KWANZA NO “OLHO” DA TEMPESTADE PERFEITA

O Banco Angolano de Investimentos (BAI) está preparado para amortecer os choques cambiais e enfrentar uma “tempestade perfeita” como o momento que se vive c em Angola, disse o presidente executivo da instituição financeira, Luís Lélis.

Luís Lélis, que falava aos jornalistas à margem do XIII Fórum Banca, organizado pelo semanário Expansão, sublinhou que a vida passa por “tempestades mais ou menos intensas” e que “não é por um momento menos bom” que se tem de mudar a estratégia.

“O país tem capacidades e competências, o que é preciso é encontrar soluções no médio e longo prazo para desafios como a depreciação da moeda angolana”, considerou, salientando que a chave é reduzir as importações.

“A moeda só é mais ou menos forte se aquilo que é consumido internamente for produzido internamente”, adiantou o gestor, acrescentando que a actual crise mostra que é preciso aumentar a velocidade da capacidade de produção do país. Só faltou mesmo explicar que, se “haver” necessidade, o governo do MPLA só tem de fazer, 48 anos depois de ter comprado o país, o que os portugueses fizeram até 1975.

Questionado se em algum momento se arrependeu da entrada em bolsa (em Junho de 2022), manifestou-se “honrado” por o BAI ter sido a primeira instituição a fazê-lo e disse que o projecto de abertura do capital em bolsa não foi feito tendo em consideração estes picos, pois a estratégia é de “muito longo prazo”, acrescentando que o banco criou os ‘buffers’ (amortecedores) necessários para este tipo de oscilações e para resistir à volatilidade “que será reduzida quando se conseguir produzir mais internamente”.

Luís Lélis afirmou que o banco tem tido benefícios com a entrada em bolsa, realçando que o mercado de capitais “é uma peça fundamental para qualquer economia que se queira desenvolver”, já que a banca por si só não conseguiria captar recursos suficientes.

“O BAI fez este projecto, primeiro porque acredita a médio e longo prazo em Angola, segundo porque existem aprendizagens, ferramentas e investimentos que temos de fazer para saber como se faz” e ajudar no futuro outras empresas, referiu.

Luís Lelis participou numa mesa redonda sobre o impacto das privatizações e da entrada em bolsa dos bancos comerciais, onde se falou da experiência dos bancos angolanos que no ano passado abriram o seu capital em bolsa (BAI e Caixa Angola), tendo ao lado outras duas instituições financeiras que ainda não seguiram este caminho (BIC e Millenium Atlântico).

Os banqueiros apontaram alguns pontos críticos associados à BODIVA (Bolsa de Dívida e Valores de Angola), nomeadamente o seu preçário elevado – tendo sido informados que foi entretanto já reduzido em 60% – e consideraram que a banca angolana tende para a consolidação, admitindo o desaparecimento de alguns bancos e fusões de outros.

Falaram ainda sobre a necessidade criar um ambiente mais propício aos investidores, apontando em particular os títulos de propriedade de terrenos e imóveis, a execução de garantias associadas aos créditos e eliminação de barreiras burocráticas, e a necessidade de criar mais confiança no país.

Neste contexto, recordemos a análise de Bernardo Vaz do CINVESTEC, sob o título “O nosso eterno desafio: a estabilidade da taxa de câmbio”, publicado no passado dia 21 de Junho:

«A taxa de câmbio é o preço relativo de uma moeda, ou seja, a quantidade de moeda de um país cujo valor é igual uma unidade de moeda de um outro país. Sem qualquer intervenção de política, em princípio, o valor de cada moeda é determinado pela produtividade de cada país. As moedas existem porque há bens e serviços que foram produzidos e precisam de ser transaccionados; é nessa interacção entre oferta e demanda que a taxa de câmbio é formada. Desta feita, a pretensão de uma moeda estável, sem antes haver estabilidade produtiva, é uma impossibilidade económica no médio longo prazo.

Produtividade implica operar com custos baixos. Há uma relação inversa entre o custo marginal e a produtividade marginal. A produtividade baixa resulta em custos mais altos, baixa atractividade do ambiente de negócio, pouco investimento e consequentemente produção incipiente, conduzindo a uma maior necessidade de importação e, portanto, a um aumento da demanda por moeda externa. O que não tem demanda, neste caso é a nossa moeda, porque não produzimos; o seu valor cai e importar torna-se mais oneroso.

Num país onde 80% dos produtos da cesta básica são importados, todos perdem com a instabilidade recorrente da taxa de câmbio. Entende-se melhor a relevância da estabilidade de cambial quando analisada as consequências da sua ausência. O aumento imprevisível dos preços diminui o poder de compra dos salários reais, aumenta a demanda por liquidez, poupar torna-se arriscado, a taxa de juros sobe e os incentivos ao investimento estruturante desaparecem.

A instabilidade cambial penaliza o consumo ao fazer variar constantemente os bens importados; penaliza a incipiente produção nacional ao colocar no mercado produtos a preços mais baixos do que os da concorrência local (quando o Kwanza está valorizado) ou torna os produtos demasiado caros para o nosso mercado (quando o Kwanza desvaloriza). Se não protegermos a produção nacional, a mesma nunca vai se tornar competitiva, mas se protegermos de mais, dado os baixos salários e a alta taxa de desemprego, o consumo vai cair de forma drástica, agravando ainda mais a fome e a miséria que se vive no país. O que fazer? Como tem alertado o CINVESTEC, não existe a solução, mas as soluções. E uma dessas soluções é a seguinte:

Após estudos apurados, enquanto país, devemos ser capazes de determinar uma taxa de câmbio que reflecte cabalmente o real custo de se produzir em Angola. Se essa taxa for, por exemplo, de 900 KZ/USD, devemos aceitá-la. Porque essa taxa reflecte a diferença de produtividades entre Angola e as economias mais competitivas; se estivermos realmente comprometidos com o país, e não com o dinheiro fácil do petróleo.

À medida que os tribunais forem mais céleres e imparciais, a separação e a independência dos poderes for efectiva e a isso agregarmos um investimento significativo na educação, pesquisa e inovação, a função de produção (a forma como produzimos) vai se expandir, os custos de produzir em Angola vão baixar, assim como a taxa de câmbio. Esse é o caminho da estabilidade cambial efectiva e duradoura, haja coragem e competência!»

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