DAR O BENEFÍCIO DA DÚVIDA AO MPLA

Entre os portos de águas profundas de Banana (RDC 2025) e Ponta-Negra (Brazzaville), Cabinda poderá tornar-se num Dubai tão desejado pelo governo de João Lourenço?

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Para responder a esta importante questão, decorrente da publicação do jornal português Expresso que dei a minha opinião neste jornal sobre uma possível zona económica franca de Cabinda, importa analisar as bases das afirmações de João Lourenço, depois de ter transformado Benguela na Califórnia, e como tinha prometido no início do seu mandato, fazer de Cabinda um bom lugar para viver.

Vendo as suas promessas neste ângulo, não é uma ofensa dizer que João Lourenço falhou totalmente em todos os aspectos, mas como os governantes angolanos nunca têm vergonha de mentir mesmo quando os erros têm de ser admitidos, é permitido duvidar das capacidades de o regime do MPLA e o seu actual presidente fazer de Cabinda um modelo económico como o Dubai, mesmo com fundos de investimento do Qatar.

No mês passado, o presidente Felix Tchissekedi, colocou a primeira pedra do futuro grande porto em águas profundas de Banana com um consórcio do Qatar, que poderá ser inaugurado em 2025, dependendo do andamento da obra e, em frente ao Porto de Ponta-Negra, o que será de Cabinda com o seu porto que tarda a chegar, encravado entre estes dois portos gigantes?

Face à concorrência, o porto de Caio será competitivo em termos de desalfandegamento, ou poderá ser rentável e viável dependendo apenas do mercado local Cabindês, ou seria preferível que os comerciantes Cabindeses desembarcassem os seus contentores no porto de Banana ou ainda em Ponta-Negra como de costume, em termos de custo dos serviços?

Aqui estão questões concretas sobre as quais os Cabindenses deveriam reflectir e debater antes de rejeitar ou criticar as novas promessas dos incompetentes Deng Xiao Ping angolanos antes das eleições de todos os perigos e de todos os desafios que estão por vir.

Com investimentos significativos no Porto de Banana num território em paz, como é que os fundos do Qatar conseguirão investir massivamente em Cabinda, senão se trata de aproveitar a exportação massiva de nossos recursos minerais e florestais a um custo menor?

Em termos de viabilidade, não tenho dúvidas de que Cabinda se tornará uma zona franca, pela sua posição geoestratégica e pelos seus potenciais recursos naturais, mas tenho todas as razões para acreditar que o povo de Cabinda não tirará qualquer benefício duma tal oferta económica, porque as vantagens fiscais que deveriam encher os cofres do território, beneficiará as poucas empresas que vierem a instalar-se e não a população.

Outra razão que me leva a acreditar num novo golpe económico é o facto de que, raramente, uma zona franca é portadora e criadora de milhões de empregos tangíveis, pelo contrário os investidores vêm apenas para lavar, se não para rentabilizar o seu dinheiro por escritórios de representações em troca de benefícios fiscais, sobretudo quando conhecemos o gosto pelo enriquecimento fácil dos nossos dirigentes e a opacidade com que tratam as questões económicas, sobretudo as relativas aos recursos de Cabinda.

A terceira e mais triste das minhas razões é o facto de constatar que a nossa classe política Cabindense ser uma classe política totalmente centrada na história e no passado, que crítica de longe e não se preocupa em enfrentar os com seriedade os desafios deste tipo.

Uma classe que prefere conformar-se como eterna vítima, e esconder-se atrás do desejo de independência fazendo as pessoas acreditarem que só a independência nos permitirá resolver todos os nossos problemas económicos, políticos e sociais, fugindo de se confrontar abertamente com o governo angolano sobre as questões reais do desenvolvimento, com o medo de estabelecer uma paz real sem ideologia populista.

Sou de opinião que o nosso direito de lutar pela independência não nos dá de forma alguma o direito de virar as costas, ou de rejeitar, sistematicamente a tudo o que este governo mentiroso queira fazer para desenvolver o território, porque mesmo a Angola do período colonial era, mais desenvolvida e melhor do que agora, não impediu que o povo angolano lutasse pela sua independência.

Para concluir, a nossa luta deve ser enquadrada numa lógica processual e evolutiva e não ideológica, já não é importante do meu ponto de vista, continuar a lutar apenas pela independência como fim, e queixar-se das más condições de vida dos população em constante deterioração, em um ambiente onde temos a responsabilidade de escolher a paz e não a violência como base da luta.

O bem-estar de nossa população e a tão desejada independência só serão alcançados quando formos capazes de combinar desenvolvimento e paz social, banindo todas as formas de luta armada.

O contexto é-nos favorável, as razões políticas das nossas reivindicações são justas e nobres, só temos que fazer política como ciência e aplicá-la a nós mesmos… venceremos porque nossa causa é justa.

(*) Activista e refugiado político na França

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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