No dia 9 de Julho de 2004, o então presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia (Portugal), Luís Filipe Menezes, defendeu a criação de um Ministério para a Lusofonia, independente do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e a “naturalização de todos aqueles que queiram ser portugueses”.
Por Orlando Castro
Mais tarde, agora pela mão eleitoral do PS, partido que desgoverna Portugal, surgiu a ideia do Estatuto do Cidadão da CPLP, que na prática poderia proporcionar a livre circulação de pessoas oriundas dos países de expressão portuguesa.
Embora o primeiro passo no processo de criação da CPLP tenha sido dado em São Luís do Maranhão, Brasil, em Novembro de 1989, por ocasião da realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a convite do Presidente brasileiro, José Sarney, nunca é tarde para acordar.
“Espero que o próximo primeiro-ministro tenha a atitude de criar um Ministério para a Lusofonia. Qualquer cidadão que viva em Portugal e fale português é português, pelo que devemos assumir a grandeza da lusofonia”, afirmou Luís Filipe Menezes sem que o seu partido, o PSD, ou o PS, tenham feito algo nesse sentido.
Ao que parece, e também como é habitual, o PS não se recorda das teses que o PSD defendeu nesta matéria, de que a proposta de Luís Filipe Menezes era apenas um, embora muito bom, exemplo. Também não admira. Já nem o próprio PSD se lembra…
A afirmação de Luís Filipe Menezes foi feita à margem da cerimónia de inauguração de um, então novo, complexo habitacional, em Serzedo, ao qual foi dado o nome do futebolista Eusébio da Silva Ferreira, que esteve presente na iniciativa.
Em Agosto de 2007 perguntei, por escrito, se Luís Filipe Menezes manteria esta promessa caso fosse eleito líder do PSD e primeiro-ministro. A resposta foi lapidar: “É óbvio que sim».
A líder do PSD, embora por pouco tempo, chegou. A primeiro-ministro não. E assim se foi uma utopia que mantenho e espero que possa passar à prática num dos governos dos países lusófonos.
Em Setembro de 2009, o então ministro da Educação de Angola, Burity da Silva, afirmou que “a construção da angolanidade deve ser edificada com a participação de todas as culturas existentes, sem critérios estereotipados de exclusão”.
O MPLA está de acordo e para o provar continua a comemorar o Dia do (único) Herói Nacional em homenagem, pois claro, ao assassino e genocida António Agostinho Neto (80 mil assassinatos em 27 de Maio de 1977) e que, ainda agora, foi homenageado, em Luanda, por Lula da Silva.
Se o MPLA é Angola e Angola é do MPLA, herói nacional há só um, Agostinho Neto e mais nenhum. O lugar foi ocupado, embora de forma mais subtil, por José Eduardo dos Santos e hoje é propriedade exclusiva de João Lourenço. Quando o MPLA for apenas um dos partidos do país e Angola for um verdadeiro Estado de Direito, então haverá outros heróis. Isto porque, pensa o comum dos mortais, nenhum partido tem a exclusividade dos heróis. Ou será que tem?
Até lá, os angolanos continuarão sujeitos à lavagem do cérebro (com a criminosa conivência dos restantes países de CLP, entre outros) de modo a que julguem que António Agostinho Neto foi o único a dar um contributo na luta armada contra o colonialismo português e para a conquista da independência nacional.
No seio da Europa, Portugal apenas está a aguentar-se. Provavelmente a certidão de óbito já está passada. Apenas isso. E até mesmo em matéria cultural poderia dar, ou voltar a dar, luz ao mundo. No entanto continua a olhar para o umbigo.
Nas comunidades de origem portuguesa, as novas gerações pouco ou nada falam português. Nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) assiste-se ao legítimo proliferar dos dialectos locais e ao galopante êxito do inglês. O Português tenderá (se nada for feito, se tudo continuar na mesma) a ser apenas uma língua residual.
Ao contrário do que fazem franceses e ingleses, os portugueses têm por hábito deixar para amanhã o que deveriam ter feito anteontem.
Não existe, na língua como noutros sectores, uma conjugação estratégica de objectivos. Cada um rema para o seu lado e, é claro, assim o barco comum (a Lusofonia) não chega a nenhum porto. Em muitos casos nem chegou a sair do porto… de abrigo. Há projectos sobrepostos, e muitas áreas onde ninguém chega. Ninguém não é verdade. Chegam os ingleses, os franceses, os norte-americanos e até os chineses.
A CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) deveria ser o organismo que, por excelência, poderia divulgar a língua. Está, contudo, adormecida. Quando acordar verá que a Lusofonia já morreu…
É claro que o futuro de Portugal passa necessariamente por África. Mas o futuro dos PALOP não passa obrigatoriamente por Portugal. Ao contrário de outros tempos, Lisboa não está interessada em dar luz ao mundo. Ao contrário de muitos outros países que estão na UE mas também em África. Mas não só.
Ou seja, a China, por exemplo, prepara há muito tempo muitos dos seus melhores quadros para que dominem a língua portuguesa. Fazem-no para conquistar os mercados lusófonos. Nada mais do que isso.
De uma forma geral, todos (mais uns do que outros, importa dizê-lo) continuam à espera que o burro aprenda a viver sem comer. Mas, quando olharem para o lado, vão ver que quando o burro estava quase a saber viver sem comer… morreu.
Acresce que Portugal ainda não percebeu que foi o «pai» mas que os «filhos» já são independentes. Os países africanos ainda não compreenderam que o «pai» errou em muitas coisas mas que não é por isso que deixou de ser «pai».
A Lusofonia, essa realidade que em muito ultrapassa os 300 milhões de cidadãos em todos os cantos do planeta, parece condenada a ser ultrapassada, ou até mesmo aniquilada. Parafraseando Luís de Camões, em português se canta o peito ilustre lusitano e, na prática, importa recordar que a ele obedeceram Neptuno e Marte. Além disso, importa dizê-lo, manda cessar (se para tal todos os lusófonos tiverem engenho e arte) «tudo o que a Musa antiga canta».
Quando será que, de forma consciente e consistente, Portugal entenderá que «outro valor mais alto se alevanta»? Por culpa (mesmo que inconsciente) dos poucos que não vivem para servir e que, por isso, não servem para viver, continuam os milhões que se entendem em português a comer e a calar, amordaçados pela mesquinhez dos que se julgam detentores da verdade.
É claro que, como em tudo na vida, não faltarão os que dirão que não é possível entregar a carta a Garcia. Dirão isso e, ao mesmo tempo, apontarão a valeta mais próxima.
A História do Mundo desmente-os. A História de Portugal desmente-os. Além disso, não custa tentar o impossível, desde logo porque o possível fazemos nós todos os dias. Mas não será com esses que se fará a História da Lusofonia apesar de, reconheça-se, muitos deles teimarem em flutuar ao sabor de interesses mesquinhos e de causas que só se conjugam na primeira pessoa do singular.
Para nós, a Lusofonia deveria ser um desígnio de todos. Defender esta tese é, provavelmente, pregar para os peixes… no deserto. Mas vale a pena continuar a lutar. Lutar sempre, apesar da indiferença de (quase) todos os que podiam, e deviam, ajudar a Lusofonia.
Até lá, continuarei a armar-me em idiota diante dos idiotas que se armam em inteligentes…
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