Adalberto da Costa Júnior, líder da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, acusou o procurador-geral da República de ser uma “bengala do poder político” e apelou a Hélder Pitta Gróz que melhore o seu trabalho e não fique “no silêncio das ordens políticas”. Não é nada que os angolanos que não têm o cérebro nos intestinos já não soubessem, mas é bom ir lembrando.
Adalberto da Costa Júnior falava em Lopitanga (município de Andulo), no Bié, reagindo perante militantes da UNITA à decisão do Presidente João Lourenço de nomear o general Pitta Gróz para um novo mandato de cinco anos, dando sequência à sua brilhante estratégia de trocar seis por meia dúzia.
Como o Folha 8 noticiou, João Lourenço recebeu, na segunda-feira, os três nomes mais votados pela Comissão Eleitoral do Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público, sendo a procuradora Inocência Pinto a preferida dos magistrados (11 votos), enquanto Hélder Pitta Gróz e o vice-procurador Mouta Liz empataram com dez votos.
É de crer que o problema reside no número “11”. Nos dirigentes do MPLA, contar além de “10”, é um grave problema porque obriga a que tenham de se descalçar…
“É uma pessoa simpática e educada, mas a nossa leitura é que não cumpriu bem o seu mandato anterior e, quando não se cumpre bem, não se renovam mandatos [a pessoas] que não cumpriram a sua missão de defender a República, defender os angolanos, defender as leis, defender o Estado”, criticou Adalberto da Costa Júnior.
O presidente da UNITA disse que a Procuradoria-Geral da República do MPLA (PGR) “tem sido uma bengala do poder político que governa o país” (há mais de 47 anos) e criticou o silêncio perante o que chamou de violações dos direitos de activistas cívicos, discriminação de militantes dos outros partidos, falta de pluralidade e perseguição aos líderes dos outros partidos.
“O que é que fez a PGR perante a diabolização dos adversários?”, questionou. “Nada”, responderam os militantes.
O dirigente da UNITA considerou que o general Pitta Gróz está a ser reconduzido porque “cumpriu o programa de quem governa e de quem quer manter o programa partidário acima do interesse nacional” e exigiu uma justiça independente.
“Não queremos uma justiça partidária que não cumpre o seu papel, que não protege o cidadão, que se comporta de maneira cobarde, que recebe ordens políticas. Esta justiça não serve Angola”, salientou, apelando a Pitta Gróz a que “melhore o seu trabalho, cumpra as leis e não fique no silêncio cobarde das ordens políticas”.
Diga-se, contudo, que não é correcto dizer que o general Pitta Gróz não cumpre as leis do reino. Na verdade, ele cumpre as leis de quem manda, o MPLA, e que é uma entidade que está acima da própria Constituição.
Recorde-se que o general Pitta Gróz, de 67 anos, tinha comunicado a 23 de Dezembro que não iria concorrer à renovação do seu mandato, mas disse depois (certamente cumprindo ordens superiores) aos seus pares que alterou a decisão que tomou na altura, alegando “que havia a orquestração de uma campanha” que visava denegri-lo, “violando todos princípios éticos que devem pautar a ambição pessoal”.
Numa mensagem endereçada aos membros do CSMMP, o procurador-geral afirmou que achou melhor na altura afastar-se “do que conviver com hipocrisia”. Mas, na verdade, sendo a hipocrisia parte relevante do ADN do MPLA, o melhor mesmo é – segundo Pitta Gróz – continuar a sustentar-se, e a sustentar, a hipocrisia.
“Entretanto, daí para frente, fui contactado por diversas pessoas, quer magistrados como de fora da magistratura, para repensar na minha decisão”, acrescentou Pitta Gróz, sublinhando que alterou a decisão tendo em conta que o interesse público deve vir em primeiro lugar. Interesse quê? Ah. Interesse público a favor dos interesses privados.
“Assim foi toda minha vida. Defendo que a melhor campanha é o trabalho, observação de valores éticos, respeito, transparência e coerência no agir, no fazer…. na interacção”, comunicou aos membros do CSMMP que no dia 24 vão escolher três nomes.
Ao falar de “valores éticos, respeito, transparência e coerência no agir”, Pitta Gróz escreve um (mais um) brilhante capítulo do anedotário nacional, sério candidato a liderar o pódio da falta de valores éticos, respeito, transparência e coerência.
O líder da UNITA deslocou-se até ao Bié no âmbito das cerimónias fúnebres de Araújo Kacyke Pena, sobrinho de Jonas Savimbi, que descreveu como “um filho de uma família que tem muitos mártires dedicados a este país e ao partido”.
É também em Lopitanga que foi sepultado o fundador do partido do “Galo Negro”, Jonas Savimbi, cujos restos mortais (que se presume serem mesmo de Savimbi) foram transladados para a sua terra natal depois de ter sido morto em combate no Luena (Moxico), a 22 de Fevereiro de 2002.
Folha 8 com Lusa