universo de mais de uma centena de órgãos de comunicação social, entre jornais, rádios e televisões, apenas dois órgãos não estão sob controlo do regime angolano: o jornal Folha 8 e a Rádio Despertar, emissora ligada ao maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Limitações na Rádio Despertar
Porém, também na Rádio Despertar a liberdade de imprensa e de opinião tem as suas limitações. Por exemplo, não é dado espaço a quem critica a UNITA, afirma o historiador e jornalista Makuta Nkonda.
“Não é só o MPLA (no poder) que coarta a liberdade de expressão em Angola como também essa dita oposição”, critica o jornalista. Makuta Nkonda sublinha que a Rádio Ecclesia e a Rádio Despertar são privadas, “mas existem listas negras”.
“Quem quiser ser aceite na emissora da UNITA, que é a Rádio Despertar, tem que te quer uma mensagem unilateral, condenar tudo o que é do MPLA e bater palmas e louvar tudo o que é da UNITA”, acusa.
(*) DW África