EUA QUEREM ANGOLA A TRAVAR RUSSOS

Angola e os Estados Unidos da América (EUA) assinaram, quinta-feira, em Washington, um acordo de cooperação militar, para uma assistência técnica e logística mais estreita entre as Forças Armadas dos dois países.

Um comunicado de imprensa enviado à refere que delegações ministeriais de ambos os países estiveram reunidas durante dois dias na capital norte-americana, com vista ao reforço das relações no campo da defesa.

Angola pretende dos EUA o fortalecimento da capacidade técnica e operacional, como a aquisição de um sistema de construção de máquinas de última geração e de pontes, veículos de transporte e logística, uma frota de veículos tácticos leves, aeronaves, entre outros equipamentos.

Os dois países vão prosseguir uma relação de segurança mais estreita, algo que voltará a ser discutido na segunda reunião do comité, a realizar-se em Luanda, em 2025, como prevê o Memorando de Entendimento assinado por Angola e Estados Unidos, em 2017, segundo a nota.

O acordo de cooperação foi assinado pelo secretário de Estado para os Recursos Materiais e Infra-estruturas do Ministério da Defesa e Veteranos da Pátria, Afonso Carlos Neto, e pela vice-secretária de Estado adjunta principal da Defesa para os Assuntos de Segurança Internacional norte-americana, Tressa Guenov.

Na semana passada, o ministro da Defesa e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos, visitou o Pentágono (sede do Ministério da Defesa dos EUA), onde se reuniu com o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin.

Na ocasião, o governante angolano disse que Angola projecta o fomento de políticas de defesa e segurança africanas para alcançar a paz, a estabilidade, a coesão e o aprofundamento dos projectos continentais.

Explicou que o país assume uma estratégia de cooperação nos domínios bilateral e multilateral, com vista à sua ascensão competitiva no cenário internacional, preservando cada vez mais os seus interesses no continente e no mundo.

A visão estratégica de Angola, disse, prioriza a sua inserção em todas as áreas possíveis de interesses nacionais, continentais e internacionais, especialmente no âmbito das organizações regionais africanas em que está inserida e com as quais tem afinidades geográficas, históricas e culturais mencionadas acima.

Para João Ernesto dos Santos, o espaço geoestratégico e geopolítico em que Angola está inserida requer uma atenção especial devido às profundas complexidades históricas, geográficas, económicas e culturais das comunidades mencionadas.

Recorde-se que, no dia 25 de Janeiro, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reuniu-se com o Presidente angolano, general João Lourenço, num encontro – só por si revelador da pujança democrática de Angola – em que estiveram igualmente presentes mais três dos mais generais dos nossos generais, a saber, o Presidente do MPLA, o Titular do Poder Executivo e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (apartidárias).

Para Antony Blinken foi uma rara oportunidade, e – é claro – um privilégio estar com alguém que julga ser um Estadista de alto gabarito, podendo complementarmente analisar (e receber lições) as relações bilaterais e os compromissos assumidos na cimeira EUA-Africa em áreas como o clima, segurança alimentar, saúde, economia e comércio.

Outros temas em debate, foram o desenvolvimento de uma parceria baseada em valores partilhados que promovam o respeito pelos direitos humanos e as liberdades fundamentais (que o MPLA já assumiu implementar nos próximos 52 anos), o reforço da segurança mútua e o Estado de direito. Recorde-se que Angola já é um Estado de direito, na variante se ser propriedade privada e privativa do MPLA.

Além do encontro com João Lourenço, Antony Blinken esteve também com o chefe da diplomacia angolana, Téte António, num dia que começou com uma visita ao Centro de Ciência de Luanda, seguindo-se um encontro na operadora de telecomunicações com capitais norte-americanos, Africell.

Os Estados Unidos e Angola mantêm relações diplomática há 30 anos e o país foi recentemente reconhecido pelos norte-americanos como um parceiro estratégico em África (na vertente de sipaios de luxo e recém divorciados de Vladimir Putin ), “fundamental para a promoção dos objectivos comuns de expansão da prosperidade económica e do acesso à energia, da defesa da democracia e dos direitos humanos, e do avanço da segurança regional”, segundo a nota do Departamento de Estado.

No ano anterior, o Presidente norte-americano, Joe Biden, teve o raro prazer de ser recebido pelo general João Lourenço na Casa Branca (a ordem dos factores é arbitrária!), em 30 de Novembro, enquanto Angola acolheu o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o enviado de Biden, Amos Hochstein.

Em Novembro de 2023, os EUA e Angola assinaram os Acordos Artemis, na área da exploração espacial e iniciaram um “acordo bilateral de céus abertos”, para facilitar as ligações aéreas entre os dois países.

Aproveitando o balanço, vários líderes da oposição angolana entregaram na Embaixada dos Estados Unidos em Luanda uma carta endereçada ao secretário de Estado norte-americano, a pedir que pressione o Presidente, general João Lourenço, a realizar eleições autárquicas antes de 2027 e que ele já prometera realizar em 2020.

Os signatários da carta pediram a Antony Blinken que apoie um Estado democrático e de direito em Angola e pressione o general dono de Angola a realizar as primeiras eleições autárquicas no país, “o único grande país da região sem líderes eleitos a nível local”, a desmantelar as instituições partidarizadas e a permitir acesso de todos os atores políticos aos meios de comunicação social públicos.

A visita de Antony Blinken a África, que teve passagem por Cabo Verde, República Democrática do Congo, Costa do Marfim e Nigéria, surgiu num contexto em que os Estados Unidos procuram marcar posição face a avanços da Rússia e da China no continente.

Já em Angola, Antony Blinken disse que a capacidade produtiva em África deve ser reforçada com mais investimento e tecnologia para melhorar a segurança alimentar.

Na sua primeira declaração em território angolano, que teve lugar no Centro de Ciência de Luanda, ponto inicial da visita à cidade, Antony Blinken considerou o espaço “simbólico” da colaboração entre os dois países, apontando as parcerias na área da ciência.

Destacou a adesão recente aos Acordos Artemis para o uso pacífico da exploração espacial e sublinhou a utilização dos dados recolhidos na investigação espacial para responder a preocupações como a mitigação dos efeitos da seca e o uso eficaz da água.

Angola, continuou Antony Blinken, é também um dos primeiros países a juntar-se à Visão para as Culturas Adaptadas e Solo (VACS, na sigla inglesa), com que os Estados Unidos pretendem lidar com a segurança alimentar.

Antony Blinken disse que durante os seus encontros em África tem ouvido os seus parceiros falar sobre a necessidade de investimentos na sua capacidade produtiva, porque “precisam de ter um sistema forte para produzir alimentos”, começando com duas coisas básicas, as sementes e o solo.

Exemplificou – parecendo até que se estava a candidatar a um cargo de auxiliar do Titular do Poder Executivo – com o caso de Angola, onde algumas sementes tradicionais “incrivelmente nutritivas” podem ser tornadas mais resistentes aos efeitos da seca.

“Se tivermos sementes de qualidade e as pusermos num solo de qualidade, podemos ter um sistema mais resiliente e nutritivo”, acrescentou Antony Blinken, explicando que a iniciativa VACS, que está a ser construída com Angola e outros parceiros africanos, pretende ajudar África a alimentar-se e a alimentar outras partes do mundo.

“Queremos atingir novos picos, no espaço e na terra, e mostrar como estas duas coisas estão ligadas”, salientou Antony Blinken, qual chefe de posto colonial quando discursava para os sipaios voluntariamente amarrados…

No centro destas parcerias, continuou Antony Blinken, está a partilha e a transferência de tecnologia.

“Isso é tão importante como o investimento porque é isso que gera capacidade nos nossos países e lhes permite estarem fortes”, disse o responsável norte-americano.

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