UCRÂNIA, CABINDA, EUA E RÚSSIA

A tragédia da Ucrânia, duas perspectivas e dois julgamentos da comunidade internacional sobre o direito dos povos de escolher o seu destino. Cabinda também faz parte do Mundo.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Os ucranianos estão a passar por um drama que do meu ponto de vista parece mais uma vítima geopolítica e geoestratégica das ambições excessivas do Ocidente e especialmente dos Estados Unidos.

Também não sou a favor da decisão do Presidente Putin de reconhecer rapidamente a independência dos dois pseudo-Estados separatistas, investindo neles as suas forças armadas, mas quando o Pacto de Varsóvia caiu, houve acordos que foram ditos entre os dois blocos, em particular a não extensão da NATO nas fronteiras dos estados próximos da Rússia, que constituíam a cortina de ferro.

Hoje, as ambições da NATO de reduzir o poder e a hegemonia russa nesta parte do mundo vão contra o desejo feroz de Putin de fazer da Rússia de hoje esta potência militar da era da União Soviética e, de repente, o direito do povo ucraniano de determinar, de colocar o seu destino integrando a União Europeia torna-se uma aposta geopolítica e geoestratégica do Ocidente.

Apesar da sua história secular e do seu apego à União Soviética da época, os ucranianos escolheram livremente o seu destino, tornando-se novamente o que são, ou seja, ucranianos no território da Ucrânia, com uma identidade própria, um direito inalienável que a comunidade internacional nos nega como cabindenses.

O cabindense que sou, e a minha luta pelo direito dos cabindenses de disporem do seu direito à autodeterminação só pode legitimamente pôr em causa o entusiasmo e o empenho da NATO, dos Estados Unidos e da Europa, em querer a todo o custo defender a Ucrânia que se encontra sob o ângulo de fogo das forças armadas de Vladimir Putin, correndo o risco de ocupar todo o país e incendiar toda a região.

Acredito que se as grandes potências ocidentais pudessem mostrar o mesmo zelo que mostram pelo povo ucraniano em relação a todos os outros povos que há muito decidiram viver livremente e tomar seu próprio destino nas suas próprias mãos, as ambições expansionistas do tipo Putin e outros regimes de ocupação espalhados pelo mundo não teriam coragem de pegar em armas para ocupar pela força territórios que não lhes pertencem.

Todos os males que hoje são imputados a Putin, deveriam logicamente ser imputados ao MPLA e seus marimbondos, de forma a prevalecer o direito de defender e resolver o problema de Cabinda, restituindo assim a soberania de Cabinda ao povo de Cabinda, colocando definitivamente o fim da ocupação militar de Cabinda por Angola, porque Cabinda independente nunca seria uma ameaça para Angola ou seus vizinhos, como a adesão da Ucrânia à NATO pode constituir uma grande ameaça para a Rússia.

As razões profundas deste entusiasmo ocidental pela Ucrânia não são apenas a defesa dos direitos do povo ucraniano, acredito firmemente que o ucraniano médio não o sabe, mas as verdadeiras razões estão certamente noutros lugares, como também para Cabinda, e enquanto o motivos reais escaparão aos povos interessados, a comunidade internacional agirá sempre com os dois pesos, duas medidas.

Para concluir, não diria viva a Putin, mas que jogo e que papel a comunidade internacional realmente desempenha na Ucrânia e em outras partes do mundo, no destino dos povos e territórios oprimidos?

(*) Activista e refugiado político na França

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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