A MAMA E A (CA)PAPINHA DO MPLA

O MPLA, no poder em Angola, perdeu “milhões de dólares” do Orçamento do Estado, por reduzir o número de deputados no parlamento após as eleições de 2022, disse hoje o dirigente do partido que desgoverna o país há 47 anos, Job Capapinha, receando pelo mesmo cenário nas autárquicas.

Segundo Job Capapinha, citado pela Emissora Católica de Angola, que elegeu 124 deputados em 2022, conta actualmente com um reduzido orçamento.

“Quantos deputados perdemos nas eleições de 2022? A UNITA tem 90, nós ficamos com 124 deputados, sabem quantos milhões de dólares o partido perdeu do OGE [Orçamento Geral do Estado]? O bolo orçamental do partido ficou reduzido devido a esta perda de lugares no parlamento, logo o orçamento do partido baixa”, disse na abertura de um seminário da comissão de auditoria e disciplina do MPLA no Cuanza Sul.

“As nossas necessidades também têm cortes porque estamos a receber menos do OGE”, salientou Job Capapinha, também governador provincial no Cuanza Sul.

O MPLA elegeu 124 deputados nas eleições gerais de 24 de Agosto de 2022, menos 26 deputados em comparação com as eleições de 2017, sendo que a UNITA quase que duplicou o número ao eleger 90 deputados para a legislatura 2022-2027.

Para Job Capapinha, também secretário provincial do MPLA do Cuanza Sul, círculo eleitoral onde a UNITA elegeu um deputado, o cenário da redução do número de deputados também pode vir a verificar-se nas eleições autárquicas, se os “camaradas dormirem”.

“E assim, sucessivamente, vai acontecer [redução de deputados] com as autarquias, se também estivermos a ‘ngonhar’ (gíria local que significa dormir ou distraídos) e deixarmos os municípios para eles [oposição] tomarem conta, na hora das contas vamos ver que não valeu nada para nós”, alertou.

Job Capapinha considerou ainda que a UNITA quer a “rápida realização” das eleições autárquicas em Angola para esta acomodar as pessoas com as quais se “comprometeu, dentro e fora do país”, nas eleições de 2022.

“O problema não está nas autarquias, vai sim haver, é um preceito constitucional, nós vamos cumprir, mas não é isso que preocupa neste momento o nosso povo, o que preocupa neste momento o nosso povo são condições básicas para viver com ou sem autarquias”, notou.

“Neste momento os milhões e milhões que vai gastar nas autarquias, faz ainda os campos, abre lavras e vai ver se o povo não vive bem, vive sim. Nós também queremos [eleições autárquicas], mas vamos com calma e essa informação que temos de passar aos militantes, essas dificuldades todas que estão a nos pôr, muitas são fabricadas”, atirou.

As primeiras eleições autárquicas em Angola ainda não têm data marcada, e a UNITA defende a sua concretização em 2023.

A Lei sobre Implementação das Autarquias Locais é o único diploma legal, que faz parte do pacote legislativo autárquico, que ainda não foi aprovado pelo parlamento angolano.

“Há corruptos também na UNITA”, diz Job Capapinha

Em Março de 2020, Job Capapinha afirmou que “não há corruptos do MPLA, mas sim no MPLA, na UNITA e provavelmente em outros partidos políticos”. Por outras palavras, a criatura acha que todos os angolanos são corruptos. Então como explicar que os corruptos conhecidos sejam todos, todos, do MPLA?

Falando num acto de massas, no Sumbe, que serviu para o lançamento, na província, da bajuladora e propagandística Agenda Política do MPLA para 2020, Job Capapinha reconheceu que “existem alguns angolanos corruptos, como os há em todo mundo, independentemente da condição política, partidária, ideológica ou religiosa”.

O dirigente exortou os restantes partidos políticos a seguirem o exemplo do MPLA no combate à corrupção, moralização no seio de cada partido da oposição e dos angolanos corruptos. Exemplo que, desde 1975, fez com que o MPLA seja o partido que ocupa o primeiro lugar no ranking mundial dos mais corruptos “per capita” dos seus dirigentes e filiados.

Job Pedro Castelo Capapinha nasceu no dia 9 de Maio de 1962 na Província de Luanda e é, segundo o site do Governo, Licenciado em Filosofia e Mestrado em Ciências Políticas e Administração Pública (2002/2008). Para se aquilatar da honorabilidade (supostamente) à prova de bala deste governador do MPLA (são todos deste partido), vejamos o seu curriculum:

Chefe de Secção do Comité Provincial da JMPLA, Chefe de Secção do Comité Nacional da JMPLA, Chefe de Departamento Produtivo e Social do Comité Nacional da JMPLA, Director do Departamento de Cultura Recreação e Desportos do Comité Nacional da JMPLA. Director do Gabinete de Intercâmbio Internacional da ex-Secretaria de Estado da Cultura.

Foi ainda Vice-Presidente da Brigada Manguxi da Canção Política; Secretário -Geral do CNOJ – Conselho Nacional das Organizações Juvenis e Fundador do CNJ – Conselho Nacional da Juventude, Presidente da Associação dos Amigos e Naturais do Município do Kilamba Kiaxi, Vice-Presidente do MNE – Movimento Nacional Espontâneo, Presidente do MNE — Movimento Nacional Espontâneo.

E também Vice-Ministro da Juventude e Desportos, Coordenador da Comissão de Gestão do Governo da Província de Luanda (até Dezembro de 2003), Governador da Província de Luanda (2004/2008), Vice-Presidente da UCCLA – União das Cidades Capitais Lusófonas (com sede em Lisboa)., Vice-Presidente do Comité Executivo da WECP – Organização das Cidades Capitais Produtoras de Petróleo (com sede em Houston — EUA).

Isto para além de Deputado à Assembleia Nacional, Vice-Ministro da Juventude e Desportos, Fundador e Presidente da Amangola – União das Associações Locais de Angola, Membro do Comité Central do MPLA, Membro do Comité Nacional da JMPLA, Membro da Comissão de Gestão do Governo da Província de Luanda (até Junho de 2003). Em matéria de idiomas, o curriculum oficial de Job Pedro Castelo Capapinha revela que fala e escreve… português. É obra!

Dezembro de 2006. O então governador da província de Luanda, Job Castelo Capapinha, defendeu o estabelecimento de um pacto com a população para que coopere no combate à anarquia e restabelecimento da ordem pública. Se é dito por Capapinha deve ser verdade, pensaram os luandenses ou não tivesse ele sido escolhido pelo então “querido líder”, José Eduardo dos Santos.

Job Capapinha discursava na cerimónia de cumprimentos de fim de ano, à qual assistiram membros do comité provincial do MPLA, oficiais superiores da polícia, membros do Conselho e da comissão executiva eleitoral, delegados e directores provinciais, administradores municipais, adjuntos e comunais, entre outros convidados.

Para o governador, a população devia participar na organização da cidade, denunciar a danificação de bens públicos, atitudes que forçavam o governo a investir nas mesmas coisas. Se é dito por Job Capapinha deve ser verdade.

Falou também da necessidade de maior cooperação com a forças da ordem para se identificarem e responsabilizar os que danificam bens públicos, como a iluminação pública, cabos eléctricos, chafarizes, demolição de muros e prejudicam a higiene das paredes.

Na época, disse o Governador, a criminalidade e delinquência tinham aumentado, apesar do esforço da polícia, mas a população deve participar denunciando os malfeitores, para garantir a estabilidade política e social de meio. Se é dito por Capapinha deve ser verdade.

Assim, Job Capapinha esperava para o ano 2007 organizar um certame, envolvendo as autoridades municipais e a sociedade civil para debater com frontalidade o problema da criminalidade e delinquência na capital, para devolver a tranquilidade e para protecção dos bens públicos.

Job Capapinha declarou que em 2007 continuaria a melhorar a relação entre governantes e governados, regulando as actividades dos cidadãos, evitando contravenções a ordem e as normas instituídas, e elevando o respeito às autoridades. Há consciência na necessidade de sobrevivência dos cidadãos, mas há que disciplinar o exercício de qualquer actividade para se organizar a cidade, indicando os locais de venda, explicando como proceder para construir casa própria ou realizar qualquer acção que incida sobre a cidade.

O Governador afirmou também que os servidores públicos devem ser exemplares para serem respeitados e aumentar a credibilidade do governo, porque, como disse, vai-se ganhar autoridade por aquilo que se for capaz de fazer pela população e por esta reconhecer os seus esforços. Se é dito por Capapinha deve ser verdade.

Março de 2020. Um grupo de oito crianças, entre os 7 e os 10 anos, foram apanhadas a tentar furtar acessórios de uma cabine de electricidade, no bairro do Kilamba, em Luanda. O uso de crianças para o furto de barras de cobre de cabines de electricidade, com linhas de média tensão, é um novo método aplicado por adultos para este tipo de crime.

Segundo o porta-voz da Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE), Pedro Pinto Bila, citado pela agência noticiosa angolana, Angop, as crianças foram encaminhadas para a esquadra da polícia local, depois de os moradores frustrarem a tentativa de furto.

Este tipo de equipamento está avaliado em aproximadamente um milhão de dólares (872 mil euros) e pode beneficiar mais de mil clientes, informou o porta-voz da ENDE.

Entre as teses de Job Capapinha e a realidade de hoje passaram vários anos. Como ponto comum, inalterado e emblemático, registe-se que desde 1975 todos os governadores foram e são do MPLA.

Folha 8 com Lusa

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