O Presidente João Lourenço destacou no dia 23 de Setembro de 2019 o “esforço de mudança” em Angola, através do qual espera colocar o país “no mesmo patamar em que se encontram as nações empenhadas em promover o seu sucesso”.
Por Norberto Hossi
Estamos no caminho certo. O MPLA governa há 45 anos e promete atingir esse desiderato quanto chegar aos 100 anos de poder ininterrupto. Já só faltam 55 anos.
“Está a realizar-se em Angola, com a participação de políticos, da sociedade civil, da população em geral e do executivo, um esforço de mudança por via do qual pretendemos colocar o país, tão rapidamente quanto possível, no mesmo patamar em que se encontram as nações empenhadas em promover o progresso, o desenvolvimento e o bem-estar dos seus povos, através de boas práticas de governação”, afirmou o chefe de Estado no Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos da América, em Nova Iorque.
Se Donald Trump já admirava João Lourenço, a partir daí foi uma paixão eterna. Mais ou menos eterna. Agora vai aí o divórcio. Se Trump tivesse aceitado o apoio do MPLA continuaria no Poder. Armado em esperto, Donald não acreditou que João Lourenço tem uma máquina em que as ordens entram por um lado e os votos pretendidos saem pelo outro. Está arrependido. Mas agora é tarde.
O MPLA perguntou a Trump se sabia a razão pela qual, mesmo antes de ser declarado vencedor das “eleições” do dia 23 de Agosto de 2017, já João Lourenço era felicitado pelo Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa? Ele não percebeu o alcance da pergunta.
O discurso de João Lourenço, em Nova Iorque, foi mais um chorrilho de mentiras. No caso não foi para inglês ver mas para norte-americano ver. Foi, aliás, uma boa estratégia. Tendo os EUA um presidente que para contar até 12 tem de se descalçar ou pedir ajuda aos homólogos ucraniano, Volodymyr Zelensky, ou brasileiro, Jair Bolsonaro, estava tudo dito.
Mas, na verdade, quando o Presidente do MPLA diz que com a mudança conta com participação de políticos, da sociedade civil e da população em geral está a mentir descaradamente. João Lourenço só conta com os políticos do MPLA, com a sociedade civil do MPLA, com a população do MPLA. Isto porque, convenhamos, ele entende que o MPLA é Angola e que Angola é do MPLA.
João Lourenço considerou que há “resultados significativos no processo de transformação do país”, mas assumiu que há “um défice de conhecimento” pelos norte-americanos do programa realizado pelo seu Governo. Há, com certeza. Desde logo porque Donald Trump pensa (isto é como quem diz) que todos os angolanos são aquilo que João Lourenço pensa dos angolanos que não são do MPLA. Ou seja, que somos um bando de matumbos.
Nesse sentido, o Presidente João Lourenço disse que a visita aos Estados Unidos “é uma oportunidade soberana para colmatar esse défice” e para falar sobre as medidas que o seu executivo está a adoptar para “superar alguns vícios do passado”, dos quais (isso ele não diz) ele próprio foi actor e beneficiário activo.
“Estamos a implementar um conjunto de medidas que se inscrevem num plano do executivo sobre o desenvolvimento de Angola, que assenta em alguns eixos fundamentais como o desenvolvimento económico sustentável, a boa governação, a integração regional e internacional, o desenvolvimento das infra-estruturas”, referiu João Lourenço, que nessa altura cumpria dois anos na liderança de Angola.
O “copy paste” é cada vez mais um método utilizado prolixamente pelo MPLA. O que o Presidente diz que está a fazer, ou que quer fazer, ou que um dia alguém terá de fazer, é apenas uma cópia do que é dito pelos países mais desenvolvidos, seriamente governados, democráticos e que são (ao contrário de Angola) um verdadeiros Estados de Direito.
“Para a sua concretização, torna-se necessário atrair investimento estrangeiro para a nossa economia, a fim de a diversificar, aumentar a nossa produção interna e assegurar assim o aumento das exportações de bens diversos”, concluiu o Presidente angolano.
“Essas reformas difíceis, mas necessárias, estão a começar a diminuir o envolvimento do Estado na economia, a aumentar a transparência, a reduzir os riscos fiscais, a diversificar a economia, a gerar desenvolvimento liderado pelo sector privado, numa palavra, a melhorar o ambiente de negócios e investimentos no país”, justificou.
Bem dizia Eça de Queiroz, provavelmente antecipando a pequenez intelectual dos políticos lusófonos, que “os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão”.
Por outro lado, Guerra Junqueiro afirmou:
“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.