MAIS DO MESMO (NADA) HÁ 47 ANOS

O MPLA, partido que só está no poder desde a independência, saudou hoje os angolanos (será que os 20 milhões de pobres são angolanos?) pelo 47.º aniversário da proclamação da independência (mais exactamente da troca dos colonos portugueses pelos colonos do MPLA) do país, apelando a que contribuam “com actos de cidadania e elevado patriotismo” (ou seja, que continuem a aprender a viver sem comer) para que Angola se torne uma nação de referência.

Num comunicado a propósito da efeméride, o Bureau Político do MPLA, partido no poder desde que foi declarada a que se esperava ser a independência do país, pede ao povo angolano que renove “a esperança em dias melhores”.

O MPLA encoraja também o seu Presidente, igualmente Presidente da Re(i)pública e Titular do Poder Executivo (não nominalmente eleito), João Lourenço, “a continuar a implementar medidas de políticas que visam melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano, impulsionar o aumento da produção, o crescimento económico e a prosperidade da nação”.

Ou seja, fazer tudo o que não conseguiu fazer ao longo dos últimos 47 anos, 20 dos quais de paz total.

“O MPLA expressa-se optimista com as acções empreendidas pelo executivo angolano, que visam intensificar os esforços para a materialização do direito ao emprego digno e de qualidade, a qualificação profissional e o estímulo ao empreendedorismo especialmente para a juventude, tendo como base a aposta séria num Sistema Nacional de Formação Profissional”, sublinha-se no comunicado.

O Bureau Político do Comité Central do MPLA homenageia igualmente os que pagaram “com a própria vida o empenho directo e abnegado na luta de libertação” e reafirma-se como “vanguarda da promoção e reinserção política, económica e social de todas as forças vivas da nação, combatendo as várias formas de injustiça e discriminação”.

“Neste dia jubiloso, marcado pela libertação do povo angolano da dominação colonial portuguesa, o Bureau Político do MPLA, em nome dos militantes, simpatizantes e amigos do Partido, apela todos os cidadãos a celebrarem o 47.º aniversário da independência nacional com manifestações de incontida alegria, que reforçam a crença na elevação dos níveis de unidade nacional e de coesão interna”, conclui o partido.

Também a propósito desta efeméride, o Folha 8 emitiu o seguinte “comunicado”.

“Muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país.

Alguém do MPLA se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?

O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.

“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.

”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa.

D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.

O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.

Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão (e que, por isso, não são do MPLA), que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (16 anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.

Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.

D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.

Folha 8 com Lusa

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