Contradições de um intolerante tolerante ou quando é preciso dar nome à PAZ (III)

Contradições de um intolerante tolerante ou quando é preciso dar nome à PAZ (III) - Folha 8

Remember 2014, a nossa pobreza e a corrupção deles (V)

Alguém pode levar a sério, um discurso com lugares comuns, ante a intolerância permanente, contra os adversários políticos e os intelectuais não bajuladores, bem como a violação grosseira da própria “Constituição Jessiana”?

Por William Tonet

O que significa, “vamos fazer tudo para neutralizar as causas da intolerância política”, como disse José Eduardo do Santos, na mensagem de ano novo, quando são quilométricas acções ilícitas praticadas pelo regime que nos (des)governa desde 1975?

Os exemplos de banalização da intolerância, se persistem intramuros. MPLA, alguém acredita ser possível a sua erradicação da sanzala grande (País), com um mero discurso circunstancial?

Acompanhe, caro leitor, a cultura institucionalizada, no MPLA, desde o tempo de Agostinho Neto e que ainda faz morada, no ADN deste partido e nunca ninguém se veio penitenciar.

– 1964 – Agostinho Neto, cujo ADN mental tinha elevados decibéis de complexo, expulsa os “nacionalistas-camaradas” que o tinham convidado a ser presidente do MPLA e mais se bateram para a sua libertação e reconhecimento internacional, como prisioneiro político: Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Gentil Viana, Matias Miguéis, entre outros.

Nasce imediatamente depois a intolerância contra a Revolta Activa.

– 1966 – Agostinho Neto ordena que seja queimado vivo, numa fogueira, nas chanas do Leste, com outros camaradas, o comandante Paganini, acusado de feitiçaria e de ter pretendido golpeá-lo em Brazzaville.

– 1968 – a política de intolerância de Agostinho Neto alimenta o surgimento da Rebelião da Jibóia, liderada pelo comandante Katuwa Mitwe, na Frente Leste, que depois, por uma questão semântica lexical se converteria em Revolta do Leste.

– 1969 – intolerância contra Daniel Júlio Chipenda, então vice-presidente do MPLA, por não condenar os autores da rebelião da Jibóia.

– 1974 – num acto de intolerância e de batota política, Neto apercebendo-se de uma derrota histórica que uma eleição democrática causaria, no 1.º Congresso de Lusaka, adopta a estratégia de Nito Alves de sabotar o conclave, retirando-se antes das eleições e apresentando-se em Luanda, já com suporte militar cubano, como presidente legítimo, quando o eleito democraticamente, como presidente do MPLA, foi Daniel Júlio Chipenda, com quórum bastante, mesmo com a retirada de parte da Facção Presidencial e da Revolta Activa.

– 1975 – intolerância na violação dos Acordos de Alvor, impondo a Lei da Força contra os outros subscritores, FNLA e UNITA, com apoio das tropas portuguesas e cubanas, não realizando as eleições gerais e proclamando em 1975, um Estado de cariz comunista, a República Popular de Angola-

– 1975 – intolerância fuzilando no Campo da Revolução, em Luanda, o comandante Virgílio Sotto Mayor, ligado ao 4 de Fevereiro e a guerrilha.

-1976 – intolerância contra os membros da Revolta Activa e outros intelectuais, levando-os, sem provas acusatórias e julgamento as cadeias.

– 1977 – intolerância maior de Agostinho Neto e de parte da direcção do MPLA, ao cometer a maior chacina depois da Segunda Guerra Mundial, no dia 27 de Maio de 1977 e estendendo-se por mais de um ano, assassinando sem provas e julgamento cerca de 80.000 intelectuais acusados de fraccionismo. A sua célebre frase, pronunciada numa cadeira baloiço: “Não vamos perder tempo com julgamentos”, deu o mote. Depois disso, foi a barbárie…, que nunca mais parou, simulada e dissimulada…

-1978 – institucionalização da intolerância a nível do Estado, ao se passar daí em diante a admitir exclusivamente membros do MPLA para os sectores-chave, intermédios e mesmo de base.

-1979 – cansado de tantas reivindicações e lamúrias de familiares directos, das vítimas do 27 de Maio, timidamente libertou algumas e proibiu os assassinatos em massa, só em massa, os outros, os selectivos, continuaram.

-1979 – morre de cirrose, segundo os médicos da ex-União Soviética, o Intolerante Maior, o “médico profundamente assassino”, António Agostinho Neto.

In fine e aqui chegado, é-me imperativo recordar o padre António Vieira quando do alto da sua sapiência disse: “grandes males não se curam senão com grandes remédios, e estes não se aplicam sem grande resolução”.

‪Logo resta-nos, enquanto cidadãos, definir o futuro, individual e colectivo, não com o coração, mas com o poder da mente…

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