Militares do Níger afirmam ter derrubado o regime do Presidente Mohamed Bazoum. O coronel-major Amadou Abdramane, em nome de um Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), justificou a escolha deste tipo de golpe de Estado, à moda antiga. Pelos vistos a ideia de destituir um mau presidente, de forma constitucional e democrática, só mesmo em Angola pela mão dos “arruaceiros” da UNITA…
O coronel-major Amadou Abdramane, rodeado por outros nove militares fardados, afirmou (segundo noticiou a agência France-Presse (AFP): “Nós, as forças de defesa e segurança, reunidas no seio do CNSP, decidimos por fim ao regime que vocês conhecem”, o do Presidente Bazoum.
Os militares anunciaram ainda, no discurso televisivo, o encerramento das fronteiras e a entrada em vigor de um recolhimento obrigatório “até novo aviso”.
O acesso ao palácio presidencial do Níger, em Niamey, está bloqueado desde quarta-feira de manhã e a estrada que conduz ao edifício continua fechada ao trânsito por elementos da guarda presidencial, disseram à agência Efe fontes no local.
O Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, está detido por membros da guarda presidencial, na sequência do fracasso das conversações sobre pontos que permanecem desconhecidos.
Na sua conta na rede social X (ex-Twitter), Mohamed Bazoum escreveu que alguns elementos da guarda presidencial se envolveram numa “manifestação anti-republicana” e tinham tentado obter o apoio das outras forças de segurança.
Na mesma mensagem, Mohamed Bazoum assegurava que ele e a sua família estavam bem, mas o exército e a guarda nacional estavam prontos para atacar se os revoltosos não mudassem de ideias.
No entanto, a situação actual do Presidente gerou dúvidas, já que organizações internacionais como a CEDEAO e a Francofonia exigiram a libertação do chefe de Estado nigerino. EUA e a União Europeia também já reclamaram a libertação do chefe de Estado nigerino.
Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, tinha com Mohamed Bazoum e transmitido o seu apoio e solidariedade face à tentativa de golpe de Estado no país.
A França, potência colonial até à independência do país, em 1960, tem um destacamento militar de 1.500 homens no Níger, o mais importante no Sahel, após a retirada de outros países onde efectuou operações contra organizações fundamentalistas islâmicas, como o Mali e o Burkina Faso.
Em 27 de Dezembro de 2020, o presidente cessante, Mahamadou Issoufou, disse que a eleição presidencial foi “um dia especial para o Níger”, que assim experimentava a primeira transição democrática e pacífica desde a independência do país.
“É um dia especial para o Níger que viverá, pela primeira vez na sua história, uma alternância democrática”, declarou o chefe do Estado, após ter votado na Câmara Municipal da capital Niamey.
Esta será a primeira vez que houve uma sucessão no país, que tem uma história marcada por golpes de Estado desde 1960.
“É também um dia especial para mim, é a primeira eleição em 30 anos para a qual não sou candidato”, disse Mahamadou Issoufou.
Depois de dez anos no poder, Mahamadou Issoufou disse na altura esperar entregar a Presidência ao seu braço direito Mohamed Bazoum, candidato do partido no poder.
“Esta alternância deve permitir ao Níger consolidar o seu estatuto de modelo de democracia em África”, considerou Mahamadou Issoufou.
Esta opinião foi, contudo, contestada pelo activista Moussa Tchangari, segundo o qual só existe uma aparência de democracia no Níger, devido ao desrespeito pelas liberdades e direitos.
Cerca de 7,4 milhões de eleitores dos 23 milhões habitantes do Níger foram chamados a exercer o voto para a eleição presidencial que se realizou em conjunto com as eleições legislativas.
Os constantes ataques dos ‘jihadistas’ mataram centenas de pessoas, entre civis e soldados, e expulsaram centenas de milhares de pessoas de suas casas, (300.000 refugiados e deslocados no leste, perto da Nigéria, 160.000 no oeste, perto de Mali e Burkina Faso).
No final do ano passado, o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas (OCHA) afirmou que quase três milhões de pessoas no Níger estariam expostas a uma crise alimentar aguda em 2023, especialmente durante a estação chuvosa.
Actualmente, “cerca de dois milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar aguda no Níger”, lamentou a OCHA.
O organismo observou, ainda, que apesar de ter havido uma época agrícola e pastoral adequada em 2022, as análises mostram que 2,9 milhões de pessoas podem sofrer uma insegurança alimentar aguda em 2023.
“Embora estes valores sejam inferiores aos números do ano anterior, são mais elevados do que em anos considerados ‘normais’, como 2020/2021”, explicou a organização.
Esta crise alimentar está a atingir duramente as crianças dos 0 aos 5 anos. Segundo a OCHA, “quase 300.000 crianças com menos de 5 anos foram tratadas por desnutrição aguda e grave”.
A organização declarou que em 2022 a situação foi também “preocupante” devido à “persistência da crise de preços, deslocamento forçado e insegurança”.
A combinação destes factores está a fazer com que as famílias recorram a estratégias negativas de adaptação à emergência que afectam os seus meios de subsistência, como o endividamento, a venda das suas terras ou dos seus activos produtivos, disse a agência da ONU, alertando que “os impactos terríveis [desta situação] serão sentidos em 2023”.
A instituição das Nações Unidas salientou que a taxa global de desnutrição aguda é de 12,2% em 2022 (em comparação com 12,5% em 2021), sendo que 2,4% sofrem de desnutrição aguda grave e 9,8% de desnutrição aguda moderada.
Também 275.000 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 23 meses foram tratadas por desnutrição aguda e moderada com o apoio do Programa Alimentar Mundial (PAM), indicou a agência.
A crise foi causada por uma série de factores como a época agrícola e pastoral pobre de 2021/2022, o aumento dos preços dos alimentos, transportes e fertilizantes, a insegurança civil e a deslocação forçada.
De acordo com os indicadores do quadro harmonizado de Março de 2022, mais de 4,4 milhões de pessoas estiveram em situação de insegurança alimentar aguda e grave.
“Este é um número recorde para o Níger e um aumento de mais de 90 por cento em comparação com o ano anterior. Para a região da África Ocidental, este número subiu para mais de 38 milhões de pessoas no mesmo período, um aumento de 40 por cento em relação a 2021”, afirmou a organização.
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