OS BONS E OS MAUS, SEGUNDO LULA

O Presidente do Brasil, Lula da Silva, critica a actual configuração do Conselho de Segurança da ONU, considerando que o órgão, “promove a guerra ao invés da paz”, defendendo reformas. Recorde-se que a indústria militar do Brasil, certamente para promover a paz, representa 5% do Produto Interno Bruto brasileiro…

Segundo o site “Defesa Aérea e Naval”do Brasil, o conflito russo-ucraniano tem consequências observadas em todo o globo. Os Estados Unidos da América e os seus aliados pressionam os demais actores internacionais a apoiarem a Ucrânia. Para o Brasil, além de outras áreas, o conflito está impactando a Base Industrial de Defesa (BID) que, segundo o Ministro da Defesa, José Múcio, representa 5% do PIB brasileiro.

Em Março de 2023, após a negativa do Presidente Lula em enviar munições para a Ucrânia, a Alemanha vetou a venda de blindados Guarani às Filipinas. Sendo assim, quais os possíveis desdobramentos para a BID brasileira nesse cenário internacional?

O Brasil destaca-se no mercado internacional de Defesa, com produtos de qualidade comprovada em campo de batalha, como o Sistema de Foguetes de Artilharia para Saturação de Área (ASTROS) e a aeronave turboélice Embraer EMB-314 Super Tucano que, por exemplo, operam no Burkina Faso. O blindado Guarani, que já foi exportado para a Argentina e para o Líbano, está com sua compra encomendada pelo Gana e Filipinas com contratos milionários. Entretanto, há componentes no veículo que necessitam da permissão de outros países para que seja efectuada a sua venda, como é o caso da Alemanha.

Com esse poder de veto, o país europeu impediu a venda aos filipinos como retaliação à recusa brasileira em exportar munição para as Forças Armadas ucranianas. A partir disso, o Brasil afirma que irá produzir componentes equivalentes aos alemães em território nacional, desenvolvendo sua capacidade de produção de blindados.

Ademais, essa decisão pode dar maior segurança nas vendas internacionais, pois não dependeria do aval de actores que não estejam directamente ligados à negociação. O governo brasileiro compreende a importância da BID, especialmente em termos de geração de empregos, desenvolvimento nacional e tecnológico.

Nota-se, portanto, que a neutralidade brasileira no conflito ucraniano acaba impactando esse sector no curto prazo, já que as vendas estão a ser embargadas. Entretanto, a médio e longo prazos, a situação pode estimular o desenvolvimento de tecnologias autóctones e a qualificação profissional de nacionais para ocuparem vagas de emprego de alta capacitação em território brasileiro.

Dessa forma, o conflito influencia indirectamente no desenvolvimento de tecnologias nacionais para o mercado de Defesa e possibilita, no futuro, maior independência da BID brasileira em relação a potências estrangeiras. A proibição alemã destaca uma fragilidade da indústria brasileira, mas pode motivar a expansão do segmento de Defesa na economia brasileira.

Em Maio passado, a Saab e a Embraer inauguraram a linha de montagem do Gripen E no Brasil, um marco significativo do programa de transferência de tecnologia do projecto F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB).

A linha de montagem final do Gripen é a única existente fora da Suécia, e tornpu-se também a única da América Latina com capacidade de fabricar aeronaves supersónicas de quarta geração. Para a Saab e para a Embraer, isso representa uma importante parceria estratégica e vai permitir que as duas empresas trabalhem juntas em novas oportunidades de negócios.

A linha de produção na Embraer vai receber as aero-estruturas dos caças produzidos na fábrica da Saab em Linköping, na Suécia, e em São Bernardo do Campo, em São Paulo. Na linha de montagem, o avião de combate será produzido com a junção dessas estruturas, a instalação de cablagens, equipagem de vários sistemas, trens de pouso, aviónicos, equipamentos tácticos, o painel WAD, canopi, assento ejectável e motor.

Concluída a montagem do Gripen, serão realizados testes funcionais e voos de produção para preparar a aeronave para a entrega final. A fábrica da Embraer será responsável pela produção de 15 para a FAB. As unidades montadas no Brasil serão entregues a partir de 2025.

O evento contou com a presença de diversas autoridades civis e militares, bem como de representantes de diversos sectores da sociedade brasileira. Além do Presidente Lula da Silva, também participaram da cerimónia o Ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho, o Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, Almirante de Esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, o Ministro da Defesa da Suécia, Carl-Oskar Bohlin, e os Presidentes da Saab e Embraer Defesa & Segurança, Micael Johansson e Bosco da Costa Júnior, respectivamente.

O Presidente e CEO da Saab disse que “o início das operações da linha de produção do Gripen marca o nosso compromisso com a transferência de tecnologia e de conhecimento para a indústria brasileira. Aqui, produziremos 15 das 36 aeronaves actualmente contratadas pela Força Aérea Brasileira. O objectivo também é produzir aqui quaisquer pedidos futuros de Gripen para o Brasil, bem como de outros países. Queremos que o Brasil se torne um centro de exportação para a América Latina e, potencialmente, para outras regiões”, concluiu Micael Johansson.

“Celebramos hoje não só a inauguração da linha de produção do caça Gripen, mas o sucesso da colaboração entre a Saab e a Embraer, que se fortalece a cada dia com o objectivo comum de servir a Força Aérea Brasileira. Desde o início a Embraer tem tido um papel relevante no programa Gripen, participando, por exemplo, no desenvolvimento da versão brasileira da aeronave biposto. Como uma evolução natural dessa relação, esperamos que em breve possamos juntos expandir nossos negócios em novos mercados”, disse Bosco da Costa Júnior, Presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança.

“O início da produção da aeronave F-39 Gripen no Brasil simboliza a concretização de um ambicioso projecto que se traduz em transferência de tecnologia, geração de empregos e o consequente desenvolvimento do sector aeroespacial do Brasil. Graças a uma sólida parceria entre a Força Aérea, Saab e Embraer, entramos agora no selecto grupo de países que detêm a capacidade de construir aeronaves supersónicas. Parabéns a todos os envolvidos!”, disse o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar, Marcelo Kanitz Damasceno.

Os ministros da Defesa do Brasil e da Suécia ressaltaram a parceria estratégica entre os dois países e as qualidades do caça que será operado pela FAB e da SwAF (Swedish Air Force). No final de seu discurso, José Múcio falou rapidamente sobre a potencial aquisição do KC-390 Millennium pela Força Aérea Sueca, destacando as qualidades do cargueiro táctico da Embraer.

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