O secretário do Presidente da República, general João Lourenço, para o sector produtivo, Isaac dos Anjos, afirmou, no Dundo, que a Lunda-Norte tem um potencial agrícola “virgem” com condições para ser auto-suficiente na produção de alimentos e exportar para o resto do país. Quem diria? Mais um capítulo na tese de que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500…
Em declarações à imprensa, no final da sua visita de trabalho à Lunda-Norte, o secretário sublinhou que a província não deve limitar-se à exploração mineira, “se quiser participar efectivamente na diversificação da economia”, mas sim, aproveitar o potencial agro-pecuário que dispõe para produzir alimentos em grande escala.
Isaac dos Anjos diz que ao visitar alguns campos de produção, concluiu que a província tem uma diversidade de culturas que estão a ser feitas sem recursos tecnológicos e que permitem a diversificação da produção, um sinal de que há vontade por parte dos agricultores, faltando apenas algum incentivo e o envolvimento do sector empresarial.
Acrescentou que no âmbito da diversificação de culturas, o Governo e os seus parceiros pretendem estimular a introdução do café, palmar, produção e transformação de frutas e, quiçá, a plantação de couves com a raiz para baixo.
Para tal, pretende-se instalar, em breve, um viveiro com capacidade de produzir um milhão de mudas de café arábica/ano. O projecto em perspectiva, contará com o financiamento de algumas empresas do sub-sector dos diamantes.
Para início, empresas do sector diamantífero disponibilizaram, a partir de algumas fazendas do Cuanza-Sul, dez camiões de mudas de café arábica.
Do ponto de vista da pecuária, concretamente no município de Caungula, Isaac dos Anjos destacou a introdução de uma espécie bovina resistente à mosca de sono, proveniente da República Democrática do Congo (RDC). Pela sua adaptação e resistência a várias pragas, aconselhou os criadores a adquirir tais raças, multiplicando-as para que no futuro a província seja auto-suficiente na produção de carne.
Mais do que tudo, conforme ordens superiores, Isaac dos Anjos está transformado em secretário do Presidente de Angola para o sector da venda de ilusões. Em Julho do ano passado, por exemplo, quando esteve na província do Bié, repetiu que o Governo aposta forte na agricultura, tal como o MPLA promete há 49 anos. O milho começou logo a crescer de forma vertiginosa…
Isaac dos Anjos, que foi ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, em 1994, num governo de José Eduardo dos Santos, referiu também que o objectivo do Executivo é “acabar com a importação de alimentos nos próximos tempos” (talvez antes de o MPLA completar 100 anos de governação ininterrupta), essencialmente milho, arroz, batata-rena, trigo, mandioca, soja, entre outros produtos que podem ser produzidos nas terras férteis do país.
Isaac dos Anjos visitou, também, os polígonos florestais da Ganga, no Chinguar e do Belchior, em Catabola, projectos sob alçada do Instituto de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas.
O MPLA descobriu a pólvora 49 anos depois de estar no Poder. Recorde-se que em 13 de Abril de 2023, Isaac dos Anjos afirmou que Angola dispõe de condições favoráveis para deixar de importar milho e outros cereais até 2024. Os portugueses já tinham descoberto isso há mais de 50 anos, mas…
Por sua vez, no dia 3 de Fevereiro de 2023, o director nacional da Agricultura e Pecuária do Ministério da Agricultura, Manuel Dias, explicou que a produção angolana de trigo, arroz e cevada regista um défice de 80%, sendo a oferta insuficiente para atender à procura de mercado. Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente em termos agrícolas, entre outros.
Manuel Dias foi orador no painel “O Desafio da Auto-suficiência”, apresentando o tema “Planagrão e Planapecuária”, no 1.º Fórum Nacional da Indústria e Comércio, organizado pelo Ministério do Comércio e Indústria.
Segundo Manuel Dias, a produção total actual de trigo, arroz e cevada atinge as 30 mil toneladas, sendo a importação superior, representando um “défice enorme” para o país. “Quer o trigo, quer o arroz, quer a cevada, o défice anda por volta de 80%, quer dizer, o que nós produzimos não chega, 10 mil toneladas não é nada”, frisou.
O responsável salientou que face a este quadro, o Governo pensou (pelos vistos a equipa do general João Lourenço… pensa) na produção em grande escala, com uma maior produtividade, com maior profissionalismo.
“As necessidades são imensas, nós temos desafios, temos choques da pandemia, climáticos, e precisamos de avançar o mais rapidamente possível”, frisou o responsável, indicando que 80% da farinha usada para a produção de pão é importada.
Por sua vez, o moderador do debate, Fernando Pacheco, considerou que o que está previsto no Planagrão 2023-2027 para o trigo “é inviável”: “Não há nenhuma hipótese de nós atingirmos essa meta, porque nós não temos experiência suficiente de produção de trigo, que nos permita atingir essa meta. O Brasil que está muito mais adiantado que nós – não há comparação sequer -, só agora começa a ter resultados na produção de trigo, de modo a acabar com a importação nos próximos anos”.
“Nós dificilmente conseguiríamos fazer isso e, na minha opinião, o esforço quer técnico quer financeiro a fazer no trigo deveria ser dado à produção de milho e arroz”, opinou Fernando Pacheco.
De acordo com o Planagrão, a produção de milho entre 2017 e 2021 terá aumentado 25%, já o arroz teve uma produção, em 2017, de 8 mil toneladas, ficando um pouco abaixo deste valor em 2021.
Na sua apresentação, Manuel Dias destacou que a importação de milho, nos últimos quatro anos, registou uma taxa de redução de 25%, por outro lado, o arroz, o trigo e a soja verificaram aumento.
Relativamente ao Planapecuária 2023-2027, Angola tem um efectivo bovino de cerca de três milhões, seis milhões para o caprino, dois milhões de suínos e três milhões de aves de capoeira.
O executivo aprovou em 2022, o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos em Angola (Planagrão) para o aumento significativo de arroz, trigo, soja e milho sobretudo nas províncias do leste do país, prevendo recursos avaliados mais de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros).
Também foi aprovado o Plano Nacional de Fomento da Pecuária (Planapecuária), que visa o aumento da produção nacional de carne bovina, caprina, suína e a produção de ovos e leite, no valor de cerca de 300 milhões de dólares (275,7 milhões de euros).
Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;
Assim, Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;
Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salchicharia; tinha quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; tinha pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; tinha pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; tinha pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;
Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor; tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.
E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e….
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