JOSÉ MARIA NEVES OFENDE ANGOLANOS

O Presidente da República cabo-verdiano, José Maria Neves, defendeu em Luanda “uma vibrante homenagem” ao ex-presidente angolano, Agostinho Neto, “que desempenhou também um papel importante no apoio a Cabo Verde desde os primeiros momentos da independência”. Isto para além de ter sido o responsável pelo massacre de milhares e milhares de angolanos no genocídio de 27 de Maio de 1977, é isso não é?

José Maria Neves, que iniciou ontem uma visita de Estado a Angola, relembrou em declarações à Inforpress e à Rádio e Televisão de Cabo Verde que este ano de 2022 é o ano do centenário do nascimento de Agostinho Neto, que foi um médico, escritor e político angolano, principal figura do país no século XX. Também foi um assassino, um criminoso e um genocida, mas isso não interessa ao Presidente de Cabo Verde.

“Nós tivemos a sorte do médico Agostinho Neto ter trabalho em Cabo Verde e do engenheiro Amílcar Cabral ter trabalhado aqui em Angola. As relações são muito fortes, o nosso Hospital da Praia não é por acaso que tem o nome de Agostinho Neto”, continuou.

O Presidente da República de Cabo Verde relembrou igualmente que esta figura angolana também passou algum tempo em Santo Antão, onde, disse, inclusive há pessoas com o nome de Agostinho Neto em sua homenagem.

“De modo que temos de prestar uma vibrante homenagem ao poeta, guerrilheiro, estadista e a um homem que desempenhou também um papel importante no apoio a Cabo Verde desde os primeiros momentos da independência”, frisou.

Angola é o primeiro país a ser visitado pelo Presidente de Cabo Verde, desde que tomou posse a 9 de Novembro de 2021. O convite foi feito por João Lourenço quando assistiu à posse de José Maria Neves.

Agostinho Neto, de genocida a herói do MPLA e de Cabo Verde

O Presidente da República, João Lourenço, determinou a criação de uma Comissão Interministerial para a organização das acções comemorativas do centenário do primeiro Presidente e Fundador da Nação angolana, único herói nacional segundo o MPLA e responsável pelo massacre de milhares de angolanos no genocídio de 27 de Maio de 1977, António Agostinho Neto.

De acordo com uma nota de imprensa da Casa Civil do Presidente da República, a Comissão resulta da necessidade de se organizar os preparativos para uma comemoração condigna desse acontecimento que se celebra a 17 de Setembro de 2022.

A Comissão vai elaborar um cronograma de acções comemorativas alusiva aos 100 anos do nascimento do suposto único fundador da Nação, apresentar uma proposta de orçamento para as celebrações, preparar, organizar e coordenar, a nível interno e externo, as operações necessárias à realização das celebrações.

Como coordenador da Comissão, o Presidente da República indicou o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, que deverá ter como como adjunto o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado.

Integram também esta Comissão os ministros da Administração do Território, Marcy Lopes; da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos; do Interior, Eugénio César Laborinho; e das Relações Exteriores, Teté António.

Os governadores provinciais, o director do Cerimonial do Presidente da República, o presidente do Conselho de Administração do Memorial António Agostinho Neto e um representante da Fundação António Agostinho Neto fazem parte igualmente da Comissão.

Em Setembro de 2020, a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, desafiou as universidades do país (desde logo a Universidade da qual é patrono) a promoverem a elaboração de projectos de estudos no âmbito do centenário de Agostinho Neto. A caminho, presume-se, de uma série de galardões internacionais, caso do Nobel da Paz…

Luísa Damião, que falava na abertura de uma mesa-redonda sobre “A dimensão política e cultural de Neto”, propôs à Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto a criação de um departamento ou estudos sobre a vida e obra de Agostinho Neto, à semelhança de algumas academias do mundo. A vice-presidente do MPLA defendeu que não se pode diminuir ou denegrir a imagem ou reduzir a dimensão de Agostinho Neto. Tem razão. Para além de ter mandado massacrar milhares e milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977, a dimensão genocida de Agostinho Neto tem outras variantes dignas de estudo.

“O seu sentido humanista e de liderança do país fica expresso na necessidade da formação do homem novo por via da educação e dos valores e ideias do povo angolano”, disse a oradora, certamente numa mensagem subliminar aos familiares das vítimas do massacre que, provavelmente, não viram nessas mortes o sentido humanista do carrasco.

No colóquio, que decorreu sob o lema “Reforçar a Unidade Nacional com o Legado de Neto”, Luísa Damião defendeu que Agostinho Neto deve ser sempre promovido, para o conhecimento e estudo das novas gerações. Tem razão. Do ponto de vista do MPLA, e aqui a mensagem não é subliminar (pelo contrário), importa que os angolanos se lembrem de que o 27 de Maio de 1977 “made in” Agostinho Neto não foi caso único e pode ser repetido sempre que o partido quiser.

Luísa Damião lembrou que Agostinho Neto é reconhecido internacionalmente e os seus feitos ultrapassam fronteiras (em breve serão assinados com uma lápide em… Marte). No seu percurso histórico, acrescentou, além da dimensão humanista, tem as suas impressões digitais em vários domínios da vida do país. Modéstia. Na verdade as impressões digitais de Agostinho Neto estão sobretudo na morte dos angolanos.

Portugal também está a dar o seu contributo para branquear Agostinho Neto. Relembre-se que Maria Eugénia Neto, presidente da Fundação António Agostinho Neto (FAAN), assinou no dia 10 de Setembro de 2019, com a FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal), um protocolo que cria a Cátedra Agostinho Neto nesta instituição de ensino superior. Assim a FLUP dá mais um passo no branqueamento da imagem daquele que foi o genocida responsável pelos massacres de milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977. Só fica a faltar a cátedra… Adolf Hitler.

O acto representou uma homenagem da Universidade do Porto ao 40º aniversário da morte do poeta medíocre (segundo José Eduardo Agualusa) e do maior sanguinário da história da Angola independente e contou com a participação da directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro.

Maria Eugénia Neto salientou, na ocasião, “as renovadas perspectivas e investigações sobre Agostinho Neto, enquanto poeta, homem de cultura e político”, destacando que o Prémio Camões tem um significado de grande alcance para o conjunto de países que tornou sua a língua de Camões.

Eugénia Neto confirmou que a FAAN, no âmbito do pré-centenário de Agostinho Neto, assinou o protocolo de cooperação com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), para a criação da Cátedra Agostinho Neto com o intuito de promover o estudo de Agostinho Neto, das línguas, da literatura e da cultura angolanas, através do estabelecimento de um programa próprio de investigação e ensino na área dos Estudos Africanos.

Para além do simbolismo da efeméride de lavagem da imagem do herói do MPLA, a criação da Cátedra marcou o encerramento do colóquio “Agostinho Neto e os Prémios Camões Africanos”, em que participaram especialistas culturais, voluntariamente ignorantes quanto aos crimes cometidos pelo homenageado, de Angola, Portugal, Brasil, Cabo Verde e da China e que abordaram aspectos ligados ao tema do evento.

O reitor da Universidade do Porto, João Veloso, considerou o acto um feito internacional, tendo saudado muito entusiasticamente a assinatura do protocolo que homenageia a mais tenebrosa figura da História e da cultura angolana que, pelo seu papel de poeta e homem de cultura, todos procuram dizer que é um dos maiores escritores da língua portuguesa. E será com certeza se, de facto, se considerar que escreveu com o sangue de milhares e milhares de angolanos.

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