“Não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”

O presidente sírio, Bashar al-Assad, fazendo uso – como se sabe – da sua legitimidade democrática (igual à de tantos outros), afirmou que vai resistir com “mão de ferro” às tentativas para o afastar e que não vai abandonar o poder, insistindo que continua a ter apoio popular. Tal como em Angola.

Al-Assad volta a acusar interesses estrangeiros e terroristas de tentarem desestabilizar o país e a assegurar que não deu ordens para que as forças de segurança disparassem sobre civis.

“A nossa prioridade agora é recuperar a segurança de que gozámos ao longo de décadas e isto só pode ser alcançado se enfrentarmos os terroristas com mão de ferro”, disse Assad.

Terroristas que, para além de outros meios, usam a comunicação social como instrumento de desestabilização. Embora não tenha referido, tanto quanto se sabe, o nome desses meios, quer-nos  parecer que o Folha 8 deve ser um deles.

Em Angola, tal como na Síria, para além dos milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para matar a fome, uma minoria privilegiada só se preocupa em ter mais e mais, custe o que custar.

Quando alguém diz isto, e são cada vez menos a dizê-lo mas cada vez mais a pensá-lo, corre o sério risco de que os donos do poder o mandem calar, se possível definitivamente. Se possível alimentando os jacarés, com ou sem promoções de militares detidos. É o que se passa com o Folha 8.

Mas. como dizia Frei João Domingos, “não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”.

E são muitos os que já morreram por isso. Se mesmo os que não vivem no reino de José Eduardo dos Santos estão na linha de fogo, o que dizer dos que cá sobrevivem? Todo o cuidado é pouco. Os jacarés estão com fome e reivindicam, legitimamente, o seu pagamento alimentar.

O presidente que domina o país desde 1979, há portanto 35 anos, sem nunca ter sido nominalmente eleito, continua, mesmo fora do seu país, a dar ordens para calar os que teimam em dizer a verdade ou, pelo menos, o que pensam ser a verdade.

Citando de novo, e tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Angola “muitos governantes têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.

Mas esses, apesar de podres por dentro, continuam a viver à grande e à MPLA, enquanto o Povo morre de fome.

Convém não esquecer que, por exemplo, o dirigente ex-ministro do MPLA e actual governador do Huambo, Kundi Paihama, afirmou em tempos recentes: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.

Esta é, aliás, a filosofia basilar do MPLA, partido que continua a pensar que Angola é o MPLA e que o MPLA é Angola. O que sobra não vai para os pobres, vai para os coitados dos cães.

Quanto aos angolanos, aos outros angolanos, os angolanos de segunda, citando de novo Kundi Paihama, que comam farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.

“O Povo sofre e passa fome. Os países valem pelas pessoas e não pelos diamantes, petróleo e outras riquezas”, disse também Frei João Domingos. Nós ouvimos e concordamos. O MPLA passou ao lado.

Mas, como diria o camarada Eduardo dos Santos, a luta continua. Tem de continuar. Até porque não há nenhum Bashar al-Assad ou Eduardo dos Santos que possa calar a voz do Povo.

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