UM TWAPANDULA PARA O EGOSISMO

O seculo, que saiu do mato, daquele nosso mato, “purcaso” das bals desentendidas, ainda escreveu lá mais! Escreveu! Haka! Sukuiangué wee!

Por William Tonet

Porra, assim digo o quê? Se “você já disseste” mesmo antes do “ualalé”, que a “chuva choveu” poesias de encantar e o loengo, que “apanhaste “cu’ele” nas bandas do São João, lhes “quindaste” katé no Kanhé, onde a cruz da Missão Católica embala as estrelas e conta nas orações os conterras, que vendem na praça popular, lá, naquele longe, onde na esquina se visiona a estrada do Bié, a montanha do M’bave e das pedras Cuca. No nosso Huambo…

Ové, você, Orlando ainda foste, ficando, ficado, sempre plantado com o teu “cacoração” de central Planalto, “queê nu sai m’bora daqui”, ainda que “Portualmente”, estejas só-lá, aí, mas sabendo que aqui a brisa te chama…

Desconsegues cortar a raiz e é inglório te falar, quando o meu desconseguimento, não lustra as prosas, onde os dedos de tuas mãos, multicolores, recitam, com voz, “cu’eles” poemas de poetas germinados nas lavras dos cacimbos, de casacos, mas que nunca se transformam em inverno.

Agora, meu kamba, conterra dos tempos onde o antanho, continua hoje, “popia” (fala) já que “quando 1975 chegava ao fim, (como muitos milhares de cidadãos) tinhas duas opções: ficar e morrer ou fugir para viver.

No último dia na tua, nossa, cidade (Nova Lisboa), chegaste ao aeroporto, fumaste o último cigarro (AC), que era produzido na FTU, estrada de Catete, Luanda foi canibalizada pelo regime e vendida a Igreja de Edir Macedo, o brazuca da Universal. Tristeza, mas valeu, teres dado as bafuradas sonorizadas com uma linda canção, vinda das ondas hertzianas do Rádio Clube do Huambo: “If you need me”, dos After All, com a inesquecível voz de Gerrit Trip.

“Tê vi, magoelaste”, com lágrimas, no pássaro de ferro (avião) rumo à ex-Metropóle (Lisboa). Por entre as nossas nuvens, vias os carreiros, ruelas, becos, casas, o Ferrovia, a Igreja de Fátima, as Cacilhas, o Bom Pastor, o São João e, sem vergonha, deixavas o rio lagrimal escorrer-te face abaixo, até desaguar, no Atlântico, qual oceano, mas, de lá.

E, ao poisares terra firme, notaste a resistência dos teus pés, naquela terra, diferente da tua terra, que na queda de chuva tem cheiro, por isso bastas vezes corrias descalço, indiferente ao calção rasgado, com o riso multiplicado nas brincadeiras dos “avilinhos” da banda. Tua banda!

Foi aí que começaste a sentir espinhos, que te “dorificavam” a alma, com “mil porquês”. Inexistia, resposta… Hoje, também! A incompetência dos homens das duas revoluções, desconseguiu fazer contas de união, daí a tua alma fecundar a dor, tanta dor. Parte dessa dor é visível, nos carreiros do teu livro, cuja carroça, transporta, muitos de nós, numa ponte aérea de dois sentidos, sobrevoando a guerra das armas russas, desta vez, na Ucrânia.

A nostalgia persiste. A terra é perene. Os que nos dividem são efémeros, daí, que no dobrar da esquina a antiga menina, apaixonada, paquerada, por entre a janela, com saia abaixo do joelho, te dará, como alento, de novo, uma flor. Rosa! Do Huambo!

Tenho fé. Tens fé! Por isso, quando o nosso kamba comum, o editor da obra, gentilmente, quis que a tivesse, em primeira mão, não consegui esboçar, por estar, ironia do destino, também, mas hoje (2022), no aeroporto, não do Huambo, mas de Lisboa, o sentimento de gratidão, que me secou a alma. Twapandula!

Ao farfalhar-lhe as páginas vi um excesso. O único. A referência desnecessária a um indígena, também, daqueles húmus: “Ao António Jorge Ribeiro e ao William Tonet, dois “monstros sagrados” da minha Terra, pelas muitas transfusões de angolanidade que me ajudaram a continuar a ser o que sou e não o que outros queriam, e querem, que eu seja”.

Eu, não faço a diferença. Tu és diferente! Não carecia.

Por esta razão de gostares dos excessos bem poderia te enviar um “tupar…”, mas com doce candura, aquecido com chá de cedro, que cercavam (ainda cercam) os nossos quintais.

O teu gesto deve-se ao facto do teu velho te ter ensinado a sentar naquelas cadeiras e mesas de madeira, onde a pobreza tinha dignidade milionária e os meninos não se “racismizavam”, como faz hoje o MPLA, definindo brancos e mulatos, como sendo 50% angolanos, por alegada ausência de traços de uma bantualidade, que nem os próprios portam, tal a fome como vendem, todos os dias o país.

Mas sei que o teu kota, não se ficou pelas medidas e introduziu, na velhota, mesmo 100% de esperma, para permitir a ovulação perfeita de angolanidade, ainda que o regime resista em te conceder a documentação que o “jus solis e jus sanguis” te conferem como direito natural.

Por isso como diz o conterra, José Filipe Rodrigues, “o Orlando era o poeta que as raparigas do liceu olhavam com admiração e os “cabeças de maboque” não entendiam. Ele era o sakanjuer que com o seu canto ajudava a acordar o amanhecer nos nossos dias de adolescência.

Essa descoberta para o uso das palavras, nas emoções e no combate às injustiças sociais, foi em grande medida catalisada por três professores do liceu no Huambo, que hoje em dia continuam a ser o nosso farol das marés em que navegamos.

De exigência e competência elevadas, as irmãs professoras Dárida e Dorinda Agualusa e o professor José Fernandes Duarte (o “pelinha” ou o “pele vermelha” como o alcunhámos) desafiavam os alunos a conduzirem as suas naves muito para “além das anharas do planalto central, das águas do nosso mar, das praias do nosso rio Kurimahala” e a considerar cada chegada como o início de uma nova partida”.

Mais palavras, para quê? O Egosismo, fácil de transportar, já o li, reli, três vezes, tendo-o na cabeceira, como o mais novo companheiro das palavras que se multiplicam em doces farfalhos, presos em “flagrantes delícias”.

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