GUERRA DA RÚSSIA CONTRA A UCRÂNIA ATRASA LANÇAMENTO DO ANGOSAT

O satélite Angosat-2 poderá ser lançado entre Abril ou Maio deste ano, garante o embaixador da Rússia em Angola, Vladimir Tararov. Provavelmente o processo para “desnazificar” a Ucrânia poderá atrasar o lançamento do satélite, mas a abstenção do MPLA quanto à guerra contra os ucranianos merece ser (re)compensada.

A informação foi avançada pelo embaixador russo acreditado em Angola, Vladimir Tararov, tendo garantido que a Rússia vai lançar dentro de dois meses o satélite Angosat-2 e que as dificuldades iniciais já foram superadas e que com a entrada em funcionamento do satélite, acredita-se que Angola vai ter melhorada as telecomunicações, telemedicina e outros serviços.

«Neste ano antes das eleições nós gostaríamos de lançar (referindo-se ao satélite Angosat-2), isso era previsto o nosso acordo para Março, mas parece que nós vamos retardar um ou dois meses por causa daquelas sanções, porque há a muitos componentes estrangeiros neste satélite», frisou.

A Rússia quer reforçar a cooperação com Angola, actualmente baseada sobretudo no sector diamantífero, nos domínios do turismo, extracção de recursos minerais, indústria, formação de quadros e agricultura. Sobra ainda alguma coisa para os velhos camaradas do MPLA explorarem?

Segundo o embaixador da Rússia em Angola, Vladimir Tararov, à saída de um encontro em 2019 com o Presidente, João Lourenço, a Rússia continuava interessada em “ajudar a erguer a economia e a indústria”. Disso não tenhamos dúvidas. Eles entram com o “know how” (saber) e nós com as riquezas. Depois? Bem. Depois nós ficamos com o “know how” e eles com as riquezas. Simples.

“O Presidente João Lourenço disse que isso seria muito útil para as nossas relações bilaterais, temos que virar a cooperação para o domínio económico, e o que é mais importante, o agro-industrial”, frisou Vladimir… Tararov.

Segundo o diplomata russo, no encontro foram também abordadas questões saídas do fórum económico na cimeira de Sochi, tendo igualmente agradecido em nome do seu governo a participação do Presidente angolano naquele evento.

O embaixador Vladimir frisou que a cooperação iria ser desenvolvida nos domínios turístico, humanitário, formação de quadros, extracção de diamantes, desenvolvimento industrial e cultura.

As relações bilaterais datam de 1976, ano em que foi assinado o Tratado de Amizade e Cooperação entre os dois países, em Moscovo, na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Já em Luanda, as partes assinaram, em 2004, um acordo para o relançamento da cooperação nos domínios económico e técnico-científico.

O regresso da presença russa a África está hoje claramente marcado pelo investimento, ou seja, venda de armas e envio de “conselheiros” ou mercenários, com Moscovo a competir com a Europa e a China para o papel de principal parceiro do continente africano.

De acordo com um artigo da agência France-Presse, o destaque da crescente presença da Rússia em África surgiu no dia 30 de Julho de 2018, com o assassinato de três jornalistas russos na República Centro-Africana, que investigavam a presença do grupo militar Wagner no país.

Segundo o artigo, de Janeiro a Agosto de 2018, a Rússia terá enviado cinco oficiais militares e 170 instrutores civis – que alguns especialistas acreditam ser mercenários do grupo Wagner -, entregado armas ao exército nacional após uma isenção ao embargo da Organização das Nações Unidas (ONU) e assegurado a segurança do Presidente centro-africano, Faustin-Archange Touadéra, cujo conselheiro de segurança é (claro!) de nacionalidade russa.

A entrega de armas aos Camarões para a luta contra o grupo ‘jihadista’ Boko Haram, as parcerias militares com a República Democrática do Congo (RD Congo), Burkina Faso, Uganda e Angola, as cooperações num programa de energia nuclear civil com o Sudão, na indústria mineira no Zimbabué ou no alumínio da Guiné, representam algumas das iniciativas de Moscovo nos últimos três anos.

A Rússia tem também diversificado as suas parcerias africanas, expandindo as relações para além das nações com quem tem ligações históricas – como Argélia, Marrocos, Egipto e África do Sul – e procurou aliados na África subsaariana, onde estava “virtualmente ausente”, lê-se no artigo.

“África continua a ser uma das últimas prioridades na política externa da Rússia, mas a sua importância tem vindo a crescer”, de acordo com o historiador Dmitry Bondarenko, membro da Academia Russa de Ciências.

A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) manteve, durante décadas, uma presença activa no continente. Agora, com outro nome, mantêm-se os objectivos: sacar o máximo e perder o mínimo. Um bom negócio, desde logo porque a carne para canhão é negra e as riquezas africanas são inesgotáveis.

A medida representava uma das armas na guerra ideológica contra o Ocidente, apoiando os movimentos de libertação africanos e, após a descolonização, enviava milhares de conselheiros até esses territórios.

Com a desintegração da URSS, as dificuldades económicas e as lutas internas na Rússia durante os anos 1990, Moscovo abandonou as suas posições em África.

Face à falta de fundos, aumentou o número de embaixadas e consulados a encerrar, diminuíram o número de programas e as relações atenuaram.

Foi apenas no novo milénio que o Kremlin começou a reavivar as suas antigas redes e regressou gradualmente a África, procurando novos parceiros à medida que a ideologia era substituída por contratos e pela venda de armas. E, também, à medida em que os “velhos” comunistas (caso do MPLA) se rendiam às benesses do capitalismo, selvagem ou não.

Em 2006, o Presidente russo, Vladimir Putin, viajou até à Argélia, África do Sul e Marrocos para assinar contratos, algo que o seu sucessor, Dmitri Medvedev, estendeu a outros países – Egipto, Angola, Namíbia e Nigéria -, três anos mais tarde.

Em Março de 2018, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, visitou cinco países africanos, enquanto representantes de várias nações do continente estiveram presentes no Fórum Económico de São Petersburgo, em Maio.

Se a Rússia encontrar interesse económico, permite aos países africanos “ter mais um parceiro, o que significa outro canal de investimentos e desenvolvimento, e o apoio de um país poderoso no cenário internacional”, declarou o analista russo e antigo embaixador em vários países africanos, Evgeni Korendiassov, citado pela AFP.

A Rússia, que não tem um passado colonial em África, espera apresentar-se como uma alternativa para os países africanos face aos europeus, norte-americanos e chineses.

A AFP considera a República Centro-Africana um “excelente exemplo”, dado que este país nunca esteve perto da URSS durante a Guerra Fria e agora volta-se para a Rússia para fortalecer as suas forças militares, com dificuldades em enfrentar os grupos armados.

“Desde 2014 e da anexação da Crimeia, a Rússia tem confrontado o Ocidente e declarado abertamente a sua vontade de se tornar novamente uma potência mundial. Não pode, portanto, ignorar uma região”, apontou Bondarenko. Segundo ele, Moscovo está interessado em África não por razões económicas, mas para “um avanço político”.

“Anteriormente, os países com quem o Ocidente não queria cooperar, como o Sudão ou o Zimbabué, só podiam recorrer à China. A Rússia passou a ser uma alternativa tangível”, acentuou, antes de concluir que “este não era o caso antes, e isso pode mudar significativamente a ordem geopolítica do continente”.

Um diploma de mérito e uma medalha de ouro, que simboliza a paz e o desenvolvimento mundial, foram atribuídos à organização juvenil do MPLA (JMPLA), pelo Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin.

Com o diploma e a medalha, o Chefe de Estado russo homenageou esta organização partidária pela sua “excelente participação no XIX Festival Mundial da Juventude e Estudantes, realizado na cidade russa de Sóchi, de 14 a 22 de Outubro de 2017”.

Em 28 de Novembro de 2018, o embaixador russo em Angola, Vladimir Tararov, entregou ao então primeiro secretário nacional da JMPLA, as respectivas distinções, tendo destacado os laços de amizade e de cooperação existentes entre a Rússia e Angola. Certamente que este recado a João Lourenço não era necessário, mas, pelo sim e pelo não…

O diplomata falou do processo de diversificação da economia e do combate à corrupção (coisa em que os russos são peritos, como todos sabem) em curso em Angola, como dois factores que atraem empresários russos para investirem no território angolano.

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