São, em resumo, seis razões que devem motivar o povo de Cabinda a abster-se nas eleições angolanas de 23 de Agosto. A única maneira de construir o nosso futuro é de permanecermos nós mesmos em todas as circunstâncias, afirmar sempre o que somos, com a nossa história, cultura e identidade.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
1.Ao longo dos 42 anos de ocupação, de integração forçada e brutal de Cabinda em Angola, realçando a uma longa guerra de resistência que os angolana nos impõem desde 1975, não é a primeira vez que o povo de Cabinda participa nas eleições angolanas para obter uma parcela de dignidade na comunidade de vida com os angolanos, e os resultados têm sempre mostrado que não é votando em Agosto próximo que de repente as coisas vão mudar para Cabinda
2. Nós sabemos que não é fácil para um povo que vive sob constantes ameaças de armas não participar nas eleições, visto que o partido no poder em Angola e os partidos da oposição fazem deste período um momento de grandes mentiras para alguns e um momento de falsas promessas para os outros. E mesmo para aqueles que têm grandes sonhos, é uma visão do inferno pretender que o voto dos Cabindas possam servir para reforçar a democracia angolana e trazer as grandes mudanças que todos nós aguardamos. Isto porque o MPLA ainda não está preparado de organizar uma eleição e perder para depois aceitar uma alternância política sem dificuldades.
3. Para aqueles que entre nós ainda têm a memória, não é necessário dizer-lhes que devemos estar sempre presente nos principais areópagos políticos angolanos onde se decide a nossa vida e o nosso destino. O povo de Cabinda sempre esteve presente e de forma construtiva ao lado dos angolanos, sobretudo no MPLA e na UNITA, e contribuiu significativamente na luta de libertação de Angola. Os exemplos são muitos e eu não os posso listar aqui, como Pedalé, Fati Veneno, Nicolau Gomes Spencer, Nzau Puna, Toni da Costa Fernandes etc..
4. As mudanças políticas que todos nós esperamos da parte dos angolanos é especialmente a prática da boa governação e justiça social para todos e, da nossa parte, uma manifestação da verdade histórica da nossa situação pelos angolanos, por que um povo que já sofreu o que o povo angolano experimentou durante o colonialismo português, não pode dar-se ao luxo de colonizar um outro povo irmão nas mesmas condições ou pior. As forças democráticas e progressistas angolanas não devem vir a Cabinda com discursos vazios e prometer sei lá uma chamada autonomia para Cabinda. Devem vir com um discurso de verdade, único e que consiste em dizer que chegou a hora de nos separarmos amigavelmente e manter relações de irmandade, de Estado para Estado, através de um acordo amigável ou por um referendo de autodeterminação.
5. A única diferença que caracteriza o MPLA e a UNITA para capturar os votos em Cabinda é o facto de que um opta pela força, corrupção e fraude, e outro por uma técnica que consiste em recrutar os cabeças-de-lista do círculo de Cabinda como independentes e, uma vez eleitos, torna-los membros efectivos de pleno direito. E amanhã podem negar todas vantagens mas não vão mudar nada no seio dum Parlamento que serve de caixa de registo para as leis do MPLA. A oposição nunca ganhou nada para seu eleitorado.
6. Para terminar, faço minhas as palavras do ilustre Dr. Raul Tati que, na sua mensagem para o seu eleitorado disse que: “O nosso voto não fará de nós menos cabindas nem mais angolanos do que já somos. A verdade é que não podemos mudar o passado, mas podemos construir o presente e o futuro que pretendemos. Isto está nas nossas mãos”! A única maneira de construir o nosso futuro é de permanecermos nós mesmos em todas as circunstâncias, afirmar sempre o que somos, com a nossa história, cultura e identidade.
(*) Chefe do Gabinete da Presidência da FLEC