O estado de saúde de Henrique Luaty Beirão, um dos activistas detidos desde Junho em Angola, acusado de rebelião e tentativa de golpe de Estado, entre outros etílicos delírios do regime, em greve de fome há 18 dias, agravou-se, e está entre a vida e a morte.
A mãe do Luaty Beirão, a única que hoje foi autorizada a visitá-lo, na cadeia de Calomboloca, em Luanda, disse que “está seriamente debilitado, não consegue nem pelo menos engolir líquidos”.
Teme-se que as próximas horas sejam decisivas, de nada valendo os apelos, nacionais e internacionais, para que ele e os outros jovens sejam libertados.
“Está entre a vida e a morte”, disse também hoje Walter Tondela, advogado de 12 dos 17 acusados, referindo que Luaty Beirão está a “passar muito mal e corre sérios riscos de vida se não for, rápida e correctamente assistido.”
Walter Tondela afirmou que, ao contrário do que foi divulgado, Luaty Beirão “não está a receber assistência médica, mau grado os pedidos nesse sentido feitos ao director dos Serviços Penitenciários”.
Contactado pelo jornal português Público, e com a desfaçatez criminosa que é peculiar ao regime, o director-geral dos Serviços Prisionais de Angola, António Fortunato, não confirmou ter recebido qualquer pedido de intervenção urgente por parte dos advogados de defesa e disse que Luaty Beirão “não está a receber assistência médica porque não está doente”.
“Preocupa-nos a situação, mas o estado de saúde não é grave. Só tem a debilidade resultante da falta de proteínas, por não estar alimentado”, afirmou António Fortunato, certamente no meio de um orgasmo propagandístico de quem, como bom sipaio do regime, espera que Luaty Beirão vá fazer companhia, por exemplo, a Manuel Hilberto de Carvalho, “Ganga”.
“A família continua a poder visitá-lo. O problema que se coloca é que ele mantém a sua posição, recusa-se a comer. Temos de convencê-lo a mudar de atitude e tomar uma medida de força. Obrigá-lo a comer ou levá-lo para um hospital” disse António Fortunato, mostrando a têmpera selvagem de que são feitos os serviçais do regime.
“Não podemos ainda definir qual a medida mais acertada de acordo com a lei penitenciária. Vamos agir consoante os relatórios médicos”, acrescentou António Fortunato, sem esclarecer em que dia o activista foi observado pela última vez.
“Foi há uns dias atrás,” disse com a mesma desfaçatez com que as hienas famintas se riem das suas vítimas, pouco se importando que se trata de um ser humano. Bem. Seres humanos também eram Alves Kamulingue e Isaías Cassule e foi o que se viu.
Na sexta-feira dia 2 de Outubro, Luaty Beirão, de 33 anos, chegou a ser transferido para o hospital-prisão de S. Paulo mas voltou à cadeia de Calomboloca, onde está desde Junho.
Segundo o Movimento Revolucionário, durante a visita da mãe, o activista pediu à “sociedade que faça alguma coisa” e “frisou que não vai abdicar da greve de fome pois está convicto de que não atentou contra a vida de Eduardo dos Santos”.
Luaty Beirão e outros 14 jovens estão detidos em cadeias de Luanda desde 20 de Junho. As autoridades do regime acusaram-nos de estarem a preparar um golpe de Estado e um atentado contra o Presidente da República. Três outros detidos chegaram a estar em greve de fome, mas Luaty Beirão é o único que prossegue com essa forma de protesto.