NÃO HAVIA MAIS NENHUM SORIA DISPONÍVEL?

O ministro dos Transportes do MPLA, Ricardo de Abreu, exortou hoje a nova administração da companhia aérea angolana, TAAG, a trabalhar para o pleno funcionamento das frotas e satisfação dos passageiros das rotas domésticas e internacionais para a recuperação da confiança da transportadora.

Nada mal. Ricardo de Abreu demorou uma infinidade de tempos a descobrir, e agora reconhecer, que a Administração da TAAG deve trabalhar para o pleno funcionamento das frotas e satisfação dos passageiros das rotas domésticas e internacionais para a recuperação da confiança na transportadora. Não foi por falta de avisos. O Folha 8 deu um assinalável contributo, quantitativo e qualitativo, para que o ministro acordasse…

Segundo um comunicado de imprensa, Ricardo de Abreu falava durante um encontro alargado com os colaboradores da companhia, em que apresentou os novos membros do Conselho da Administração, indicados na terça-feira conforme o Folha 8 noticiou.

Aos novos membros da administração da TAAG, nomeadamente António dos Santos Domingos, presidente do Conselho, e Nelson de Oliveira, presidente da Comissão Executiva, o ministro pediu que “sejam as forças motoras da resolução dos problemas que impedem a empresa de avançar e de se posicionar como companhia de referência”.

“A navegabilidade atempada da frota existente nas rotas em funcionamento e a garantia da satisfação nas rotas domésticas e internacionais dos passageiros da TAAG têm vindo a enfrentar obstáculos que temos de resolver de uma vez por todas”, disse Ricardo de Abreu, citado no comunicado.

De acordo com o governante, foi “justamente a pensar na sua eficaz resolução que os accionistas da companhia procederam às alterações ontem (terça-feira) anunciadas e hoje aqui apresentadas”.

“Peço, por isso, a António dos Santos Domingos e a Nelson de Oliveira que se empenhem pessoalmente e em equipa, de mãos dadas com todos os que fazem parte da TAAG, neste objectivo comum que é premente atingir e resolver”, afirmou.

Para o ministro dos Transportes de Angola, os accionistas da companhia área estatal “esperam, obrigatoriamente, a entrega de resultados por parte daqueles a quem confiam a gestão dos seus activos”.

Salientou que os colaboradores da empresa e a tutela esperam o “pleno funcionamento” da frota e das rotas em que a companhia opera, quer em Angola, quer no estrangeiro, “bem como a sua extensão e recuperação da confiança e preferência dos passageiros”.

Considerou ainda na sua intervenção, acrescenta-se no comunicado, que para que a TAAG se mantenha uma companhia relevante “é necessário que a sua gestão assegure o seu crescimento orgânico, assente na modernização funcional e digital do seu desempenho”.

A alteração do Conselho de Administração da TAAG foi formalizada, na terça-feira, numa assembleia geral extraordinária da companhia, que tem como accionistas o Instituto de Activos e Participações do Estado (50%), a Empresa Nacional de Navegação Aérea (40%) e o Fundo Social dos Funcionários e Trabalhadores do Sector dos Transportes (10%).

A transportadora angolana era gerida pelo espanhol Eduardo Soria, que assumiu o cargo de presidente executivo em Outubro de 2021, tendo Ana Major a presidir ao Conselho de Administração.

Os dois últimos anos foram marcados por conflitualidade laboral na empresa, que atravessa um período de reestruturação e um acumular de queixas dos passageiros, descontentes com os frequentes atrasos e cancelamentos de voos da companhia.

Mas também pelo regresso aos lucros, com a TAAG a registar um resultado líquido de 460,1 milhões de kwanzas (cerca de 900 mil euros ao câmbio da altura), em 2022, após anos de prejuízos, reforço e abertura de novas rotas e aquisição de aeronaves. O Governo angolano quer privatizar a TAAG, mas não se compromete com datas.

Junta-se à equipa, como administrador não-executivo, Miguel Carneiro, que desempenhava as funções de consultor do gabinete do ministro dos Transportes.

Os restantes administradores mantêm-se em funções: Misayely Celestino Isaac Abias, Iuri Miguel Guerra Neto, como administradores não-executivos, e João Miguel da Gama Lobo Semedo, Sais Daalaoui, Maria Manuela Resende da Costa Pardal, Nowel R. Nagala, Custódia Gabriela Pereira Bastos e Susana Ramos, como administradores executivos.

Em 16 de Maio deste ano, o Folha 8 escreveu, sob o título “Estrangeiros é que (com)mandam”:

A administração da transportadora aérea (do MPLA) angolana TAAG afirma que a rota Luanda-Lisboa é importante para a companhia, sem divulgar números, e avançou que está a crescer “fortemente” no mercado brasileiro. Enquanto isso, muitos dos seus mais reputados pilotos angolanos estão a zarpar para outros… voos.

A presidente do Conselho de Administração, Ana Major, falava no acto de apresentação dos resultados da TAAG em 2022, frisando que a rota Luanda-Lisboa “não é de menosprezar”, sem adiantar pormenores por ser “um dado competitivo” que não pretendia partilhar.

Pelas mesmas razões, a presidente da administração da TAAG escusou-se a responder se iria ser retomada a ligação ao Porto, que desde a pandemia de Covid-19 deixou de ter voos de ligação directos a partir de Luanda, obrigando os passageiros que voam a partir de Angola a ir a Madrid e apanhar outro voo para a cidade do Norte de Portugal.

“A questão do volume nem sempre é perceptível, para quem está do outro lado, a noção do volume que justifica de facto a abertura das rotas. Há todo um trabalho de racionalização que é feito, para nós determinarmos se devemos ou não abrir uma rota”, disse Ana Major.

Por sua vez, o presidente-executivo da TAAG, o espanhol Eduardo Fairen Soria, disse que a empresa tem avaliado o desempenho das rotas e novas oportunidades.

“O Porto é um desses destinos que temos em consideração, carregámos há pouco no sistema o tema do Natal, esses voos já estão disponíveis e vamos vendo qual é o momento, em volume e receita, que faz sentido entrar numa rota ou outra”, sublinhou.

Segundo Eduardo Fairen Soria, a TAAG no seu plano estratégico de negócio está “atenta” ao volume de receitas gerados em determinada rota, “porque voar numa rota para perder [dinheiro] é praticamente insustentável”.

“As quantidades de dinheiro que se pode estar a perder são enormes e custa muito tempo recuperá-las, assim temos uma pressão sobre a parte comercial para dar resultados e estar a olhar constantemente para novas rotas e ver se faz sentido mantê-las”, disse.

Eduardo Fairen Soria salientou que o mercado doméstico “está a funcionar muito bem” e querem aumentar a capacidade de resposta, “porque a demanda é muito alta”.

Já nos mercados regionais, a empresa planeia operar, com a entrada em funcionamento do novo aeroporto internacional de Luanda António Agostinho Neto, entre 20 e 25 destinos em África.

“E no mercado intercontinental, estamos a crescer fortemente no mercado brasileiro e agora com o acordo com a Gol isso vai-se reforçar e abrimos parceria com a Ibéria para termos mais de 100 conexões com outros destinos da Europa, que anteriormente não dispúnhamos através de Lisboa”, referiu o CEO da TAAG, cuja privatização está prevista para 2024 .

De acordo com Eduardo Fairen Soria, decorrem conversações com mais parceiros face ao crescimento e a melhoria da credibilidade internacional da empresa: “Há um interesse maior de partilhar a posição privilegiada que tem Angola, não só na região como também a nível tráfico intercontinental entre Ásia e América do Sul, nomeadamente”.

Recorde-se que o perito dos peritos (segundo a atrofiada e complexada bitola do MPLA) capaz de colocar a empresa nos píncaros, é Eduardo Fairen Soria, CEO de TAAG, que – aponta o marketing da companhia – “conta com uma ampla e exitosa carreira como gestor, tendo desempenhado diversos cargos de responsabilidade em companhias como Vueling, Viva Air Peru, Viva Air Colômbia e CAMAIR-CO”, para além de contar “com 40 anos de experiência no mundo da aviação e mais de 17.000 horas de voo como piloto e instrutor em companhias como IBERIA, Lufthansa, DHL, Air Arabia e CAMAIR-CO”.

Para os próximos cinco anos, de 2022 a 2027, a TAAG prevê atingir 30 aeronaves em pleno funcionamento, conforme o Plano de Aumento da Frota, e alcançar a cifra de três milhões de passageiros nesse período. Em 2022, a TAAG transportou pelo menos um milhão de passageiros, número 60 por cento superior ao de 2019.

Fundada em 1938 (não foi, portanto, fundada pelos que compraram o país em 1975) e sediada em Luanda, a companhia angolana é reconhecida globalmente e apresenta – segundo o departamento de propaganda do MPLA – um crescimento sustentado. Para além do transporte de passageiros, está voltada ao transporte de carga pelo interior e exterior, bem como a voos humanitários para as duas direcções.

Para além de seis aeronaves do tipo Airbus A220, que comprou à Air Lease Corporation (ALC), em Junho de 2022, em regime de ‘leasing’, a empresa está a negociar com outras construtoras e parceiros para a compra de mais aviões, com vista a reforçar a frota e a substituir os 737-700, por novos aparelhos em estudo.

Actualmente, a frota da TAAG é composta por 21 aeronaves (14 em pleno funcionamento e outras em revisão), designadamente seis Dash 8-Q400, sete Boeing 737-700, três Boeing 777-200 e cinco Boeing 777-300. E, a partir de Junho deste ano, começa a receber os AirBus A220-300, segundo o seu CEO, o espanhol (certamente por falta de angolanos competentes) Eduardo Fairen Soria.

Ultrapassada a pandemia Covid-19, a indústria aeronáutica vem-se recuperando satisfatoriamente, e muitas companhias se vão reerguendo. E isso acende a esperança de, num futuro breve, mais companhias regressarem a Angola e outras se estrearem no espaço aéreo nacional, como a Singapore Airlines.

Folha 8 com Lusa

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