Milhões de pessoas estão em risco de vida e muitas já abandonaram as suas casas no sul de Angola devido à seca agravada pelas alterações climáticas que está a devastar aquela região, alertou a Amnistia Internacional. Enquanto isso obras emblemáticas do regime, como o metropolitano de Luanda ou o satélite AngoSat, estão a “bombar”. Viva os quase 46 anos de governação do MPLA…
A organização humanitária referiu que a criação de fazendas para o comércio de gado em terras comunitárias expulsou comunidades pastorícias das suas terras desde o final da guerra civil, em 2002, o que causou em grande parte da população insegurança alimentar (leia-se fome).
Esta insegurança abriu caminho para uma crise humanitária, devido à seca extrema que dura há mais de três anos e à medida que a comida e a água são mais escassas milhares de pessoas já deixaram as suas casas à procura de refúgio na vizinha Namíbia, destacou a organização, em comunicado.
“Milhões de pessoas no Sul de Angola estão à beira da fome, presas entre os efeitos devastadores das mudanças climáticas e desvio de terras para a pecuária comercial”, sublinhou o director da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, Deprose Muchena.
O responsável frisou que a pior seca em 40 anos “atingiu comunidades tradicionais que lutavam para sobreviver desde que foram desalojadas de vastas áreas de pastagem”.
“O Governo angolano deve assumir a responsabilidade pelo seu próprio papel nesta terrível situação, garantir soluções às comunidades afectadas e tomar medidas imediatas para resolver a insegurança alimentar nas áreas rurais das províncias do Cunene e Huíla”, afirmou.
Claramente o director da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, Deprose Muchena, não conhece o ADN do MPLA. Pedir que o Governo, liderado por João Lourenço, ou o Presidente da República, João Lourenço, ou o Presidente do MPLA, João Lourenço, assumam a responsabilidade é o mesmo que pedir aos jacarés que se tornem vegetarianos.
De acordo com o Governo, 67% das pastagens no município de Gambos estão ocupadas por criadores comerciais de gado. Ou seja, há angolanos de primeira (os do MPLA) e os outros.
Segundo a Organização Não Governamental (ONG) Associação Construindo Comunidades (ACC), que distribui cabazes com produto básicos naquela região, famílias de pastores tradicionais do município de Gambos, província de Huíla, estão a passar fome. Recorde-se que o Presidente João Lourenço mentiu quando, numa entrevista à RTP, disse que não havia fome em Angola, retratando que o que havia, apenas aqui ou ali, era uma ligeiríssima má-nutrição.
Os angolanos das províncias do Cunene e Huíla têm sido especialmente atingidos pela persistente seca, depois da época de chuva de 2020/2021 ter sido anormalmente pouca, o que significa que a situação deverá piorar nos próximos meses.
Em Maio de 2021, ONG angolanas relataram que mais de sete mil angolanos, principalmente mulheres com filhos, tinham fugido para a Namíbia, e que o número ainda estava a aumentar.
Àquela data o Programa Alimentar Mundial (PAM) estimava que seis milhões de pessoas em Angola tinham alimentos insuficientes, principalmente no sul do país e que mais de 15 milhões utilizavam estratégias de sobrevivência baseadas em crises ou emergências, como economizar ou reduzir despesas não alimentares.
Morrem crianças à fome num país onde não há fome
Numa altura em que até um relatório do Ministério da Saúde indicava que em 2020 duas crianças morreram por hora devido à fome, aumentando paralelamente o número de pobres que, antes da pandemia de Covid-19, eram 20 milhões, Angola corre o risco de se transformar num não-país ou de assistir a uma violenta implosão social.
Por muito que isso custe ao MPLA, o aumento de mortes de crianças por desnutrição (fome em bom português) no país deve-se à falta de políticas sociais sustentáveis e ao desprezo a que estão votadas as associações que trabalham com as comunidades mais empobrecidas.
Um relatório da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP) sobre a desnutrição no país revelou que, nos últimos seis meses de 2020, em média, duas crianças com menos de cinco anos morreram em Angola a cada hora devido à fome. Certamente, como parece ser o desígnio nacional do MPLA (o único partido que governa o país há 45 anos), essas crianças faziam parte do colossal conjunto de angolanos que estariam a tentar aprender a viver sem… comer.
O relatório estimava que, no total, 8.413 crianças morreram de um universo de 76.480 que deram entrada nos hospitais públicos do país.
Para o líder da organização “Construindo Comunidades”, padre Jacinto Pinto Wacussanga, o quadro descrito pela DNSP “podia ser muito mais grave do que se pode pensar”. E não é por falta de alertas que o Presidente da República, igualmente presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, olha para o lado e assobia. É, isso sim, pelas criminosas políticas económicas e sociais que o seu governo leva a cabo.
O conhecido padre dos Gambos, na Huíla, diz que por falta de comida, “as crianças da região são alimentadas com frutos silvestres e com raízes”. Será que João Lourenço sabe que são crianças angolanas? Será que sabe que lidera um país rico e que nem nos piores tempos da colonização acontecia tal coisa?
O activista social Fernando Pinto, responsável de uma associação de apoio às crianças pobres do distrito urbano do Zango, em Luanda, dizia que o relatório é “um retrato fiel do que se passa em Angola, até mesmo na sua capital”.
Segundo o documento da DNSP, do total dos menores que procuraram hospitais, 11 por cento faleceram, 11 por cento abandonaram o tratamento, seis por cento não tiveram resposta ao tratamento e 72 por cento tiveram alta.
Além da falta de alimentos em vários lugares, aquele órgão do Ministério da Saúde de Angola reconhecia a ocorrência de rupturas constantes de stock de produtos terapêuticos nos centros de saúde, atraso na planificação e o número insuficiente de pessoal capacitado para tratar a desnutrição aguda. É claro que os filhos dos dirigentes, e de outros ilustres acólitos do MPLA, vivem noutro mundo, eventualmente por pertencerem a uma casta superior e não terem o estatuto de escravos como acontece com estas crianças.
Em Abril de 2020, o secretário-geral das Nações Unidos, António Guterres, alertou no Relatório Global de Crises Alimentares que o mundo arriscava-se a derrapar para uma tragédia de fome “de proporções bíblicas” devido à pandemia de Covid-19.
“Se nada for feito, o número de pessoas em risco de insegurança alimentar aguda no mundo pode mesmo quase duplicar este ano e chegar aos 265 milhões de vítimas, face aos 135 milhões de 2019”, lia-se no documento que, numa lista de 35 países, alertava para a situação de Angola.
“A insegurança alimentar aumentou devido à seca nas províncias do sul e o afluxo de refugiados da República Democrática do Congo”, concluiu o relatório, que indicou que essa situação estava a afectar mais de 562 mil pessoas..
A ONU concluiu que “mais de 8 por cento das crianças com menos de cinco anos sofriam de desnutrição grave e perto de 30 por cento tinham problemas de crescimento”.
Recorde-se, mais uma vez e tantas vezes quanto for necessário, que o Presidente João Lourenço mentiu quando, em entrevista à RTP, disse que não havia fome em Angola, retratando que o que havia, apenas aqui ou ali, é uma ligeiríssima má-nutrição.
Provavelmente João Lourenço deve ter feito estas declarações à RTP depois de um frugal e singelo almoço, do tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet 2005.
Compreende-se (isto é como quem diz!), que tenha arrotado esta (e outras) mentira em solidariedade com os nossos 20 milhões de pobres que, por sua vez, arrotam à fome e morrem a sonhar com uma refeição.
Em 2018, os próprios dados governamentais davam conta que Angola tinha uma taxa de desnutrição crónica na ordem dos 38 por cento, com metade das províncias do país em situação de “extrema gravidade de desnutrição”, onde se destacava o Bié, com 51%.
As províncias do Bié com 51%, Cuanza Sul com 49%, Cuanza Norte com 45% e o Huambo com 44% foram apontadas, na altura, pela chefe do Programa Nacional de Nutrição, Maria Futi Tati, como as que apresentavam maiores indicadores de desnutrição.
“São cerca de nove províncias que estão em situação de extrema gravidade de desnutrição, sete províncias em situação de prevalência elevada e duas províncias em situação de prevalência média”, apontou Maria Futi Tati, em Junho de 2018.
Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) indicava que, em Angola, 23,9% da população passava fome.
Em Angola, segundo a FAO, “23,9% da população passa fome”, o que equivale a que “6,9 milhões de angolanos não tenham acesso mínimo a alimentos”.
Falar hoje de fome em Angola é propagar uma mentira para a qual apenas contribuiu o anterior rei-marimbondo mas que, como garante João Lourenço, já “faz parte da história”. Vejamos. O ex-ministro da Agricultura e Florestas de Angola, Marcos Alexandre Nhunga, disse no dia 12 de Setembro de 2018 que o país tem alguma “população considerável que não passa fome como tal”, mas que “se encontra numa situação difícil”.
Sendo, na altura, Marcos Alexandre Nhunga ministro de João Lourenço, tinha com certeza toda a razão. Mesmo assim… “Não passa fome como tal”? Ou passa fome ou não passa, dizemos nós. Essa coisa de “fome como tal” não existe. Queria o ministro dizer que passa fome às segundas, quartas e sextas e come qualquer coisa às terças, quintas e sábados? E que “como tal” aos domingos faz jejum?
Marcos Nhunga falava aos jornalistas depois de questionado pela agência Lusa sobre o relatório de segurança alimentar e nutrição elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o qual indica que, em Angola, 23,9% da população passa fome. Passa forme. Não “fome como tal”.
“É uma realidade, mas não temos essa realidade. A FAO divulga os seus dados e não queremos fazer comentários. Mas a FAO, quando divulga, tem dados com base num levantamento a nível mundial”, afirmou o governante. E o que é que um levantamento a nível mundial afecta, “como tal”, os dados relativos a cada país?
Repetimos e repetiremos sempre. Em Angola, segundo a FAO, “23,9% da população passa fome”, o que equivale a que “6,9 milhões de angolanos não tenham acesso mínimo a alimentos”.
Marcos Nhunga sustentou que a constatação é diferente da que pode parecer… “como tal”. “[Angola] ainda tem alguma população considerável, que não digo que passem fome como tal, mas que está numa situação difícil. Exactamente por isso é que o governo quer melhorar e está a fazer intervenções no meio rural no quadro da actividade produtiva, para que possa resolver os problemas ligados à fome e à pobreza”, disse o então ministro.