DIPLOMA UNIVERSITÁRIO NÃO É SINÓNIMO DE INTELIGÊNCIA

Os chamados intelectuais, aqueles que deveriam ser os faróis da sabedoria e progresso, revelam-se, em muitos casos, como sendo os maiores ignorantes que o país possui. O povo angolano não pode continuar a ser refém de uma elite intelectual que age mais como um obstáculo do que como um motor de progresso.

Por Malundo Kudiqueba

A elite angolana é intelectualmente corrupta. A corrupção intelectual aliada à corrupção económica, representa uma ameaça significativa ao desenvolvimento sustentável e à justiça social. Ambas devem ser combatidas com igual vigor, pois, a corrupção intelectual prepara o terreno para a corrupção económica ao distorcer a verdade e manipular a percepção pública.

No contexto actual da nossa sociedade, a obtenção de um diploma universitário é frequentemente vista como um marco de sucesso e um indicador de inteligência. No entanto, essa perspectiva está longe de ser consensual. Na realidade, temos muitos analfabetos licenciados no país – indivíduos que, apesar de terem concluído um curso superior, demonstram uma preocupante falta de habilidades críticas, práticas e éticas que são fundamentais para a verdadeira inteligência.

Hoje trago uma mensagem de reflexão para muitos licenciados e doutores angolanos e relembrar que arrogância intelectual é sinónimo de ignorância. Concluir uma licenciatura ou um doutoramento é o princípio de uma longa caminhada e não o fim como muitos de vocês pensam em Angola.

Se vocês querem falar de inteligência temos em primeiro lugar distinguir a inteligência académica da inteligência prática. O sistema de educação tradicional tende a privilegiar a memorização de conteúdos e a capacidade de passar em exames, muitas vezes em detrimento do desenvolvimento de habilidades como o pensamento crítico, a resolução de problemas, a criatividade e a empatia.

A verdadeira inteligência, no entanto, é multifacetada e não pode ser medida apenas pelo desempenho académico. Pessoas que possuem um vasto conhecimento teórico podem falhar em aplicar esse conhecimento de maneira eficaz em situações do mundo real.

Além disso, a educação universitária muitas vezes não proporciona as competências necessárias para lidar com os desafios práticos da vida e do trabalho. Muitos licenciados entram no mercado de trabalho sem a capacidade de resolver problemas práticos, comunicar-se de forma eficaz ou trabalhar em equipa. Essa lacuna entre a educação teórica e as habilidades práticas necessárias é um dos principais factores que contribuem para a existência de “analfabetos licenciados” – indivíduos que possuem diplomas, mas carecem de habilidades fundamentais para o sucesso profissional e pessoal.

Outro aspecto a considerar é a ética e a integridade. Um diploma universitário não garante que uma pessoa tenha desenvolvido um forte senso de ética ou responsabilidade. Infelizmente, testemunhamos frequentemente casos de profissionais altamente qualificados envolvidos em práticas corruptas e antiéticas. Isso destaca a necessidade de realçar que o sistema educativo vá além do conhecimento técnico e promova valores como a honestidade, a responsabilidade e o respeito pelo bem comum.

No contexto de Angola, essa questão é particularmente relevante. A proliferação de instituições de ensino superior e a mercantilização da educação têm contribuído para a produção em massa de licenciados que, muitas vezes, não estão adequadamente preparados para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e da sociedade. Isso não só prejudica a credibilidade do nosso sistema de ensino, mas também compromete o desenvolvimento do país, ao produzir uma força de trabalho que carece das competências necessárias para impulsionar a inovação e o crescimento sustentável.

Outro aspecto crítico é a falta de habilidades práticas. Muitos licenciados saem das universidades com uma bagagem teórica extensa, mas sem a capacidade de aplicar esse conhecimento de maneira prática. Isso reflecte-se na ineficácia e incompetência que muitas vezes observamos em várias esferas do sector público e privado. A educação deve preparar os indivíduos não apenas para compreender o mundo, mas para agir de forma eficaz dentro dele.

Para enfrentar esses desafios, é imperativo reformar o nosso sistema educacional. Devemos promover uma educação que vá além da sala de aula e do currículo tradicional, incorporando experiências práticas, projectos comunitários e estágios que permitam aos estudantes aplicar o que aprenderam. Devemos incentivar a participação activa em debates e actividades que fomentem o pensamento crítico e a resolução de problemas.

Para combater essa situação, é essencial promover uma reforma profunda no sistema educativo que valorize a qualidade sobre a quantidade. Isso inclui a revisão dos currículos para assegurar que eles promovam o desenvolvimento de habilidades críticas, práticas e éticas, além do conhecimento teórico. As instituições de ensino superior devem ser responsabilizadas pela qualidade da educação que oferecem e pela preparação efectiva de seus estudantes para o mercado de trabalho e para a vida cívica.

Além disso, devemos valorizar e investir em formas alternativas de educação e formação, como o ensino técnico e profissional, que muitas vezes são negligenciados em favor da educação universitária tradicional. Esses caminhos podem fornecer habilidades práticas e relevantes que são extremamente valiosas no mercado de trabalho e que contribuem significativamente para o desenvolvimento económico e social.

O ensino universitário é uma parte importante do desenvolvimento intelectual e profissional, um diploma por si só não é um indicador definitivo de inteligência ou competência. Precisamos de adoptar uma abordagem mais holística e inclusiva à educação, que valorize tanto o conhecimento teórico quanto as habilidades práticas e éticas. Só assim poderemos assegurar que nossos licenciados estejam verdadeiramente preparados para contribuir de maneira significativa e positiva para a sociedade.

É crucial reconhecer que a verdadeira inteligência vai além de um pedaço de papel e manifesta-se na capacidade de aplicar o conhecimento de maneira prática e ética para resolver os problemas do mundo real. Precisamos de humildade intelectual e não arrogância até porque se vocês fossem realmente intelectuais o País estaria melhor.

Que tipo de intelectuais são vocês quando o País está todo desconfigurado e irreconhecível? Nos últimos tempos temos vindo assistir à banalização da palavra “Doutor” em Angola. Este desabafo tem alguns destinatários e não é extensivo para os nossos bons profissionais.

Nota. Imagem criada com base num cartoon de Sérgio Piçarra

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