NEM O FILHO DE POLÍCIA ESCAPOU

A manifestação no bairro Uíge, no distrito Urbano do Sambizanga, em Luanda, nesta quarta-feira, seria pacífica e ordeira. De acordo com os residentes, infelizmente, terminou com detenções, gás lacrimogénio, disparos e a morte de duas pessoas e um jovem ferido. O caricato neste rol da equipa policial divididos entre “assassinos e de ordens superiores”, o jovem baleado é filho de um dos comandantes daquela operação no bairro Uíge. Enquanto ordenava a mistura de gás lacrimogéneo, disparos contra qualquer cidadão que ali passava, umas das balas das forças policiais atingiu mortalmente o seu próprio filho.

Por Elias Muhongo e Osvaldo Kaholo

A manifestação que teve como objectivo a reclamação da asfaltagem da estrada da Tecno-carro ao bairro Uíge, cuja obras encontram-se paralisadas há mais de nove anos por falta de recursos, coincidiu com uma manifestação pelos moradores (jovens) a pedirem a exigência de melhores condições naquele que é um dos bairros mais precários da capital, próximo ao centro da cidade.

A Polícia Nacional do MPLA, agora capitaneada pela dupla LL, Lourenço e Laborinho continua a distribuir rebuçados e chocolates assassinos. Ontem, 15 de Fevereiro de 2023, a longa lista de homicídios, que já vai em mais de 1.859 civis inocentes (2017-2023), os policiais da dupla assassinaram mais um adolescente de 16 anos, caricatamente, filho de oficial da Polícia.

Os cidadãos do Bairro Uíge, no Distrito Urbano do Sambizanga, convindo sensibilizar as autoridades para a resolução dos graves problemas de saneamento, responsável pelo aumento do paludismo, malária e diarreias, tentaram uma manifestação pacífica. Quando se pensava ser este um direito preservado pela Constituição, eis que a Polícia Nacional do MPLA, munida de aparato desproporcional, investiu contra os pacatos cidadãos, com gás lacrimogénio, disparos, detenções e, para não variar, com o assassinato de duas pessoas, dentre os quais um menor de idade, tendo ainda ficado ferido um jovem.

O caricato nesta saga assassina das ordens superiores Lourenço e Laborinho, é o de um dos assassinados, Sérgio Bino, ser, precisamente, filho de um oficial da Polícia, que, ao que parece, noutras e nesta ocasião, em cumprimento das ordens sem reflectir, também, manda disparar contra os filhos dos outros… Ontem, quarta-feira, 15, o azar bateu-lhe à porta levando-o a pensar que leis injustas, como diz a Constituição e a Lei 4/94 dos Crimes Militares, não são para ser cumpridas. Agora, por reclamarem melhores condições naquele que é um dos bairros mais precários da capital, o regime respondeu com a Lei da bala, de quem dirige para MATAR e não para SERVIR O CIDADÃO.

Ao que tudo indica, na República de João Lourenço, foi extinta a garantia dos cidadãos, no que toca à liberdade de reunião e de manifestação, plasmado no artigo 47. Ontem foi precisamente o dia que a maioria dos residentes recordaram o jovem Inocêncio de Matos, um jovem activista angolano que participava numa manifestação contra o elevado custo de vida. Os protestos ocorreram a 11 de Novembro de 2020.

Um agente da polícia diz que “apenas cumpriu o seu dever de manter a ordem na manifestação de 15 de Fevereiro”, mas reconhece que a manifestação era somente para reivindicar a péssima estrada que o povo tem vindo a registar. Muitos jovens que protestavam foram detidos e torturados brutamente pela Polícia Nacional.

A equipa do Jornal Folha 8 e a TV8, esteve no terreno, pedindo esclarecimento da polícia ali no local, depois de sucessivos perguntas, os agentes diziam que “não temos ordem para falar, liguem ao porta-voz”, ouvimos do Intendente o seguinte: “o comando provincial da polícia em Luanda sabe o que está a ocorrer aqui, desde as 5 horas”.

A nossa equipa insistiu, perguntando o que é e por quê estava a ocorrer ali? O comandante disse que “os jovens estavam simplesmente a manifestar pelas condições da estrada”. Questionado sobre a morte do adolescente, “remeteu as instâncias superiores: “O porta-voz é o único que está autorizado a falar. Eles têm conhecimento de tudo que está a ocorrer aqui desde as 5 horas”.

Adão José Kamana, um dos participantes, contou ao Jornal Folha 8 e à TV 8 que “hoje mataram mais um inocente, filho de alguém que faz parte da polícia nacional, o adolescente que estava apenas a assistir e sentiu-se comovido pelo bem-estar de todos, sendo alguém que teve conhecimento que o pai era da polícia e trabalhava naquele local, o disparo foi brutalmente para a cabeça. Enquanto os manifestantes gritavam queremos melhores condições, boas estradas e violências, não. Um dos polícias sacou a sua arma e disparou mortalmente contra o adolescente. Para se exigir responsabilidade criminal e civil, está agendada uma manifestação para esta (quinta-feira, 16), aqui no mesmo local. Estaremos a homenagear o Sérgio e as melhores condições das estradas, é um jovem que se foi com os 16 anos de idade que deveria fazer uma boa coisa pela nossa sociedade”.

“O que se vê no nosso país é uma pena, pois o que mudou com a morte de Inocêncio de Matos, o jovem que vivia aqui próximo e que clamava por melhores condições de vida, Nada”, lamenta Adão José Kamana. Há, inclusive, pessoas a morrer de fome em Angola. Acrescentado que, “a população em geral tem tomado de assalto os contentores de lixo, isto é um índice bastante esclarecedor, as estradas estão péssimas no nosso país, por si só, de como o custo de vida está”, exemplifica o morador.

A equipa do F8 e da TV8 também se deslocou ao bairro Uíge e São Pé da Barra – zona periférica de Luanda onde Inocêncio morava. Olhamos e conversamos com crianças, jovens e adultos, sobre a luta por um balde de água potável. Numa altura em que o presidente da República, João Lourenço, “brinda” 45 Conselheiros do Conselho Económico e Social com carros de 200 mil dólares.

“É comum vermos, em Angola, a Polícia, através do comando central ou do Governo provincial, uma ideia formatada de que devem reprimir as manifestações, o que é ilegal, inconstitucional e não dignifica o Estado democrático e de Direito, em muitos os casos a polícia causa mais danos do que os manifestantes tudo por causa do excesso do uso da força”, aponta o professor Universitário, Gonçalves Manuel.

Acrescentando que “já vimos várias manifestações em que as pessoas são mortas, baleadas e torturadas, é de chorar e reflectir, esta brutalidade que aconteceu no bairro Uíge, sendo filho de um dos agentes que coordenava a missão e enquanto, ordenava a mistura de gás lacrimogéneo, disparos contra qualquer cidadão que ali passava, umas das balas das forças atingiu o seu próprio filho pela cabeça, é algo que a polícia deve reflectir, lamenta.

O Folha 8 contactou o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, superintendente-chefe Nestor Goubel, sem sucesso.

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