O GOEBBELS DO MPLA

Assumindo a sua frustração por não ter conseguido ser (mas mantendo intacta a esperança de o vir a ser) o Joseph Goebbels do MPLA, Celso Malavoloneke, resolveu agora dizer que a UNITA é um bando de arruaceiros, guardando para melhor oportunidade a  designação de “terroristas”.

Por Orlando Castro

Disse ele ao Novo Jornal: «Como ponto prévio, vou já dizendo que o que aconteceu em Sanza Pombo – depois do que vimos no comité do MPLA no Benfica – é um acto completamente reprovável que não deve, de forma alguma, repetir-se. Foi protagonizado por militantes, simpatizantes e amigos da UNITA, disso não há mais dúvidas. Porém, colectivamente todos têm quota-parte da responsabilidade. Incluindo nós que, sabendo que esse tipo de actos é prática deste partido desde 1991, pensámos que desta vez seria diferente e ignorámos os sinais. Somos todos irmãos, filhos da mesma Pátria e conhecemo-nos uns aos outros. Sabemos que a UNITA é assim mesmo. Tínhamos e temos por isso a obrigação de manter tolerância zero quanto a esses actos e fazer prevenção activa para evitar que aconteçam.»

Quando era secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, aconselhou as instituições públicas e privadas a criarem gabinete de comunicação de crise para dar resposta a acontecimentos súbitos, imprevisíveis e negativos que as possam atingir. Se calhar criar também gabinetes de “educação patriótica”.

Celso Malavoloneke falava num fórum sobre “Harmonização da Comunicação Institucional e do Marketing no Sector dos Transportes”, referindo que as instituições ou empresas devem estar preparadas para comunicar atempadamente sobre eventuais situações que belisquem sua imagem, sob pena de perder credibilidade e dar azo a especulações e falsas informações.

Socorrendo-se de factos ocorridos no sector dos transportes, como foi na altura o apagão no “Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro”, Celso Malavoloneke explicou que tal situação é de crise e exige das empresas melhor preparação para lidar com tais eventos e evitar fugir da comunicação social.

Para prevenir esse tipo de situações, segundo o então secretário de Estado da Comunicação Social, as empresas deviam criar um plano de comunicação de crise e capacitar os técnicos deste gabinete.

Os gabinetes de comunicação de crise, no entender de Celso Malavoloneke, que falava sobre o tema “comunicação de crise”, devem integrar no mínimo três pessoas, nomeadamente o principal responsável da instituição, o gestor do gabinete jurídico e o de comunicação e imagem.

Durante uma crise, na óptica deste “goebbeliano” perito, deve-se pôr em acção o comité de gestão de crise, seguir à risca o plano de comunicação de crise, com serenidade, rigor, disciplina e flexibilidade.

Entre as várias ferramentas de comunicação que devem ser utilizadas para comunicar em situações de crise, apontou a figura de um porta-voz (especialista), comunicado de imprensa, conferência de imprensa e encontros específicos com jornalistas para dar informações.

Estas habituais lições pedagógicas, tarefa em que durante muitos tempo alternava com o então ministro João Melo, visavam o que o Governo chama de jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional. A tese, embora adaptada do tempo de partido único, aparecia com vestes mais libertárias.

Na altura o Folha 8 irritou Joseph Goebbels quando perguntou quem era ele, ou o ministro, ou o próprio Titular do Poder Executivo para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional”?

Para alcançar tal desiderato, Celso Malavoloneke dizia que o então Ministério da Comunicação Social iria prestar uma atenção especial na formação e qualificação dos jornalistas, para que estes estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo.

Como se viu, o gato escondeu o rabo mas deixou o corpo todo de fora. Então vamos qualificar os jornalistas para que eles, atente-se, “estejam aptos para corresponder às expectativas do Governo”? Ou seja, serão formatados para serem não jornalistas mas meros propagandistas ao serviço do Governo, não defraudando as encomendas e as “ordens superiores” que devem veicular.

Celso Malavoloneke lembrou que o (seu) Presidente João Lourenço, no seu primeiro discurso de tomada de posse, orientou para que se prestasse uma atenção especial à Comunicação Social e aos jornalistas, para que, no decurso da sua actividade, pautem a sua actividade pela ética, deontologia, verdade e patriotismo. E fez bem em lembrar. É que ministros e secretários de Estado também recebem “ordens superiores” e, por isso, não se podem esquecer das louvaminhas que o Presidente exige.

Aos servidores públicos, segundo Celso Malavoleneke, o Chefe de Estado recomendou para estarem abertos e preparados para a crítica veiculada pelos órgãos de Comunicação Social, estabelecendo, deste modo, um novo paradigma sobre a forma de fazer jornalismo em Angola.

Nós por cá, correndo o risco de nos acontecer o mesmo que a Jan Kuciak, um repórter eslovaco de 27 anos conhecido pelo seu trabalho sobre corrupção e fraude fiscal e que foi, conjuntamente com a namorada, assassinado a tiro, vamos continuar a (tentar) dar voz a quem a não tem.

Vamos, em síntese, estar apenas preocupados com as pessoas a quem devemos prestar contas: os leitores. Se calhar, citando Celso Malavoloneke, não seremos tão patrióticos como o Governo deseja. Para nós, se o Jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala é um criminoso. Daí a nossa oposição total aos imbecis e criminosos.

No dia 13 de Agosto de 2018, o Governo do MPLA (em 46 anos é único da nossa história) preparava o seu Grito do Ipiranga. O Ministério da Comunicação Social pretendia estabelecer parcerias com as associações empresariais das províncias do Namibe, Cunene e Huíla, no sentido de – noticiou a Angop – “encorajá-las a investir no mercado publicitário, visando engrandecer as despesas do sector na região sul do país”.

A intenção foi manifestada à Angop, no Lubango, pelo então secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, no quadro da sua visita aos órgãos do sector, onde recebeu informações sobre o seu funcionamento.

Segundo o Joseph Goebbels do MPLA, o objectivo passava por assegurar receitas que são geradas por via da publicidade e também de patrocínios de programas temáticos. Isso, em concreto, significa o quê? Talvez, pensamos nós, uma declaração de menoridade que o Governo passa aos empresários.

D. Celso Goebbels sublinhou que o empresariado, neste tempo de crise, precisava, igualmente, de fazer conhecer os seus produtos, as suas marcas, os seus serviços e as suas ideias, porque o público consumidor tem agora um poder de compra reduzido.

Cada cavadela, cada minhoca. E os bagres que se cuidem. O Governo andava à pesca. Ou seria à caça? Como em tempos de crise não se olha aos anzóis, até as granadas servem para apanhar peixes…

Do alto da sua cátedra e na perspectiva de livrar o seu chefe de posto destes ridículos enciclopédicos, Celso Malavoloneke considerou que este processo de intermediação, entre o público consumidor, produtores, empresários, provedores dos serviços e os geradores de ideias, é feito precisamente pelos órgãos de Comunicação Social. Quem diria? Esta bem poderia ser assumida pelo nosso Paul Joseph Goebbels.

Daí a proposta, explicou o perito do MPLA com funções delgadas de comediantes, da parceria com a classe empresarial como uma forma de potenciar o mercado publicitário, para que se gere mais emprego para os jovens recém-formados nas universidades em Ciências de Comunicação nos vários órgãos de Comunicação Social, se combata a cólera, a malária, a lepra etc. e se incentive a venda de pentes para carecas, luvas para manetas e, é claro, o estudo do achatamento polar das batatas.

Justificava brilhantemente o Celso Goebbels que esta estratégia visava também “facilitar que estes sectores possam cumprir cabalmente o seu papel de potenciadores da economia e do desenvolvimento económico e social da província”.

Celso Malavoloneke acrescentou que a reacção dos empresários nesta direcção é salutar e, a qualquer momento, as distintas direcções dos órgãos de Comunicação Social poderão sentir os efeitos da implementação desta parceria.

Como sabemos, é verdade que qualquer parceria com MPLA é mais do que meio caminho andado para o sucesso do… MPLA. Por regra, numa sociedade solidária como é a nossa, o MPLA entra com as ideias e os empresários com o dinheiro. Quando chegar a altura da colheita dessa parceria, o resultado é inequívoco: Os empresários ficaram com as ideias e o MPLA com o dinheiro.

Recorde-se, entretanto, que Celso Malavoloneke afirmou em Junho de 2013, em entrevista ao programa “Angola fala só”, da VoA, que os órgãos de informação estatais são “uma vergonha” para os jornalistas, e que, meses antes (Março), dissera também à VoA, que Angola “corria o risco de ser a lixeira de Portugal” por, na altura, se assistir à substituição de jornalistas angolanos por profissionais provenientes do estrangeiro, sobretudo portugueses.

Enquanto Joseph Goebbels era anti-semita, advogava ataques ao bolchevismo e, após o início da Segunda Guerra Mundial, se dedicou a moldar a moral, Celso Malavoloneke é anti-UNITA, advoga a morte da UNITA e após os acordos de Paz de 2002 advoga o fim da UNITA.

Talvez um dia destes algum dos mais-Velhos da UNITA nos diga qual é a origem deste ódio que Celso Malavoloneke tem à UNITA e que, estamos em crer, em alguns casos se cruza com o ódio que o João Pinto também tem à UNITA. E não será, com certeza, necessário recorrer a Freud…

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