JOSÉ MARIA NEVES VOLTA A OFENDER OS ANGOLANOS

O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, atribuiu a Ordem Amílcar Cabral, a maior distinção nacional, ao antigo líder da Organização da União Africana, Salim Ahmed Salim, e à viúva do primeiro Presidente angolano (o genocida responsável pela morte de milhares e milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977), Maria Eugénia Neto, no âmbito das comemorações da independência.

No decreto presidencial de 28 de Junho, em que atribui as condecorações, para “exprimir reconhecimento e um profundo sentido de gratidão”, o chefe de Estado, José Maria Neves, recorda que a independência nacional, proclamada em 5 de Julho de 1975, “constitui sempre motivo e oportunidade para uma necessária retrospectiva do percurso histórico, político e cultural da nação”, possibilitando “a valorização das conquistas, a compreensão do presente e a projecção do futuro”.

Segundo o decreto, “Cabo Verde nunca esteve só” na luta nacional “pela dignidade e a autodeterminação”, que “foi sempre entendida como parte da luta comum dos irmãos africanos com vista à libertação de toda a África, ao estabelecimento de nações soberanas e à criação de condições reais de desenvolvimento e bem-estar para todos”.

No âmbito das comemorações do 48.º aniversário da independência de Cabo Verde, o Presidente atribui ao diplomata tanzaniano Salim Ahmed Salim, antigo primeiro-ministro daquele país e secretário-geral da Organização da União Africana (OUA) de 1989 a 2001, a Ordem Amílcar Cabral, primeiro grau.

“Diplomata arguto, laborioso e que, justamente por isso, ultrapassou os limites da actuação no âmbito do seu país, a Tanzânia, para ser uma voz credível à escala do continente e no seio de instâncias globais como a Organização das Nações Unidas. Legitimamente, pertence à plêiade de personalidades que de modo automático e natural são associadas à luta pelo pan-africanismo e pela Unidade Africana. Nesse sentido, aliás, contribuiu em vários momentos e em diversos espaços”, justifica-se no mesmo decreto.

Acrescenta-se que Salim Ahmed Salim “soube projectar e defender com inteligência e grande profissionalismo os ideais e os interesses políticos fundamentais do seu país e de África”, apoiou os movimentos de libertação nacional, “particularmente os das antigas colónias portuguesas, e os combatentes sul-africanos ao regime do apartheid”.

“Destaca-se ainda o seu papel de defensor de Cabo Verde e apoiante entusiasmado das iniciativas políticas e diplomáticas de Amílcar Cabral junto das instituições da ONU, incluindo a proposta do envio, em Abril de 1972, de uma missão de observação às regiões libertadas da Guiné-Bissau. Finalmente, para culminar o seu compromisso indefectível com a libertação do nosso país, deslocou-se, propositadamente, à cidade da Praia para testemunhar a fundação da República de Cabo Verde, a 5 de Julho de 1975”, recorda-se ainda.

No mesmo âmbito, Maria Eugénia da Silva Neto, viúva do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto (1922 — 1979), é distinguida com a Ordem Amílcar Cabral, segundo grau, com José Maria Neves a destacar que a “componente decisiva da luta comum pela emancipação dos povos africanos é seguramente a das mulheres, cujo contributo, com a mesma firmeza de princípios e a mesma determinação que as dos homens, manifestou-se nas mais variadas frentes”.

“Mulheres, mães, esposas, filhas e camaradas, patriotas de primeira linha que negaram ser relegadas a trabalhos domésticos, secretariais ou administrativos, para actuarem activamente para a libertação da África. Neste particular, destacamos Maria Eugénia da Silva Neto que, na conscientização e mobilização de mulheres, bem como nas suas valiosas participações no departamento de informação e comunicação do Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, nas actividades do departamento de cultura e nas diversas intervenções literárias e jornalísticas anticoloniais, demonstrou o compromisso infalível com a luta de libertação de Angola e de todo o continente”, explica-se.

“Nessa sua fidelidade aos ideais da luta conduzida pelo Dr. António Agostinho Neto, suportando magnânima e estoicamente todas as consequências e as enormes renúncias pessoais impostas pela sua opção política íntima e voluntária, é ainda notável o empenho dedicado à valorização e divulgação da memória da luta, em especial do legado do Presidente Neto, facto de fundamental importância para o conhecimento da História de Angola e a formação das novas gerações”, acrescenta-se no decreto.

JOSÉ MARIA NEVES OFENDE ANGOLANOS

Em Janeiro de 2022, o Presidente da República cabo-verdiano, José Maria Neves, defendeu em Luanda “uma vibrante homenagem” ao ex-presidente angolano, Agostinho Neto, “que desempenhou também um papel importante no apoio a Cabo Verde desde os primeiros momentos da independência”. Isto para além de ter sido o responsável pelo massacre de milhares e milhares de angolanos no genocídio de 27 de Maio de 1977, é isso não é?

José Maria Neves, que estada de visita a Angola, relembrou em declarações à Inforpress e à Rádio e Televisão de Cabo Verde que 2022 era o ano do centenário do nascimento de Agostinho Neto, que foi um médico, escritor e político angolano, principal figura do país no século XX. Também foi um assassino, um criminoso e um genocida, mas isso não interessa ao Presidente de Cabo Verde.

“Nós tivemos a sorte do médico Agostinho Neto ter trabalho em Cabo Verde e do engenheiro Amílcar Cabral ter trabalhado aqui em Angola. As relações são muito fortes, o nosso Hospital da Praia não é por acaso que tem o nome de Agostinho Neto”, continuou.

O Presidente da República de Cabo Verde relembrou igualmente que esta figura angolana também passou algum tempo em Santo Antão, onde, disse, inclusive há pessoas com o nome de Agostinho Neto em sua homenagem.

“De modo que temos de prestar uma vibrante homenagem ao poeta, guerrilheiro, estadista e a um homem que desempenhou também um papel importante no apoio a Cabo Verde desde os primeiros momentos da independência”, frisou.

Portugal também dá regularmente o seu contributo para branquear Agostinho Neto. Relembre-se que Maria Eugénia Neto, presidente da Fundação António Agostinho Neto (FAAN), assinou no dia 10 de Setembro de 2019, com a FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal), um protocolo que cria a Cátedra Agostinho Neto nesta instituição de ensino superior. Assim a FLUP dá mais um passo no branqueamento da imagem daquele que foi o genocida responsável pelos massacres de milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977. Só fica a faltar a cátedra… Adolf Hitler.

O acto representou uma homenagem da Universidade do Porto ao 40º aniversário da morte do poeta medíocre (segundo José Eduardo Agualusa) e do maior sanguinário da história da Angola independente e contou com a participação da directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro.

Maria Eugénia Neto salientou, na ocasião, “as renovadas perspectivas e investigações sobre Agostinho Neto, enquanto poeta, homem de cultura e político”, destacando que o Prémio Camões tem um significado de grande alcance para o conjunto de países que tornou sua a língua de Camões.

Eugénia Neto confirmou que a FAAN, no âmbito do pré-centenário de Agostinho Neto, assinou o protocolo de cooperação com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), para a criação da Cátedra Agostinho Neto com o intuito de promover o estudo de Agostinho Neto, das línguas, da literatura e da cultura angolanas, através do estabelecimento de um programa próprio de investigação e ensino na área dos Estudos Africanos.

Para além do simbolismo da efeméride de lavagem da imagem do herói do MPLA, a criação da Cátedra marcou o encerramento do colóquio “Agostinho Neto e os Prémios Camões Africanos”, em que participaram especialistas culturais, voluntariamente ignorantes quanto aos crimes cometidos pelo homenageado, de Angola, Portugal, Brasil, Cabo Verde e da China e que abordaram aspectos ligados ao tema do evento.

O reitor da Universidade do Porto, João Veloso, considerou o acto um feito internacional, tendo saudado muito entusiasticamente a assinatura do protocolo que homenageia a mais tenebrosa figura da História e da cultura angolana que, pelo seu papel de poeta e homem de cultura, todos procuram dizer que é um dos maiores escritores da língua portuguesa. E será com certeza se, de facto, se considerar que escreveu com o sangue de milhares e milhares de angolanos.

Folha 8 com Lusa

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