O Governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Manuel Tiago Dias, disse hoje que o sucesso da diversificação económica do país (o essencial) passa por um sector financeiro robusto, com bancos sólidos, regulamentação financeira adequada e financiamento às pequenas empresas. No entanto, na prática a aposta é, há 48 anos, no acessório (propaganda).
De acordo com o responsável, a temática (dialéctica, propaganda) da diversificação económica e mercados financeiros, em discussão num fórum, em Luanda, não é uma abordagem nova, mas continua actual e a apresentar desafios. E, reconheça-se que, apesar de velhinha, continua actual porque os governantes com responsabilidades neste sector (e, aliás, em todos os outros) para contarem até 12 têm de se descalçar.
“Não obstante os progressos assinalados, permanece um longo caminho a percorrer”, afirmou o governador do BNA, realçando que a dependência do sector petrolífero torna a economia “vulnerável” às flutuações do preço do petróleo nos mercados internacionais. Brilhante. Nem o mais erudito perito em banalidades, José de Lima Massano, diria melhor. São dignos discípulos de La Palice, já que a verdade por este é de uma evidência tão grande, que se torna ridícula.
“As últimas crises neste sector demonstraram claramente que a diversificação económica é o caminho a seguir para construirmos uma economia equilibrada e sustentável”, observou, citando uma receita que tem dezenas de anos mas que, apesar de exequível e urgente, continua a não passar de uma miragem.
Falando hoje na abertura do XII Fórum Economia e Finanças: Diversificação Económica e Mercados Financeiros, Manuel Tiago Dias considerou que a diversificação económica envolve o alavancar dos outros sectores de actividade que carecem de financiamento. Quem diria, não é? Só faltou mesmo explicar que – citando La Palice – o morto antes de ter morrido estava vivo!
Para o gestor do BNA “é indiscutível que um sector financeiro robusto, com bancos sólidos, regulamentação financeira adequada e o acesso ao financiamento para as pequenas e médias empresas são aliados de sucesso da implementação do processo de diversificação”. É caso, já agora, para perguntar a , Manuel Tiago Dias (tal como ao seu patrão, general João Lourenço) há quanto anos isso é “indiscutível”?
O gestor sinalizou que o BNA não está alheio ao processo da diversificação económica de Angola “visto que, sem dúvida, esta mudança de paradigma impactará positivamente sobre a política monetária e cambial e, consequentemente, sobre os preços dos bens e serviços”. De facto o BNA “não está alheio”. Ou seja, com mais rigor, sempre esteve alheio por criminosa incompetência e não menos criminosa subserviência aos interesses dos poderes instalados, os do MPLA há 48 anos.
Neste fórum promovido pela Associação Angolana dos Bancos (ABANC), no âmbito do seu 25.º aniversário, o governador do banco central do MPLA salientou que a instituição tem procurado apoiar os diferentes programas que visam impulsionar a diversificação da economia. Acontece, ao que parece, que a “diversificação económica” é um inimigo altamente arruaceiro e continua a derrotar o poder dos donos do país. Cremos, aliás, que ela deve ser detida e acusada de crimes contra a segurança do reino…
O governador destacou o aviso n.º10/23 de 6 de Abril, como instrumento que tem tido um impacto significativo no crédito à economia, dando nota que desde a sua implementação até Outubro passado foram já disponibilizados em projectos de créditos contratualizados pela banca comercial mais de 1 bilião de kwanzas (1,1 mil milhões de euros). É obra, reconheça-se. Se calhar agora, parafraseando o ministro da Agricultura e Florestas, António Francisco de Assis, já é possível aos agricultores do Bailundo ter dinheiro para alugar enxadas…
Manuel Tiago Dias argumentou que o referido montante disponibilizado corresponde a 16,36% da carteira global do crédito bancário e 78% da carteira de crédito alocada para o sector real da economia (sim, é verdade, há uma muito mais pujante economia irreal) com destaques para os sectores da indústria transformadora, sobretudo da agricultura, produção animal, caça, floresta e pescas.
“Os dados disponíveis até à data indicam que ainda no âmbito destes avisos foram criados mais de 46.000 postos de trabalho e em termos de abrangência às actividades financiadas já foram alocadas em 17 províncias”, assegurou. E, consta, o milho não só já cresce mais rápido e para cima.
Manuel Tiago Dias falou ainda de “esforços” que o BNA tem desenvolvido para criar um ecossistema de pagamentos propício à inovação e à concorrência, do Laboratório do Sistema de Inovação do Sistema de Pagamentos em Angola, no âmbito da inclusão financeira e, provavelmente, afecto à economia verde.
Referiu, contudo, que a representatividade do sector informal, baixos níveis de literacia e inclusão financeira (angolanos matumbos, quer dizer o governador do BNA) “constituem grandes desafios para a diversificação económica e desenvolvimento do sistema financeiro nacional”. Têm dificuldade, como manda o MPLA, em plantar as couves com a raiz para cima, é isso não é Manuel Tiago Dias?
“Apesar dos programas já realizados, reconhecemos que existe um caminho longo a ser percorrido para alcançar níveis de profundidade do sistema financeiro, diversificação económica e crescimento sustentado, por este motivo foi constituído do Comité de Coordenação da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira”, rematou o governador do BNA.
Previsivelmente, desde logo porque o “caminho é longo”, só lá chegaremos quando o MPLA comemorar 100 anos de governação ininterrupta. Não desesperemos. Só faltam 52 anos…
Folha 8 com Lusa