TERCEIRO MANDATO À VISTA (DES)ARMADA

O deputado da UNITA Olívio Kilumbo refutou um eventual terceiro mandato do Presidente João Lourenço, sublinhando que “não é credível” e que a ideia de contornar a Constituição angolana para concretizar esta possibilidade é “tremendamente perigosa”. A ingenuidade política e a miragem de que Angola é uma democracia e um Estado de Direito ainda fazem parte dos políticos da UNITA.

A hipótese foi sugerida pela Economist Intelligence Unit (EIU), conforme o Folha 8 revelou terça-feira no artigo “MPLA deve violar a Constituição, aconselha a “The Economist”, numa análise prospectiva sobre a situação política e económica em Angola no período 2024-2028, que o deputado considera não ser credível.

“Não só pelos riscos que envolve, assim como pelo desconhecimento do que realmente se passa no país e por que muitos desses analistas são pagos com somas muito altas para nos fazerem crer em coisas que nem sequer são credíveis. Na verdade, os melhores analistas são os angolanos. Eles terão a última palavra em 2027 [data das próximas eleições gerais]”, disse Olívio Kilumbo à Lusa.

O deputado da UNITA sublinha que um terceiro mandato de João Lourenço só poderia efectivar-se mediante uma revisão da Constituição, que fica dependente do que a sociedade no seu todo e os deputados, em particular, “têm a dizer”.

Por isso, “é tremendamente perigoso” pensar em contornar a Constituição, uma via que “não deve ser aceite” e “não se aconselha”, pois não depende apenas de João Lourenço e não contaria com o apoio da sociedade e dos partidos na oposição.

“Seria desenhar um fim muito triste para João Lourenço”, afirmou, aconselhando o Presidente angolano, não nominalmente eleito, e também Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e (o que não é despiciendo) Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, a preparar a sua saída do poder.

Para o político da UNITA, a insistência num terceiro mandato seria a prova “de que João Lourenço, depois dos múltiplos insucessos que tem tido, ou está mesmo muito vulnerável ou está refém de um grupo de pessoas que o deixaram totalmente sem saber o que fazer”.

“Certamente que os que mal aconselham João Lourenço para esse caminho querem que ele seja lembrado como o pior Presidente que esse país já teve”, vincou.

O deputado da UNITA aponta ainda riscos para o país de um novo mandato presidencial, destacando o aumento da corrupção e “os índices de rejeição social” face a João Lourenço, superiores aos do MPLA.

“Também há o risco sistémico”, declarou o deputado, salientando o “descrédito” a nível internacional e a desconfiança dos mercados.

“Supostamente, João Lourenço está a tentar recuperar a imagem de Angola lá fora”, disse, exemplificando com o encontro que o chefe de Estado com o homólogo norte-americano, Joe Biden, e alertou que “qualquer decisão incongruente e antidemocrática dele só elevará o risco do país” de convulsões e desintegração social.

Olívio Kilumbo disse que “inviabilizar essa intenção” é uma questão de interesse nacional, e não apenas da oposição: “devemos mostrar ao João Lourenço e seus apoiantes de que essa ganância de se querer o poder a qualquer custo não é saudável”.

Assinalou ainda que a maior parte da população angolana é jovem, realçando que “essa juventude é a maior oposição a João Lourenço”. “Eles acham o Presidente ilegítimo, não votaram nele em 2022, sentem-se roubados”, frisou.

Apesar do pouco progresso alcançado nas reformas e na diversificação económica, a EIU espera (deseja, foi comprada para isso) que João Lourenço e o MPLA mantenham o poder durante o seu segundo mandato “dado o seu forte controlo sobre o aparelho estatal”, e que o Presidente concorra a um terceiro mandato, vencendo as eleições de 2027.

Só faltou à Economist Intelligence Unit apresentar já (o que não seria difícil) qual será o resultado das “eleições” de 2027.

“Mas é pouco provável que essa eleição seja livre ou justa”, lê-se no documento. Do mal o menos. Rabo escondido com gato de fora. A “The Economist” não sabe que que a “Imprensa existe para servir os governados e não os governantes”.

Os economistas prevêem também que o acto eleitoral não será pacífico “dada a insatisfação generalizada com o governo de longa data do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que está no poder desde a independência em 1975 e em que a “eleição” do Presidente não é nominal.

Apesar do MPLA não ter a maioria de dois terços no Parlamento necessária para alterar o Constituição, a EIU admite que João Lourenço “desrespeite a Constituição”, usando os seus poderes executivos ilimitados como o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, que permaneceu no poder durante 38 anos.

Folha 8 com Lusa

Artigos Relacionados

Leave a Comment