O ano de 2024 está numa louca correria, Janeiro demorou bwé, mas chamou Fevereiro, onde os dias parecem fêmeas, em frenética reprodução. E, o grave é que o Executivo não tem um dedo apontado para a multiplicação das sementes de contenção da fome, miséria, desemprego e baixa dos preços.
Por William Tonet
A desolação é grande! Grande, por inexistir ousadia do regime, em afastar-se da degradante imagem de ver um número indeterminado de cidadãos a alimentar-se nos contentores e monturos de lixo.
Essa insensibilidade do MPLA é transversal ao seu líder, João Lourenço, que por sua vez, contamina o Presidente da República, João Lourenço, “decretador” de desemprego, inflação e impostos…
Um político avisado, no topo da liderança, não deve esquecer a lei da física e da gravidade. Depois de desfilar, não importa o tempo, no pico da pirâmide, a queda é inevitável!
No caso concreto de Angola, a referência de queda não é de um corpo inerte, mas de um ser vivo no encerramento de um mandato, que, se preparado e programado, ao voltar a pisar o chão, o visado pode não ouvir ruídos estridentes: condenatórios, mas ecos das sementes apaziguadas.
Infelizmente, no dia 03 de Fevereiro de 2024, quando se esperava por propostas robustas do líder do MPLA, diante de uma moldura humana significativa, ficou patente, que João Manuel Gonçalves Lourenço não as tem.
O barco está desorientado, sem bússola, sem destino de tal monta, que a task-force, ressonava ante um discurso enfadonho, incapaz de despertar a multidão militante, que augurava mais…
Infelizmente coube-lhe o papel de recolha dos invólucros das balas disparadas contra o art.º 47.º CRA, ameaçando a pretensão da UNITA realizar manifestações, para reivindicar a convocação e marcação das primeiras eleições autárquicas.
Falta uma lei. Diz o chefe. É verdade!
Mas é falso, o líder e o MPLA, não serem responsáveis pela não aprovação da “Lei para a Institucionalização das Autarquias Locais”. Eles têm a maioria parlamentar e adiam deliberadamente. Assim, se a culpa não é de João Lourenço (será que não é?), que tenta outro muro, com aumento de municípios e províncias, baseado numa monocrática divisão administrativa, tão pouco pode ser imputada a Adalberto Costa Júnior.
Isso mostra que o MPLA não quer nem as autarquias, tão pouco higienizar o país, para um processo de transição pacífico de acordo com o n.º 2 do art.º 113.º CRA: “cada cidadão pode exercer até 2 mandatos como Presidente da República”.
A truculência verbal, a falta de humildade e a indiferença quanto a necessidade de unidade interna no MPLA e o apaziguamento das relações com o maior partido da oposição, justificam as suspeições de Marcolino Moco, apresentadas numa entrevista a Essencial: “os sinais não indicam que ele vai deixar, mas eu gostaria de acreditar, mas João Lourenço não é claro nas respostas quando lhe é colocada a questão”.
Por estas e outras razões, recorda Moco, não se pode banalizar as “alterações na Constituição para terceiros e quartos mandatos”, feitas por presidentes obtusos e ditatoriais, que, não saindo com os canhões e a farda dos quartéis, dão, também, com a caneta e a toga de juízes, autênticos golpes de Estado.
Estes desvarios ocorrem quando o passivo do Presidente da República é pesado e “não está preparado para deixar o lugar à disposição, por acreditar que quando se perde o poder, perde-se tudo”, diz o ex-secretário geral do MPLA.
João Lourenço pensa assim… Com temor, dado os anti-corpos criados quando em 2017, ascendeu, por outorga pessoal de JES, ao poder, lançando granadas para tudo e todos, ligados ou próximos ao anterior líder.
Daí que Marcolino Moco seja, também, um dos que acreditam, que para afastar esse fantasma seja necessário um “pacto de regime. O pacto é para quem está no poder não ter medo, não pensar que vai ter represálias se sair”.
João Lourenço, hoje, com tudo a ruir, amarrado às avultadas dívidas ao FMI, China, Rússia, Brasil, França, Portugal e a uma forte oposição interna, que lhe retira o sono é um homem isolado, na cabeceira da floresta, com muitos medos, ante leões e hienas, desejosos em atacar, quando a arma estiver descarregada…
O discurso ameaçador, no 03.02, despido de qualquer proposta para reduzir a fome, miséria, desemprego, colonização económica, pelos fundamentalistas estrangeiros, foi confrangedor, para os trabalhadores.
Mais ainda, quando elegeu como um dos inimigos a abater, alguém, morto no século XX: o colonialismo português.
Para muitos, uma heresia, verdadeiro desnorte, a afirmação de o MPLA ter feito mais em 50 anos, que o colonialismo em 500.
O próprio povo do MPLA, pesem as jardadas e Tunezas não vibrou, pelo contrário, repudiou, ante a fome que empurra milhares a comer, hoje, no lixo…antes era impensável.
Mas o MPLA tem uma geografia mental indescritível, que transforma o mal em bem e exige, que todos batam palmas. Não!
O MPLA deveria, nessa rentrée política, penitenciar-se pela construção, ao longo do seu consulado, de valas da morte e pantanais vermelhos. Vermelhos de sangue das 80 mil vítimas inocentes, barbaramente assassinadas, sem julgamento, em Maio de 1977, das mais de 40 mil prisões arbitrárias, onde os presos foram torturados, como o eram os judeus pelos nazis hitlerianos.
Mas o líder do MPLA passa ao largo acreditando ter a sua CIVICOP créditos firmados. Não tem! Politiza a acção e desumaniza os actos, com a apresentação de ossadas desconhecidas e ou de animais, segundo denúncias de familiares.
Mas nesta seara o líder do MPLA, decidiu, mais uma vez, qual obsessão, atacar Adalberto Costa Júnior, acusando-o de ter saído do órgão, sem tentar analisar o mérito da decisão do Galo Negro.
Alguns dos seus acham que a estratégia de diabolização permanente, aumenta o ibope dos adversários.
De tal forma, que consideram não um tiro, mas granada no pé, a antecipação de medidas severas, com o soltar de militares e polícias, se a UNITA, ao abrigo do art.º 47.º CRA (Constituição), realizar manifestações, para exigir a convocação e realização das eleições autárquicas, nos 164 municípios.
João Lourenço denunciou que as FAA e a Polícia nacional, são avessas ao carácter republicano, porque têm o “chip partidocrata” das “ordens superiores”…
Violento! Quando vestido de humildade, deveria justificar o facto de não ter sido escravo da sua palavra, quando em 2018 disse (sem arma apontada na cabeça) que convocaria eleições autárquicas em 2020…
Por que foi a promessa assassinada?
Não disse, preferiu, musculadamente, abandonar mais uma oportunidade de se reconciliar com as tribos políticas e populações e correr o risco de, no final constitucional, engrossar o panteão do ostracismo onde foi abandonado, sem honra e glória, José Eduardo dos Santos…
FRENTE INTERNA “DECAPITARÁ” LOURENÇO
O ano de 2027, já esteve mais distante da latitude truculenta. Hoje a tempestade aconselha o comandante do navio a ter contenção, humildade, capacidade de conciliação e reconciliação, quer a nível interno como externo, porque o poder não é eterno…
Ao presidente do MPLA, João Manuel Gonçalves Lourenço se exige, que antes de “sair” (ao final de dois mandatos, cunhados pelo Tribunal Constitucional, nas vestes de Tribunal Eleitoral, através do despacho n.º 5/23, de 06 de Junho, publicado em Diário da República, em homenagem ao n.º 1 do art.º 120.º do Estatuto do MPLA: “o Presidente do Partido encabeça a lista de candidatos, pelo círculo nacional, sendo candidato a Presidente da República”).
A norma limita a apetência a um terceiro mandato, por esta razão deve(ria) ter a ligeireza intelectual de se inclinar, agora, para unir as várias franjas internas, que foram, em hasta pública, selvaticamente, maltratadas, durante os últimos sete anos. De marimbondo -mor (JES) em Lisboa, a ladrões Phd e “camaradas corruptos” da pior espécie, em Luanda.
As mágoas deixadas são profundas e, não é crível que, mesmo Bento Kangamba possa esquecer a humilhação que o actual líder e a PGR lhe fizeram passar, no 29.02.2020, com o rolo de mentiras de estar a fugir com milhões de kwanzas e rands para a Namíbia, sem ter chegado, sequer, perto da fronteira de Santa Clara. Algemado em plena pista de aviação, foi televisionado e as imagens ainda repousam guardadas em milhões de aparelhos e, também, na sua biblioteca mental…
Boavida Neto é forçado a não esquecer o vexame, vivido no 17 Junho de 2019, durante o VIII congresso em que entrou, secretário – geral e saiu como (se fosse) cão tinhoso.
A sanção deveu-se ao repúdio público, que fez, contra o tratamento pejorativo dado ao anterior líder.
Sendo considerado uma afronta a JLO, sem escrutínio dos delegados foi, “boçalmente”, “exonerado” e, proibido, inclusive de participar na cerimónia final de encerramento, qual leproso, não fosse o diabo tecê-las e contaminar o(s) “senhor(es) da vez”…
Noutro ângulo, terá pela frente, outros ofendidos de peso, ávidos de justiça partidária, cível e criminal, por terem visto o bom nome e honra jogados na lama; Pitra Neto, Higino Carneiro, Leopoldino do Nascimento, Manuel Hélder Vieira Dias Kopelipa, Welwitschea dos Santos, Avelino dos Santos, José Filomeno dos Santos, Isabel dos Santos, Ismael Diogo, Manuel Rabelais, Catarino dos Santos, Norberto Garcia, entre outros.
O antigo homem forte do GRECIMA, Manuel Rabelais tem um caso enigmático, forçado a entregar a TV Palanca e outro património (inclusive de sócios), ao abrigo de um acordo assinado com o executivo, depois de antes ter sido recebido, na sede do MPLA, por João Lourenço. Mas quando pensava ser o gesto, causa bastante de absolvição, o martelo do juiz, “traiu-o”, no 12.04.21, ao condená-lo à 14 anos e meio de prisão pelos crimes de peculato e branqueamento de capitais e o adjunto, co-arguido Hilário Gaspar Santos, a uma pena de 10 anos e meio de prisão. Ambos acusados de defraudar o Estado em 23 mil milhões de kwanzas (cerca de 30 milhões de euros).
E o rolo de magoados, não para com Joaquim Sebastião, Augusto Tomás, Walter Filipe, Jorge Gaudens, Jean Claude Bastos de Morais, Pedro Lussaty, Carlos São Vicente e uns poucos que desfilaram pelas fedorentas masmorras do regime.
No íntimo não esquecerão, o vexame vivido, ainda que se lhes pretendam mobilizar, para a empreitada de 2027, dificilmente votarão em João Lourenço…
Higino Carneiro, em 2022, ingenuamente acreditou que jiboia pode virar minhoca e empenhou-se de peito aberto com o 4×4 na campanha mas… logo depois, no 09.03.2023, a PGR banaliza os seus feitos, acusando-o pelo crime de peculato e ter dado um prejuízo de mais de 100 milhões de dólares aos cofres públicos, durante o período (2012-2016) em que foi governador do Kuando Kubango, beneficiando a empresa de construção civil da filha e genro, NNN, Lda.
Hoje, vegeta nas ruelas da vergonha e a sua pretensão de poder concorrer à presidência do partido em 2027, foi alvo de chacota, por órgãos do sistema…
Ainda nos contrários, seguramente, se juntará, Maria Eugénia Neto e Irene Neto, também com motivos para não esquecerem a exposição pública, que, como viúva e filha do primeiro presidente da República Popular de Angola/MPLA, Agostinho Neto foram e são expostas como membros da máfia corrupta, que desde 1975, vem delapidando os cofres públicos.
O genro Carlos São Vicente (marido de Irene Neto) esteve desde Setembro de 2020 preso, em prisão preventiva e, aos 24.03.2022 foi condenado a 9 anos de prisão efectiva pelos crimes de corrupção, branqueamento de capitais, fraude fiscal e ao pagamento de uma indemnização de 500 milhões de dólares, ao Estado.
O tribunal apontou desvios de mais de 900 milhões de dólares, afastada pela defesa, alegando nunca ter o Ministério Público sido capaz de provar.
E, enquanto isso, antes de trânsito em julgado, a família de Agostinho Neto vai assistir, de camarote, à venda de 33 imóveis – hotéis IU, construídos por São Vicente e Irene Neto…
Por tudo isso, o presidente do MPLA deve atinar o contexto e a fragilidade do regime, aproximando-se mais de franjas não bajuladoras e moderadas. Marcolino Moco tem coluna vertebral, frontalidade e higiene intelectual, que não deve ser menosprezado.
Não mente! Tem coragem e as suas críticas podem, se acolhidas, servir de lamparina, para o rejuvenescimento do MPLA, ainda que seja uma hercúlea tarefa, face a impopularidade, crítica situação económica e social do país, aliada ao facto de não conseguir afastar os crimes e injustiça cometidos, contra adversários internos, oposição e sociedade civil, desde 1975.
Por tudo isso, agravado ao facto do MPLA se ter convertido num partido de extrema-direita, abandonando a esquerda e esmagado sindicatos, classes operária e camponesa. Hoje é uma GCE (Grande Central de Emprego), como demonstrado no comício de 03 de Fevereiro de 2024, em Luanda, para abertura do ano político, onde o dinheiro esteve na base da “juntação” de milhares de figurantes contratados. Segundo uma fonte de F8, a despesa com o acto chegou aos cerca de 480 milhões de kwanzas.
“E não vamos recuperar, tão facilmente, Luanda, por causa da delinquência, desemprego e miséria”, afirmou ao F8, o jurista Domingos Manuel do CAP do Sambizanga.
O presidente do MPLA ainda que pense, não tem unanimidade, mesmo depois de “expulsar” e acantonar velhas raposas e convertido as estruturas centrais (BP e CC), num parque infantil, onde pontifica a “pedofilia ideológica”, com menina na flor da maioridade (18 anos CRA), a ter assento no comité central…
Com quantos anos se enquadrou e caminhou, pelos bairros pobres da Huíla, nas estruturas de base: OPA, JMPLA e CAP’s?
Essa e outras decisões aceites sem contestação, mostram fragilidade óssea e mental de dirigentes, manchados pela covardia, medo, incompetência, arrogância e corrupção, que preferem não criticar, por causa das mordomias, mesmo vendo a derrocada do partido, muito, também, pela equipa de João Lourenço, com Luísa Damião, Paulo Pombolo, Rui Falcão e outros, vista como tóxica, com impressões no aumento da impopularidade dos “camaradas”, em Luanda e resto das províncias.
Tudo isso, agravado ao facto do MPLA ter deixado de ser de esquerda, para se converter em partido de extrema direita, filiado ao FMI, Banco Mundial e capitalismo especulativo, avesso a melhoria das condições sociais dos cidadãos.
O MPLA é hoje, uma GCE (Grande Central de Emprego), tem militantes, que não se revêem na sua ideologia, mas na facilidade de concessão de emprego. No comício de 03 de Fevereiro de 2024, em Luanda, na abertura do ano político, estiveram muitos militantes/empregados e contratados, com dinheiro público, que garantiram a “juntação” de figurantes, jardadas, dançarinos, a quem davam “kumbú e camisola. Toda esta engenharia custou aos cofres públicos e… ?partidários, a astronómica, quantia de cerca de 480 milhões de kwanzas, segundo fonte de F8.
“Porque quando o chefe vai a um sítio, o dinheiro aparece, de qualquer forma”, enfatizou.
Assim anda a indecência casada com a política governante, que nega salários dignos aos trabalhadores da Função Pública, mas escancara os cofres às bunda(nte)s.
A filosofia indígena diz que um político é como uma arma, serve para ser trocado, pacificamente, ou não!
SINDICATOS CONTRA EXECUTIVO
As convulsões sociais, se multiplicam, ainda em tom menor, calcorreando as “avenidas mentais” da maioria dos autóctones desempregados, “famintos dos contentores de lixo”, zungueiras, ambulantes e, também, das classes profissionais: médicos, professores, enfermeiros, taxistas, activistas e intelectuais, que discutem, frustrados, a criação de um amplo sindicato nacional, para marchar em prol de um Estado de Direito e Democrático, face o descaso e desrespeito de João Lourenço, contra estas importantes classes profissionais e populares, esquecidas, até no discurso do 03.02.24.
O objecto principal, destes exércitos de trabalhadores e discriminados, será o de alterar, pela via democrática, o quadro actual de desnorte político, com acções coordenadas, para o país se livrar das amarras do autoritarismo, em 2027.
Na primeira quinzena de Março de 2024, se não existirem traições, da parte dos líderes sindicais e a anunciada greve nacional das duas maiores centrais sindicais: CGSILA e UNTA, dará início à grande marcha em direcção às canoas da mudança e verdadeira reforma constitucional do regime.
O buraco do líder do MPLA está a entrar água, logo mais fraco, pese ainda dominar os órgãos de soberania e as forças de defesa e segurança, mas o facto de ninguém ousar falar-lhe dos desacertos e erros clamorosos, nem mesmo na Assembleia Nacional, indiciam dificuldades em vingar a estratégia sub-reptícia de um terceiro mandato.
O maior erro de um político é quando perde a oportunidade de ser líder para se converter em chefe de facção.
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