DIREITOS HUMANOS NA CHINA? NADA!

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) criticou o presidente brasileiro, Lula da Silva, por ter ignorado “o terrível historial” de direitos humanos de Pequim, durante a sua viagem oficial à China, na semana passada. Noutra frente, a invasão da Ucrânia pela Rússia fez com que as graves violações dos direitos humanos sejam “escandalosamente habituais” e desviem a atenção das ameaças existenciais à sobrevivência da humanidade, alertou o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk.

Num texto publicado na sua página online, com um tom crítico e sarcástico relativamente à postura de Lula da Silva na China, a HRW relembrou que a constituição do Brasil determina que o Governo brasileiro tem como pilar da sua política externa a defesa dos direitos humanos.

“Assim, quando o Presidente Lula visitou a China há alguns dias, é claro que trouxe à baila o terrível historial de Pequim em matéria de direitos humanos, certo?”, escreveu, em tom jocoso, a HRW.

Durante a sua visita ao gigante asiático, o Brasil assinou cerca de 20 acordos para reforçar os laços nas áreas do comércio, protocolos fitossanitários, tecnologia, desenvolvimento, transição energética e outras áreas de colaboração no quadro da parceria estratégica bilateral.

“Quanto a acordos sobre o respeito dos direitos humanos: zero”, criticou a organização não-governamental, que recordou ainda que Lula da Silva defende abertamente uma política de justiça social e de direitos humanos, no seu país, e que quando tomou posse a 1 de janeiro “prometeu inverter o deslize dos direitos humanos do Brasil, afastando-se das políticas autoritárias do seu antecessor, Jair Bolsonaro”.

“Aparentemente, isso não se aplica às relações da Administração Lula com a China. Supomos que o autoritarismo e os abusos estão bem quando estão a acontecer a outras pessoas?”, reforçou a HRW.

A China é acusada de encarcerar massivamente os uigures, uma comunidade de maioria muçulmana do oeste da China, em vastos campos de trabalho, inclusivo na região de Xinjiang.

Vários países ocidentais acusam Pequim de deter nos últimos anos, em campos de reeducação, sob forte vigilância, um milhão de uigures, uma minoria de origem muçulmana, além de membros de outros grupos étnicos da região.

“Pequim está também a esvaziar a língua, cultura e religião dos tibetanos, e desmantelou rapidamente as liberdades de Hong Kong”, acusou a HRW.

Tal como acontece com Macau desde 1999, para Hong Kong foi acordado a partir de 1997 um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa, ao abrigo do princípio “um país, dois sistemas”.

“Em toda a China, as autoridades estão a fazer um controlo ideológico e social, prendendo, assediando e intimidando qualquer pessoa que critique a administração. O Governo chinês há muito que proibiu os sindicatos de trabalhadores independentes”, recordou a organização não-governamental.

A administração anterior do Brasil, chefiada por Jair Bolsonaro, segundo a HRW, também não se pronunciou contra “os horrores” dos direitos humanos da China, só que Lula da Silva “parecia prometer algo diferente, algo talvez mais consentâneo com a obrigação constitucional de defender os direitos humanos na política externa”

“Onde estava esse espírito em Pequim na semana passada?”, questionou a HRW.

Entretanto, a invasão da Ucrânia pela Rússia fez com que as graves violações dos direitos humanos sejam “escandalosamente habituais” e desvie a atenção das ameaças existenciais à sobrevivência da humanidade, alertou o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk.

Numa intervenção no Conselho de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk denunciou os “terríveis abusos” cometidos desde o início da invasão russa da Ucrânia, há 13 meses, e advertiu que o conflito “continua a provocar repercussões em todo o mundo”.

Volker Turk indicou que os aumentos expressivos no preço dos alimentos, da energia e de outros produtos básicos “exacerbaram as tensões e as desigualdades em todas as regiões”.

Volker Turk chamou também a atenção para os riscos que envolvem a central nuclear de Zaporijia, na Ucrânia, 37 anos após a catástrofe de Chernobyl. “Outra central nuclear ucraniana, em Zaporijia, continua exposta a um enorme risco, com possíveis consequências para milhões de pessoas”, frisou.

“Num momento em que a humanidade enfrenta desafios existenciais assustadores, esta guerra destrutiva está a afastar-nos do trabalho de construir soluções, do trabalho de garantir a nossa sobrevivência”, disse Turk.

Artigos Relacionados

Leave a Comment