O governador do Banco Nacional de Angola, José Lima Massano, considera que a moeda nacional de Angola, o kwanza, está equilibrada, depois de ter perdido 80% face ao dólar e estar agora a recuperar o terreno.
“Temos estado a assistir a um aumento na confiança na moeda, gerando consideráveis ganhos para o kwanza”, disse o governador do banco central em declarações à agência de informação financeira Bloomberg.
O comentário de Lima Massano surge na sequência de uma valorização de 20% do valor da moeda angolana face ao dólar desde o início do ano e numa altura em que ostenta o título da moeda que mais se valorizou nas últimas semanas, apesar de não ter ainda anulado as perdas dos últimos anos.
“O equilíbrio do kwanza foi reposto”, disse Massano, referindo-se à diferença que existia entre a cotação do kwanza no mercado formal e no informal, com diferenças que podiam ir até 150%, mas que agora estão praticamente anuladas.
O kwanza está a ganhar valor devido à melhoria da previsão de evolução da economia de Angola, o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, e à liberalização parcial da taxa de câmbio, argumentou o governador, referindo-se à medida tomada em 2018 e que, na prática, desindexou o kwanza ao dólar, o que causou uma depreciação de “mais de 80%”.
A medida, disse Massano, era necessária para eliminar “grandes disfuncionalidades e desequilíbrios no mercado cambial angolano”.
De acordo com o governador, esse desequilíbrio está agora ultrapassado, com o kwanza a transaccionar-se face ao dólar nos 510 por dólar no mercado informal, tendo uma taxa de câmbio oficial de 470.
“As reservas internacionais são sólidas, cobrindo cerca de 11 meses de importações, e balança de pagamentos mostra excedentes e estamos a começar a ver uma redução gradual na taxa mensal da inflação”, disse o governador, referindo-se à primeira quebra na taxa de crescimento homóloga dos preços em Fevereiro, que pararam de crescer pela primeira vez desde Março de 2021, estando, ainda assim, com uma subida acima de 27%.
A economia de Angola deverá já ter saído da recessão de cinco anos em 2021 e deverá crescer quase 3% este ano, de acordo com a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Recorde-se que o Bank of America prevê que o Governo de Angola adie a emissão de dívida pública que tinha planeada para este mês, devido à volatilidade nos mercados internacionais, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Com o aumento nos preços do petróleo sendo uma das consequências das perturbações, Angola pode adiar a emissão devido ao fortalecimento dos excedentes, com a balança corrente a exceder os 10% do PIB este ano”, escreveu o analista do Bank of America que, a partir de Londres, segue as economias da África subsaariana.
No relatório citado pela agência de informação financeira Bloomberg, Tatonga Rusike diz que Angola é apenas um dos vários países subsaarianos, como o Quénia, que tinha previsto emitir dívida soberana no princípio do ano, mas que podem ver os seus planos cair devido à instabilidade internacional.
“A actual volatilidade do mercado complica a perspectiva de evolução externa do Quénia; com eleições em 2022 e a volatilidade nos mercados, uma emissão de dívida parece improvável”, escreve o analista, num comentário que também assenta a Angola.
O Governo de Angola previa regressar aos mercados financeiros internacionais neste trimestre, devendo emitir até 2,8 mil milhões de dólares, de acordo com a apresentação do plano de endividamento, disponível no ‘site’ das Finanças desde meados de Fevereiro.
De acordo com o documento, com data de 8 de Fevereiro, Angola prevê captar 10,74 milhões de dólares este ano, dos quais até 2,8 mil milhões de dólares, cerca de 2,4 mil milhões de euros, estão previstos ser angariados nos mercados internacionais através da emissão de dívida em moeda estrangeira (Eurobond).
Angola prepara-se, assim, para voltar a emitir dívida pela primeira vez desde 2019, e depois de ter previsto fazer uma nova emissão no final do ano passado, ainda durante a vigência do programa de assistência financeira do Fundo Monetário Internacional.
Prevê também contrair empréstimos e financiamentos internacionais de entidades comerciais, bilaterais e concessionais no valor de 2 biliões de kwanzas, equivalentes a 3,18 mil milhões de dólares.
A nível interno, Angola prevê endividar-se em 4,76 mil milhões de dólares, divididos em 320 milhões em dívida contratual e 4,44 mil milhões em dívida titulada.
Para “mitigar os riscos inerentes à dívida”, Angola prevê “priorizar os financiamentos concessionais, privilegiar os instrumentos de médio e longo prazo, limitar as concessões de garantias públicas, possibilidade de realizar resgates antecipados dos títulos indexados, redução do ‘stock’ dos títulos indexados e da dívida garantida com petróleo e a suavização dos vencimentos da dívida externa, através do processo de reestruturação preventiva”.
Entre os principais constrangimentos, o plano de endividamento aponta o “considerável comprometimento das receitas fiscais no pagamento do serviço da dívida governamental, a dificuldade de captação de recursos em consequência da actual política monetária contraccionista, a preferência dos principais investidores do mercado interno, bancos comerciais, em alocar a sua liquidez nos leilões de divisas, e a dificuldade em obter novos financiamentos devido à exposição ao risco do país”.
O Governo de Angola prevê chegar ao final deste ano com a dívida pública nos 73% do PIB, reduzindo em 12 pontos percentuais o rácio da dívida face ao PIB, que deverá ter fechado nos 85% em 2021.
Folha 8 com Lusa