FRACO LÍDER FAZ FRACA A FORTE GENTE!

João Lourenço tornou regra de ouro no seu (mau) reino que a liberdade dos jornalistas tem de acabar onde começa a do seu (mau) MPLA, seja em Angola ou noutros países (caso do seu protectorado socialista que dá pelo nome de Portugal), entendendo que a sua liberdade não tem limites. E não faltam seguidores, não só no MPLA, não só em Portugal.

Por Orlando Castro

Por alguma razão, há já bastante tempo mas sempre com plena actualidade, António Barreto – prestigiadíssimo sociólogo português – disse de José Sócrates aquilo que hoje se aplica milimetricamente a João Lourenço. Ou seja, que “não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação”.

António Barreto acrescentou ainda, de forma lapidar, que “o primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”. Aplicável a 100% a João Lourenço.

Habituado a que os trabalhadores das redacções dos órgãos de comunicação social (Jornalistas são, como é óbvio, outra coisa substancialmente diferente) vão comer à mão do MPLA, João Lourenço não consegue conviver com a liberdade de expressão, com o direito à indignação e também com o dever dos jornalistas de escrutinar a actividade do Governo.

É por isso que João Lourenço se dá bem com a sua própria sombra, bem como com outras sombras que com ele estão sempre de acordo. Numa atitude que está a fazer escola, prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica. Acontece que no que ao Folha 8 respeita não será assassinado.

É, obviamente, um direito que lhe assiste. O problema está em que quer transformar, como “puro” filho do MPLA, o país num amontoado de acéfalos e invertebrados portadores do cartão de militante do MPLA. Em Luanda, mas não só, Adalberto da Costa Júnior e a UNITA mostraram a João Lourenço que ter cartão de militante do MPLA não transforma um néscio em génio.

O azedume do Presidente da República (não nominalmente eleito) quando vê algum jornalista que se atreve a dizer o que não lhe agrada reflecte igualmente a frustração que deve sentir por não ter conseguido, embora tenha tentado e continue a tentar, transformar todos os jornalistas nos tais acéfalos e invertebrados ao serviço (bem pago) da sua causa.

Aliás, por este andar em que aos 47 anos de Poder o MPLA vai acrescentar mais cinco (se entretanto o MPLA não implodir) a caminho da meta de estar 100 anos ininterruptos no governo, será certo que acabem todos aqueles que teimam em ser Jornalistas. Se em cinco anos de poder João Lourenço fez o que fez, nos próximos cinco apostará no fim da liberdade de expressão e da diversidade de opiniões.

Parafraseando António Barreto sobre José Sócrates, diremos que “não sabemos se João Lourenço é fascista. Não nos parece, mas, sinceramente, não sabemos. De qualquer modo, o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições.

“Não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação.

No seu ideal de vida, todos seriam submetidos ao Regime Disciplinar da Função Pública, revisto e reforçado pelo seu governo.” Em Angola o MPLA chama-lhe educação patriótica, ministrada por quem para contar até 12 tem de se descalçar.

João Lourenço converteu os ex-assessores agora chamados de “Press officers e Media consultants”, que falam todos os dias com os administradores, directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais e (no que aos jornalistas respeita) “escrevem notícias com todos os requisitos profissionais, de modo a facilitar a vida aos jornalistas”. Fazem-no em Angola como noutros países.

Esses “Press officers e Media consultants” mentem de vez em quando. Exageram quase sempre. Organizam fugas de imprensa quando convém. Protestam contra as fugas de imprensa quando fica bem. Recompensam os que se conformam. Castigam, com boatos, ameaças e perseguições os que prevaricaram. São as fontes. Que inundam ou secam.

E então? Então este é o país em que vivemos: A mentira é uma arte. Esta é a nossa sociedade: o cenário substitui a realidade. Esta é a cultura em vigor: o engano tem mais valor do que a verdade.

E porque é que João Lourenço, bem como os seus sipaios, não gostam do Folha 8? Desde logo porque temos a obrigação e o dever de relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade.

Porque se não procuramos saber o que se passa não estamos a cumprir a nossa missão. Porque se sabemos o que se passa e eventualmente nos calamos estamos cometer um crime junto das únicas pessoas a quem devemos prestar contas: os angolanos (nomeadamente os 20 milhões de pobres).

Porque não aceitamos restrições no acesso às fontes de informação, nomeadamente às de origem pública, e consideramos que essas restrições são uma inaceitável barreira à liberdade de expressão e ao direito de informar.

Porque nos recusamos a divulgar as nossas fontes confidenciais de informação, respeitando sagradamente os compromissos com elas assumidos. A não revelação das fontes é, aliás, uma das razões pelas quais vale a pena ser preso.

Porque se um jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil, passando a ser um criminoso quando sabe o que se passa e se cala.

O presidente do MPLA diz que “ao Estado e à justiça angolana não resta outra escolha senão o de alcançar o mesmo objectivo pelos meios legais ao seu alcance incluindo a cooperação judiciária internacional”. Recorde-se que, de facto (de jure há diferenças), o Estado/MPLA é dono da justiça, sendo esta um mero instrumento na mão de um partido que quer perpetuar-se no Poder, custe o que custar, ou seja – se necessário – massacrando angolanos, mesmo que sejam do MPLA.

O Presidente angolano menciona “as vozes que se levantam no sentido de que a luta contra a corrupção está a ser mal gerida e que a melhor saída seria organizar um debate no seio do MPLA para resolver o problema” dentro da formação política, mas realçou que este não é só um problema do MPLA.

Tem razão. É um problema de todo o país, embora se saiba que até agora os corruptos conhecidos são todos do MPLA. Assim, importa – segundo o partido – fazer tudo para que Angola deixe de ser o MPLA e passe apena a ser… do MPLA. Se é que já não passou.

“É um problema dos angolanos e da sociedade no seu todo, nenhuma força política pode se arrogar o direito de a monopolizar, sob pena de ser entendido como uma tentativa de branqueamento dos seus”, disse o chefe de Estado.

João Lourenço indica que o debate sobre as grandes questões nacionais é sempre bem-vindo desde que não se circunscreva a um único partido político e que “a luta contra a corrupção não leve o poder político a interferir contra a justiça, colocando em causa a independência dos tribunais”.

É claro que o MPLA não interfere “contra a justiça, colocando em causa a independência dos tribunais”. E não interfere porque a justiça e os tribunais apenas cumprem as ordens superiores do MPLA. E por regra cumprem bem. Basta ver os casos em que primeiro é lavrada a sentença e só depois é feito o julgamento, cumprindo a regra de que até prova em contrário todos somos… culpados. Mata-se primeiro e interroga-se depois.

“Depois dos ganhos obtidos pelo país em termos de reputação, o MPLA está proibido de passar mensagens erradas e desencorajadoras à sociedade, aos tribunais, aos investidores e à comunidade internacional”, vinca João Lourenço.

João Lourenço avisa que não é possível dispensar a justiça no combate à corrupção e que vai continuar esta luta apesar da “resistência organizada” que tem encontrado.

“É evidente que a perda repentina dos direitos abismais que alguns pensam ser um direito divino inquestionável, tinha de criar resistência organizada na tentativa de fazer refrear o ímpeto das medidas em curso”, declarou o presidente no seu discurso de abertura da III Reunião ordinária do Comité Central do MPLA, partido no Poder desde 1975 e dentro do qual João Lourenço foi um dos mais altos dignitários, a ponto de ter sido escolhido por José Eduardo dos Santos como seu sucessor.

Sem citar nomes (como é típico do MPLA), João Lourenço falou de pessoas que tiveram “uma ambição desmedida, mas que deviam, pelo contrário, agradecer a acção do executivo”. Compreende-se que não cite nomes. Se o fizesse teria de começar por referir o nome de… João Lourenço.

“Se deixássemos a festa continuar talvez viessem a morrer de congestão de tanto comer”, ironizou João Lourenço, refastelado que está por ter sido um dos que tinha acesso privilegiado à gamela mas que, graças ao marimbondo José Eduardo dos Santos, se transformou em dono dessa mesma gamela.

João Lourenço reforçou a propaganda de que foi o MPLA que “teve coragem de encabeçar a luta contra estes fenómenos negativos e condenáveis” ao reconhecer os danos causados pela corrupção e nepotismo à economia e aos cidadãos, mas acrescentou que esta luta já não é só do MPLA e da oposição, e sim de toda a sociedade angolana. Isto, é claro, se a sociedade angolana não colocar em dúvida o domínio político, económico e financeiro do novo messias, João Lourenço. Se não sair à rua para se manifestar, se mudar o cérebro para o intestino, se aceitar pensar com a barriga e não com a cabeça. Daí os 20 milhões de pobres.

Uma luta que, disse João Lourenço, “penalizará aqueles que dela desistirem ou pretenderem regressar ao passado”. Passado que, recorde-se, teve como uma das principais figuras o mesmo João Lourenço, então beneficiário directo e, por isso, submisso ministro de José Eduardo dos Santos.

João Lourenço fez questão de sublinhar que é a sociedade angolana que exige a continuação desta luta “pelos ganhos morais, de reputação e económicos” que o país beneficiará. É verdade. Pena foi, e é, que João Lourenço tenha demorado tanto tempo a reconhecer que viu roubar, que participou nos roubos, que beneficiou dos roubos, mesmo dizendo que – apesar disso – não é, nem foi, ladrão.

João Lourenço deixa regularmente recados às “vozes discordantes” da forma como a luta vem sendo desenvolvida, nomeadamente pessoas e instituições que julgam que é possível combater a corrupção com campanhas de educação e sensibilização e apelo ao patriotismo, dispensando a acção da justiça. Justiça que confunde, conscientemente, o fundo do corredor com o corredor de fundo, branqueando a incompetência generalizada em que se verifica, cada vez mais, que mudaram algumas moscas mas mantendo a mesma merda.

Todas essas acções são importantes e necessárias, mas – diz – “servem para educar e prevenir os cidadãos para não enveredar por caminhos errados”, já que sendo a corrupção um crime, para quem nela está envolvido, “não há forma de se evitar a intervenção dos órgãos de justiça”, salienta João Lourenço.

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