NÃO APROVEITAR A PROPOSTA DA UNITA É UM ERRO MONUMENTAL

A rejeição sistemática da proposta do Presidente da UNITA de tornar Cabinda uma região autónoma no sentido do termo, e próximo do modelo das ilhas da Madeira e dos Açores em Portugal, é um assunto político que a maioria dos líderes políticos Cabindenses rejeitaram como um todo, especialmente do lado da FLEC-FAC, que na minha opinião, é um erro político monumental do qual eles não percebem a nem a grandeza nem a qualidade de desafios, nem a visão de grandes questões políticas, às quais devemos aderir para uma discussão permanente, afim de traçar o quadro e lançar as bases presentes e futuras de um diálogo real sobre a questão de Cabinda.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

O que ganham os movimentos políticos e associações cívicas em Cabinda rejeitando a proposta política da UNITA, que é também um dos líderes da grande coligação de partidos políticos da oposição, FPU, que luta pela alternância pacífica de poder em Angola, através eleições transparentes e credíveis?

Mas na realidade, os movimentos políticos e associações de Cabinda têm tudo a perder, a começar pela credibilidade a nível nacional e a possibilidade de serem ouvidos pela comunidade internacional como nunca desde o fim da guerra em 2002.

Numa altura em que o Presidente da UNITA é alvo de apoio político a nível internacional e beneficiando de grande visibilidade internacional através da luta desigual que o regime trava contra ele e os outros dirigentes da oposição, como é que que os políticos Cabindenses podem permitir-se de não aproveitar da visibilidade internacional e do caderno de endereços do Presidente da UNITA?

Num contexto político mundial, agravado por esta guerra na Europa, numa altura em que os lideres políticos de Cabinda lutam por se fazer ouvir a nível nacional (talvez por falta de legalidade) e internacionalmente, não aliar-se com às outras forças políticas que lutam para a alternância do poder em Angola, é excluir-se da possibilidade de entrar no debate pela porta principal, para discussões à volta do projecto político da maior força e visão política angolana do momento, a Frente Patriótica Unida.

Os líderes políticos de Cabinda têm todas as razões para rejeitar o projecto de autonomia em Cabinda, e mesmo tratar o de proposta eleitoralista, mas por outro lado, devem propor um projecto alternativo, não se devem escapar do dever de honestidade de apresentar uma contraproposta realista, capaz de mudar as coisas, mas recusar a todo um povo o direito de discutir e formar uma aliança com a UNITA é um retrocesso político que poderemos pagar muito caro num futuro breve.

Não podemos permitir-nos de privar o voto dos Cabindenses do lado das forças pela alternância do poder em Angola, seria mesmo fazer a estratégia do MPLA, e ajudá-lo a fraudar massivamente as eleições em Cabinda, para apagar o seu derrota de 2017.

Quando os dirigentes políticos angolanos são recebidos nos grandes palácios das capitais mundiais, os Cabindenses, em aliança com estes homens, devem ter na bagagem as nossas preocupações e as das outras populações angolanas, descrevendo da melhor forma possível, a real situação política em Angola aos olhos do mundo.

É estando ao lado de todos aqueles que lutam pelo bem-estar, pela dignidade e pelo respeito das populações que devemos lutar, para participarmos juntos na conquista dos direitos de todos os cidadãos de forma global, e não dispersos, radicalizados entre nós, isolados no nosso pequeno território, longe dos olhos dos povos do mundo e perto do silêncio dos outros.

Na ciência política, como em tantos outros campos, tudo, às vezes é uma questão de interesse e oportunidade, se o interesse para nós é lutar pelos direitos do povo de Cabindenses, então devemos abraçar todas as boas iniciativas, credíveis, viáveis, que possam fazer com que um grande número de jovens Cabindenses serem eleito nas listas dos partidos políticos como indica a lei em vigor, e levar a voz de Cabinda mais alto na arena política nacional e internacional nas regras da arte, e não fazendo campanha pelo estatuto quo que bem convém ao regime.

Lembro-me que há muitos anos que as emboscadas da FLEC-FAC tentaram atrair a atenção da comunidade internacional, mas para que resultado? Pelo contrário, esta postura, esta guerra latente convém bem ao regime angolano, que está a continuar a ajudar indirectamente, involuntária e cegamente um regime que continua a raptar e a assassinar os Cabindenses nos países vizinhos com total impunidade, a roubar e explorar injustamente todos os recursos do nosso território.

Há pessoas, mas são poucas, e que vivem bem e aproveitam esta situação, ao sentiriam os seus interesses ameaçados, se optarmos pela paz, e se para isso somos nós que devemos começar por depor as armas, nunca o farão, por outro lado nunca tiveram resposta a todos os pedidos que fazem às organizações internacionais, e ninguém para nos dizer porquê?

O MPLA, como mostrou durante a semana passada, a sua última demonstração de força no Congo Brazzaville, que resultou na morte de três civis congoleses e vários feridos, a pretexto de perseguir a FLEC, suspeita de ser abastecida pelo exercito congolês, está a plantar a decoração do cenário que poderia, a longo prazo, suscitar um sentimento de xenofobia contra os cabindas no seio da população congolesa, e ao mesmo tempo poderá impor ao Congo um cenário próximo do que prevalece no leste da RDC.

Neste tipo de cenário, sob o pretexto de procurar os homens da FLEC, o assassínio dos Cabindenses no Congo tornar-se-ia um caso bastante corriqueiro e pagaremos um preço alto por isso enquanto população Cabindense.

Se a passagem de João Lourenço em Cabinda serviu para encerrar o debate sobre o Capítulo de Cabinda, devemos abrir a porta deste Capítulo às propostas das outras forças políticas angolanas, não só para participar activamente na vida política oficial do território, mas também conquistar um espaço de liberdade a cada dia, desde que tenhamos essas oportunidades de diálogo e trocas.

É verdade que só nós podemos ir longe, mas desde 1963 percebo o caminho percorrido sem saber a distância real, mas agora, é juntos que tudo é possível, Cabinda não se pode dar ao luxo de lutar e combater apenas o regime do MPLA pelas armas, nem pacificamente, tornou-se ao longo dos anos e dos contextos, um conflito que terá solução através de um diálogo permanente e em conjunto com as demais forças que lutam pela mudança em Angola.

Perdoem-me porque não sou palestrante e aprovo a opinião um do outro, assim como gostaria que você não tomasse minha opinião como um insulto porque sei de uma coisa, que nós não sabemos, nem todos temos o monopólio da violência ou a da solução para convencer, como costumo ler nos textos (nomeadamente no Folha 8) do meu amigo Orlando Castro, que a força da razão, da convicção, deve estar sempre acima da razão da força. Porque temos apenas um monopólio, o de sempre tentar dizer a verdade e dar voz a quem não tem.

(*) Activista e refugiado político na França
Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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