BARRIGA DE GORILA, CÉREBRO (QUASE) DE SAGUI

O governador da província de Luanda, Manuel Homem, garantiu, no Cacuaco, a construção de uma nova esquadra policial, assim como a implementação de uma biblioteca e cozinha comunitária no bairro Paraíso, estas duas últimas, para breve. A garantia é dada pelo órgão oficial do MPLA, o Jornal de Angola.

Manuel Homem adiantou no terceiro dia de visita ao Paraíso, onde constatou “in loco” as condições da chamada “esquadra dos Bakongos”, a única do bairro, que existe um novo terreno para a construção de uma estrutura, assim como já estão identificados os espaços para a instalação de uma biblioteca e cozinha comunitária, no quarteirão 32.

Para a futura biblioteca, o governador já garantiu 500 livros. Crê-se que 499 são exemplares do livro do general Higino Caneiro. “Esperamos voltar ao bairro Paraíso nos próximos 45 dias para entregar a biblioteca e a cozinha comunitária à população”, revelou, além de assumir também o compromisso de continuar a trabalhar para melhorar a segurança pública. “As referidas infra-estruturas vão promover a inclusão social no Bairro Paraíso”.

Ao percorrer alguns quarteirões, acompanhado pelo vice-governador para a área Técnica e Infra-estruturas, Manuel Homem inteirou-se também do funcionamento deficiente dos chafarizes e tanques comunitários de água.

Dos quatro chafarizes e tanques fiscalizados, um esteve privado de água durante três meses. Neste, os moradores reclamaram junto do governador sobre a razão da falta constante do precioso líquido naquela zona, assim como os abusos com preços altos praticados, que ao invés de dez kwanzas, chegam a pagar entre 70 a 100 kz.

No debate com os moradores sobre a razão da água não chegar aos tanques ou chafarizes, concluiu-se que o garimpo de água e a vandalização das condutas é uma realidade, que faz com que o bairro fique privado de água. Provavelmente Manuel Homem sabe que o garimpo e a vandalização são obra dos arruaceiros dos activistas, manipulados pela UNITA…

“Constatamos que existe por parte dos gestores dessas infra-estruturas uma mistura de interesses com quem vandaliza as condutas por benefício próprio, para vender a água a preço mais alto aos munícipes”, apontou com o seu brilhantismo intelectual o governador, adiantado que a administração do município está orientada para tomar medidas imediatas para reverter a situação. “Vamos continuar a trabalhar para que a água possa ser distribuída também por via de canalização às moradias, um passo que a administração municipal já está a projectar”, avançou.

Sobre as ravinas existentes no referido bairro, Manuel Homem avançou que está a ser feito um levantamento a nível da província de Luanda, para o seu controlo, entre as quais as do Paraíso também estão catalogadas. O trabalho, referiu, está a ser feito em coordenação com o Ministério da Obras Públicas. Será que os livros da prometida biblioteca vão ajudar a solidificar as ravinas?

Com 44 quarteirões e 116 mil habitantes, as casas no Bairro Paraíso são na maioria de blocos, sem reboque e poucas têm um quintal fechado. O solo da localidade apresenta características argilosas.

Durante os três dias de visita do governador, tudo parece muito tranquilo. Sob o olhar das autoridades policiais, que desde o primeiro dia de trabalho de Manuel Homem garantem segurança total para quem circula naquela zona, os munícipes do Paraíso têm sido muito interactivos. A Polícia faz muito bem em estar sempre presente. Um governador (não) eleito tem de ter cuidados especiais…

Com as estradas ou ruas asfaltadas, agora iluminadas, chega-se ao bairro sem dificuldade alguma de trânsito, conta o Jornal de Angola. As ruas da Cerâmica, Pedreira, Eco-Campos e Kicolo, que dão acesso ao bairro, também estão em condições para a circulação. Com isso, o Paraíso parece ser um “bairro normal”, sem a sua má fama. Parece? É mesmo. Por alguma razão o MPLA governa Luanda, como o resto do território, há 47 anos.

Mas para quem vive lá há anos, existe a ausência de muitos serviços, inclusive uma esquadra de polícia, centros ou postos de saúde condignos, o patrulhamento policial de proximidade, água potável com regularidade e escolas próximas.

A “esquadra dos Bakongos”, era a única do bairro e hoje está em fase de demolição. A unidade funcionou de 2014 a 2020. Mas, por causas de algumas fissuras foi desactivada há três anos. Actualmente a estrutura está sem tecto.

O comandante Domingos Manuel, encarregado máximo da unidade de polícia, informou que todo o trabalho do comando e serviços prestados à população são feitos no mesmo recinto, mas numa mesa montada a propósito.

Os actos criminosos são para os moradores do Paraíso o “prato do dia” nas conversas. Outra questão que muito os aflige é a falta do precioso líquido, seguido da necessidade de haver no bairro, centros de formação profissional, campos multiusos, bibliotecas e lojas de registos.

Nesses dias de visita, foi montada uma feira com serviços da Saúde, Educação, Registo Civil, na qual centenas de pessoas do bairro aproveitaram para efectuar o primeiro registo, assim como consultas gratuitas e de aconselhamento familiar.

A maioria deles é cadastrada, para serem inseridas nos programas de combate à fome e à pobreza. Todos os dias, as tendas de serviço ficam lotadas de pessoas à espera.

Só lhe falta o diploma de ventríloquo

Na altura em foi ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Manuel Homem, disse “não existir” qualquer censura nos órgãos públicos e privados confiscados pelo Estado/MPLA, afirmando tratar-se de “factos que visam prejudicar as reformas” do sector.

“Eu não sei do que é que estamos a falar, nós ainda não assistimos a nada relacionado com censura nos órgãos públicos ou privados, portanto esta é uma matéria que tem sido desenvolvida de forma intencional para prejudicar todo um trabalho que o executivo tem estado a fazer de reforma na comunicação social”, afirmou (Outubro de 2020) Manuel Homem.

Manuel Homem falava aos jornalistas, em Luanda, no final da cerimónia de lançamento da Plataforma do Ensino a Distância do Instituto de Telecomunicações de Luanda (ITEL) e de uma biblioteca virtual da instituição do ensino médio.

Sem especificar quem (estaria a falar do gestores, escolhidos pelo Governo da TV Zimbo e da Palanca TV?), de “forma intencional”, tenta manchar as acções em curso no sector que dirige, o ministro referiu apenas que o assunto vem da “parte de quem tem estado a criar esses factos” que o Governo entende “que não existem”.

E se o Governo/MPLA diz que não existe, é porque não existe. Se diz que Agostinho Neto é o único herói nacional, é porque é. Se diz que os massacres de 27 de Maio de 1977 foram apenas um incidente, é porque foram. Se diz que Jonas Savimbi foi um terrorista, é porque foi. Se diz que José Eduardo dos Santos é um marimbondo que deixou os cofres de Angola vazios, é porque é verdade. Se diz que em Angola não há fome, é porque não há.

Como o Folha 8 escreveu na altura (“Censura=Ditadura=MPLA”), o jornalista Carlos Rosado de Carvalho voltou a ser barrado numa estação de televisão angolana, desta vez na Palanca TV, cinco dias depois de ter sido impedido de abordar o caso Edeltrudes Costa na TV Zimbo.

Nas suas contas de Facebook e do Twitter, o jornalista e economista anunciou que foi impedido de participar num debate sobre “O ambiente de negócios em Angola”, com os empresários Jorge Batista e Bartolomeu Dias, para o qual tinha sido convidado.

“Fazer o quê?”, escreveu Carlos Rosado de Carvalho num “post” acompanhado pelas fotografias dos convidados, onde a sua cara aparecia traçada com um “x” e a legenda “Carlos Rosado de Carvalho not”.

O jornalista afirmou ter sido avisado em cima da hora pela produção do programa de que “já não poderia participar”, sem mais explicações.

A Palanca TV era um órgão privado ligado ao antigo ministro da Comunicação Social do ex-presidente José Eduardo dos Santos que ficou sob controlo do Estado angolano.

Carlos Rosado de Carvalho acusou na época a TV Zimbo, outro órgão privado que passou para o Estado/MPLA, de censurar a sua participação na rubrica Directo ao Ponto, em que pretendia abordar as alegações relacionadas com Edeltrudes Costa.

O chefe de gabinete do Presidente João Lourenço terá sido favorecido, segundo uma reportagem da televisão portuguesa TVI que, não se sabe bem com que propósitos, repescou um assunto há muito abordado por outros meios, em contratos com o Estado angolano, tendo transferido milhões de dólares de uma empresa sua para o estrangeiro, que serviram para comprar casas e outros bens de luxo.

A direcção da estação rejeitou as acusações de censura, mas não foi poupada por organismos como o Sindicato dos Jornalistas, o Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA) e até pela Ordem dos Advogados de Angola, que se solidarizaram com Carlos Rosado de Carvalho.

Vários órgãos privados de comunicação, nomeadamente a TV Zimbo, Palanca TV, jornal O País, Rádio Mais, Rádio Global, uma produtora de conteúdos audiovisuais e uma gráfica passaram para a esfera do Estado/MPLA por “serem constituídas com fundos públicos”.

A acção enquadra-se no processo de recuperação de activos do Estado no âmbito do programa selectivo de combate à corrupção, um dos propagandeados eixos de governação do Presidente angolano, João Lourenço.

A Palanca TV foi recentemente oficializada como novo canal desportivo da Televisão Pública de Angola (TPA) com as autoridades a garantirem, para os próximos tempos, novos canais temáticos.

Em relação à reprivatização dos órgãos que passaram para a esfera do Estado, Manuel Homem assegurou que os mesmos seriam privatizados, realçando que “a seu tempo” seriam anunciados os mecanismos do processo de privatização da TV Zimbo.

“Nós fomos claros já e temos estado a dizer que os órgãos de comunicação social que foram arrestados para o serviço público vão ser privatizados e reafirmamos isso”, notou.

A TV Zimbo e os outros órgãos, adiantou, “estão num processo, existe uma comissão de gestão que está a fazer o levantamento de tudo o que é necessário que facilita esse processo de integração”. “E ao seu tempo iremos anunciar os mecanismos de como esse processo de privatização da TV Zimbo irá ocorrer”, concluiu o ministro.

Um ministro de se lhe tirar o chapéu

Recorde-se que, em Julho de 2020, o ministro das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Manuel Homem, defendeu, em Luanda, a promoção do acesso à Internet em todos os estratos sociais e em todo o país. Embora dê jeito haver electricidade, crê-se que o Governo a vá tornar “potável” através de ligação a candeeiros a petróleo ou a velas de cera…

Por todos os cantos e esquinas do país multiplicaram-se as manifestações de júbilo e elogios à tese de Manuel Homem. A população dos Gambos, por exemplo, e daquelas localidades do Cuando Cubango, onde, só este ano, já morreram dezenas de crianças devido à fome, receberam a notícia com muita alegria. Já foram comprar computadores para os filhos e velas para fornecer energia para os computadores poderem funcionar.

Alguns pais, pouco informados sobra e ciclópica capacidade do governo, perguntam se as crianças, para terem acesso a electricidade, irão ligar os computadores no tronco ou nos ramos das árvores. Esquecem-se, lamentavelmente, que a os computadores podem funcionar ligados a candeeiros ou a velas de cera.

Manuel Homem, que falava à imprensa no termo de uma visita de constatação ao Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação (INFOSI), considerou que a expansão do sinal da Internet deve permitir e facilitar o acesso a todos.

“Temos de continuar a trabalhar na promoção do acesso à Internet em todos os estratos sociais por via dos programas de massificação e inclusão digital em curso um pouco por todo o país”, frisou o ministro sem que alguém lhe lembrasse que não fica bem falar de coisas como electricidade (mesmo que na versão “potável”) a um povo que tem 20 milhões de pobres. Isto se é que esses pobres são gente, se é que são… angolanos.

Manuel Homem manifestou-se, igualmente, satisfeito com o nível de organização do Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação do ponto de vista técnico e administrativo, o que vai facilitar o processo de apoio à modernização dos sistemas da administração pública em curso no país, no âmbito dos programas e projectos de massificação digital.

Com a implementação dos Programas e Inclusão Digitais, o Ministério das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social tem vindo a desenvolver o Projecto “Angola Online”, que já permitiu montar 111 pontos públicos de acesso à Internet, em todo o território nacional.

Acresce que, com esse acesso à Internet, os nossos pobres podem mostrar ao mundo que são dos melhores na disciplina basilar implementada pelo MPLA há 47 anos e que, por isso, constitui o seu ADN: Aprender a viver sem comer. É claro que o resultado não é 100 por cento positivo. Isto porque muitos quando estão quase, quase mesmo, a saber viver sem comer… morreram.

Manuel Homem disse ainda que, além do Projecto “Angola Online”, existiam outros, com destaque para “Andando com as TIC”, que permitiu, igualmente, melhorar os índices de acesso às tecnologias de informação e comunicação nas zonas mais recônditas do país.

O ministro garantiu, igualmente, estarem criados os programas e plataformas tecnológicas em todos os departamentos ministeriais e instituições públicas para a realização de reuniões e outros encontros de trabalho, nesta fase em que o mundo e, de modo particular, o país enfrenta a pandemia da Covid-19.

“Estão criadas as condições para assegurar que os serviços públicos continuem a funcionar de forma normal”, disse.

Por outro lado, reconheceu a necessidade de se continuar a imprimir esforços para garantir que mais serviços possam surgir com o ambiente digital, de maneira a garantir que os cidadãos, em casa, durante a época da Covid-19, continuem a realizar contacto com a administração pública de forma mais célere e segura.

Folha 8 com Jornal de Angola

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