GOVERNO RESPONDE AOS MÉDICOS COM A RAZÃO DA FORÇA

O Sindicato Nacional dos Médicos (Sinmea) angolano reiterou a manutenção da greve, que decorre desde 21 de Março, e várias manifestações para os próximos tempos, a primeira programada para sábado. À sua força da razão, o Governo responde com a razão da força.

Em conferência de imprensa, a Direcção do sindicato denunciou que estão a ser alvo de ameaças do Governo pela realização da greve, que reivindica melhores condições de trabalho e melhoria salarial e social para a classe.

O secretário-geral do Sinmea, Pedro da Rosa, sublinhou que “foi com muita surpresa” que a classe médica acolheu os pronunciamentos do executivo face à greve dos médicos.

O Governo angolano anunciou esta quarta-feira que vai suspender os salários dos médicos grevistas, porque “cumpriu com os pontos do caderno reivindicativo” e não vai cruzar os braços porque “meia dúzia de médicos” entenderam paralisar há quase duas semanas.

“Não se vai processar os salários das pessoas que estiverem em greve, porque já houve bastante tolerância do Governo, vamos preparar outras forças e aí onde estiver em falta vamos encaixar, porque é a vida do cidadão que está a ser posta em causa”, afirmou, na altura, a ministra da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social angolana, Teresa Dias.

Esta tese da ministra não se aplica aos 20 milhões de pobres, que o MPLA criou, porque esses – como todos sabem – não são nem cidadãos nem angolanos. São apenas escravos.

Pedro da Rosa disse que quer a ministra Teresa Dias, como a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, sempre fizeram parte da mesa de negociação e dominam as reivindicações dos médicos.

“Sabem perfeitamente que os médicos defendem a melhoria das condições de trabalho em todas as unidades sanitárias de todo o país, mormente nas unidades de atendimento primário, ali no posto médico, no centro de saúde”, disse Pedro da Rosa.

Segundo o secretário-geral do Sinmea, os médicos em Angola “vivem numa perfeita indigência” e comparativamente aos colegas da sub-região austral “vivem socialmente negligenciados”.

“O médico anda a pé, vive em casa de renda, não consegue fazer do ponto de vista social aquilo que é básico. Os médicos querem ver equipamento e materiais gastáveis nos bancos de urgência para diminuir as taxas de mortalidade no seio da nossa população. Nós ainda temos muitas mortes negligenciadas, que acontecem porque não temos o equipamento adequado para salvar aquela vida”, criticou.

“A greve é legítima e não adianta minimizar a situação com terminologias que desvalorizam os médicos e com intenções claras de criar a divisão no seio da classe”, frisou.

Por sua vez, o presidente do Sinmea, Adriano Manuel, disse que os médicos estão a ser ameaçados pelo Governo “única e simplesmente por reivindicarem condições de trabalho”. Talvez seja, antes, por (ainda) estarem… vivos.

Para Adriano Manuel, o posicionamento, na quarta-feira, do Governo de Angola demonstra que “não valoriza a classe médica (…) e acima de tudo não valoriza o povo angolano”. Não é bem assim. O Governo valoriza e reconhece o povo angolano que é do MPLA. Quanto aos outros, são apenas uma nova espécie de escravos E se antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, seguindo-se o enxovalho (mesmo que mitigado e maquilhado) dos que tiveram, e têm, de transportar pedras à cabeça para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilarem”, agora é a dos médicos que, como Sílvio Dala, são mortos nas esquadras do regime.

O dirigente sindical realçou que o primeiro caderno reivindicativo foi apresentado à entidade patronal (Governo/Estado/MPLA) em 2018 e três anos depois um outro com o mesmo conteúdo, e até à presente data não têm visto “vontade por parte do Governo em melhorar as condições de trabalho”.

“O que nós estamos a pedir não é muito. Para terem ideia, um glucómetro, aparelho para medir a quantidade de açúcar no organismo, na Europa é um aparelho que é oferecido nas farmácias, o Governo não é capaz de colocar isso nos nossos hospitais”, contou o médico.

Durante as negociações, segundo Adriano Manuel, o Governo alegou falta de dinheiro para o aumento salarial, tendo os médicos sugerido algumas fontes de financiamento, entre as quais um seguro de saúde obrigatório, que não foi aceite, bem como o pedido de subvenção a medicamentos de doenças crónicas.

“A chantagem que o Governo está a fazer na classe médica nós não vamos aceitar, vamos preferir perder esses trabalhos, ainda que para isso morramos de fome. Se com esse objectivo nós vamos salvar a vida de milhares de angolanos, nós vamos fazer”, disse.

Adriano Manuel sublinhou que a posição da entidade patronal só veio “activar a ira da classe médica”, repetindo que enquanto não houver aumento salarial e melhoria de condições de trabalho, a greve vai continuar.

“Nós temos um plano que vamos começar a realizar agora, a partir de amanhã [sábado] vamos fazer uma série de manifestações que não vão parar, vamos ter a primeira amanhã, o próximo sábado, a segunda, vamos ter a terceira, a quarta e a quinta, que vamos denominar o êxodo da população médica para Luanda, todos os médicos das províncias de Angola virão para Luanda para a manifestação”, informou.

MPLA HIPOTECOU E VENDEU OS ANGOLANOS

O Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, coadjuvado por uma equipa económica considerada, pelo mercado, como das piores, para enfrentar um momento de crise nacional e global, será, seguramente, responsabilizado pelos vivos… com os testemunhos dos mortos.

Actualmente, a maioria dos cidadãos, não vislumbra uma projecção com sentido lógico, tão pouco uma equação económica blindada na realidade do país real, salvo a irracional opção por uma política neoliberal, cujo mérito, se disso podemos aferir, apostou em dormir nos nauseabundos anexos do Fundo Monetário Internacional, algumas vezes até mesmo no matagal que circunda esses anexos.

A saída, a solução, passa por lançar mãos de uma nova organização das estruturas estatais, capazes de planificarem o fomento, em larga escala, do desenvolvimento de uma agricultura familiar, a média produção avícola, caprina e pecuária, capaz de alavancar a pequena e média indústria, alimentada com recursos financeiros derivados da venda do petróleo, ainda determinante nos próximos 20 anos para o desenvolvimento.

Essa estratégia (que nem sequer é uma espécie de “ovo de Colombo”, apenas sendo um patamar mínimo para quem conhece o país) daria uma grande folga e capacidade de encaixe financeiro ao governo, porquanto as receitas do petróleo, ao invés de estarem confinadas ao pagamento da dívida aos grandes credores, serviria para incrementar o fomento do desenvolvimento noutras áreas, fundamentalmente, educação e saúde.

Em fase de crise é prudente, responsável, patriótico a adopção de medidas que visem o amanhã sem muitos sobressaltos, não sendo, infelizmente, o caso actual, porquanto, o pacote assinado com o FMI é mais um oceano de problemas do que soluções, sendo até humilhante (para além de motivo de sarcasmo) que o Presidente da República tenha aceite hipotecar o país.

A teoria neoliberal de apoio cego, besta e irracional às políticas económicas do FMI , augura péssimos resultados. Em nenhum momento o Fundo pensa na maioria pobre, no seu emprego, na estabilidade social, pelo contrário, muitas vezes rejubila com as convulsões sociais, que são sempre uma oportunidade para o ocidente fazer negócios, no caos, com os governos. Estejamos atentos a como vai ser, e quem vai reconstruir, a Ucrânia.

O exemplo do Ghana, cuja receita fez com que a economia, nomeadamente petróleo e diamantes, estejam nas mãos dos estrangeiros, alimentam sempre os vários ciclos de tensão. Por outro lado, não se deveria descurar (bem pelo contrário) as lições que vêm da Argentina e do Chile.

O Presidente da República apostou no cavalo errado, com opções, igualmente erradas, que apenas estão a agravar a situação do país, pois o neoliberalismo não dará certo. O neoliberalismo capitaneado pelo ocidente europeu e os EUA, países considerados como pais da democracia, na realidade, sempre foram os principais estimuladores dos conflitos militares, vendendo armas, equipamentos e, fornecendo, até mercenários, para colocar no poder, o fantoche de eleição, para gáudio da indústria armamentista ocidental, que enriquece astronomicamente, com a catástrofe dos países pobres, liderados por líderes pobres de espírito, complexados, que vivem como nababos em grandes palácios, rodeados de luxo.

Nem mesmo maltratando os respectivos povos, tornando-os miseráveis, indigentes, face à má-gestão, à delapidação do erário público, à descarada corrupção, mobilizam a sensibilidade dos ocidentais. Os exemplos estão à mão de semear. E se o FMI e o Banco Mundial estivessem, verdadeiramente, preocupados com o desenvolvimento dos países africanos, já teríamos Estados modelo, com instituições do Estado fortes, sistemas de justiça, independentes e imparciais, eleições livres e justas, educação forte e líderes democráticos, comprometidos com a alternância e o sentimento de bem servir o colectivo.

Infelizmente ocorre o inverso, por ser mais vantajoso às organizações de Bretton Woods colocarem-se como abutres, com a cumplicidade de presidentes africanos, dóceis, fracos e corruptos. Os líderes diferentes, comprometidos com valores morais e as relações harmoniosas dos seus povos, como Thomas Sankara, que apostou na Educação, como alavanca de uma verdadeira independência e na Agricultura familiar, como mola da auto-suficiência alimentar e do desenvolvimento, são selvaticamente assassinados, por constituírem uma pedra no sapato dos exploradores ocidentais.

Isso não retira a importância dessas organizações, mas o modelo aplicado, desde a época das independências, demonstram ter África apenas trocado o colonialismo explícito, pelo actual, sub-reptício, assente no capital financeiro internacional, na senda da contínua exploração das matérias-primas, dominando as suas economias e inviabilizando o desenvolvimento multifacetado e autonomia dos países.

A lógica do capitalismo ocidental, quando empresta (financiamento) dinheiro, visa o retorno rápido do investido com juros altos, exigindo em contrapartida, uma política descomunal de restrições, na economia, através de despedimentos massivos, privatização do sector público, pacote severo de impostos (não poupam a cesta básica), pagos pelos mais pobres e vulneráveis, os menos beneficiados.

Actualmente, face à amadora e vergonhosa política económica, adoptada pelo Titular do Poder Executivo e pelo ministro de Estado, Manuel Júnior, o país, vive momentos de autêntica turbulência política e social, desnorte empresarial, com a desvalorização abrupta da moeda, inflação galopante e altos impostos como uma das receitas impostas pelo FMI. Para agravar a situação a tese saloia de haver mais-valias na privatização dos principais activos do Estado, apenas beneficia e escancara as portas aos empresários estrangeiros que, a preço de banana, têm carta-branca, para adquirir (talvez o termo exacto seja roubar) e passar a controlar as empresas públicas e os principais sectores da economia, nomeadamente, petróleo, banca, diamantes, ferro, mármore, agricultura, numa só palavra, a colonização económica, com a bênção do Presidente da República.

O entreguismo e conceito de vira-lata, instalado nos corredores palacianos, na maioria das vezes serve apenas para manutenção no poder de regimes autocráticos e nunca o desenvolvimento e soberania dos países e povos. O neoliberalismo não faz mais do que privilegiar as multinacionais e Estados capitalistas desenvolvidos, para em conluio com líderes africanos ou subdesenvolvidos complexados, autocráticos e corruptos, explorar os recursos naturais e dominar a economia de países pobres, favorecendo apenas a elite desses países que lhes garante a escravatura do século XXI.

Não é, pois, sem razão que o Prémio Nobel da Economia de 2001, o economista americano, Joseph Eugene Stiglitz, professor da Universidade de Columbia, um dos mais fervorosos críticos do FMI, considerou a alegada globalização comercial e o capitalismo voraz como alguns dos factores que contribuem para a desigualdade no mundo, principalmente em países, onde as instituições políticas, económicas e públicas do Estado, são frágeis.

Logo nessa equação, no final, quem ganha são sempre as potências capitalistas, que deixam os países mais pobres e com menos recursos materiais e humanos (grande parte dos tecnocratas e intelectuais imigra para o Ocidente). Desconfiar do FMI não significa desacreditar, no todo, nessa instituição e nos países ocidentais ricos, que tornam África e Angola mais conhecidas pelas suas desgraças, como guerras, doenças, corrupção, fome, desemprego do que como berço da humanidade, com um longo potencial, para desabrochar, carentes apenas de líderes defensores das respectivas soberanias, com potencial de honestidade e comprometimento de servir o colectivo, iniciando com verdadeiras revoluções do saber, para a formação de estruturas sólidas de Educação, base para um desenvolvimento seguro.

Folha 8 com Lusa

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