CHUVAS, CHEIAS, MISÉRIA, FOME = MPLA

O primeiro secretário provincial da UNITA em Luanda, Manuel Nelito Ekuikui, apresentou ao governador da capital angolana preocupações sobre problemas habitacionais da população e das chuvas que geralmente resultam em mortes. Esqueceu-se que, feitas as contas, o MPLA só está no Poder, em Luanda como em Angola, há 47 anos.

“Falamos um bocado sobre os problemas das famílias do Zango, que estão há 11 anos sem as suas casas – demoliram as suas casas -, encontram-se em habitações sem dignidade nenhuma, aliás habitações não, estão em casas de chapas e pedimos ao governador para dialogar e encontrar efectivamente uma solução”, referiu Manuel Nelito Ekuikui.

Nelito Ekuikui, que respondeu a um convite do governador da província de Luanda, ex-ministro de uma série de coisas (Telecomunicações Tecnologias de Informação Comunicação Social), Manuel Homem, falava à imprensa no final do encontro, que serviu para a identificação de problemas que afligem a população (e que o MPLA ao fim de 47 anos ainda desconhece) e possíveis soluções.

Segundo o também deputado à Assembleia Nacional, o problema da drenagem das águas foi igualmente abordado, porque “sempre que chove há problemas, morre gente, e deve ser efectivamente uma das prioridades”.

“Portanto, deixamos algumas sugestões para o Senhor governador no sentido de ter um mandato com bastante êxito e impactar vidas, porque governar é impactar vidas”, sublinhou, realçando que as eleições foram realizadas e a UNITA está “para auxiliar quem está a governar o país”.

“A resolução dos problemas de habitação, várias populações ficaram desalojadas no centro da cidade, as chuvas aproximam-se e Luanda sempre que chove a questão da drenagem de águas é um problema e em consequência morre sempre gente”, enumerou Manuel Nelito Ekuikui.

O político realçou que outros problemas conhecidos não dependem de uma forma directa do governador, “é uma estratégia mais global”, nomeadamente “o problema da falta de emprego e outros”.

“Nós estamos para auxiliar, para andar juntos enquanto angolanos apoiarmos, isso é que é o correto”, frisou, destacando a o elevado grau de abertura e disponibilidade de Manuel Homem para a solução dos problemas de Luanda.

“Em Luanda, gravitam vários interesses, naturalmente há coisas que não vão depender de uma forma directa do Senhor Governador, mas ainda assim lá onde existir vontade de resolver os problemas o Senhor governador vai resolver, pelo menos mostrou-se disponível para o diálogo”, sublinhou o deputado, sinalizando também a necessidade de mudanças no tratamento dos casos de greve, várias vezes reprimidas através do uso da força policial.

“Quando a polícia reprime depois o político fica mal e senhor governador é jovem pode dialogar, descer sempre e dialogar. Luanda é o centro do poder e sendo o centro do poder quem governa Luanda tem que ter a capacidade de dialogar com todos os segmentos”, salientou.

Mais um crime dos… portugueses

Entendamo-nos. Tudo o que de errado se passa no reino MPLA (oficialmente Angola) foi, é e será culpa dos portugueses. A independência poderia ter chegado há 500 anos mas só chegou há 47. A culpa é dos portugueses. João Lourenço poderia ser branco, mas não é. A culpa é dos portugueses. O reino poderia ser um dos países menos corruptos do mundo, mas não é. A culpa é dos portugueses.

Em tempos recentes o Presidente da República nunca nominalmente eleito e então no poder há 37 anos, José Eduardo dos Santos, considerou que a província de Luanda vive “graves problemas decorrentes da situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”.

Sua majestade o então rei intervinha na abertura de uma reunião técnica, dedicada à problemática dos constrangimentos sócio-conjunturais da cidade capital, e que juntou alguns membros do Executivo e responsáveis da província em busca de fórmulas mais consentâneas para a implementação dos projectos decorrentes de programas aprovados, há alguns anos.

Segundo o “pai” político do “nosso” actual Kim Jong-un, os 30 anos de guerra que o país viveu (por culpa dos portugueses, é claro) não permitiram a mobilização de recursos humanos e financeiros para satisfazer todas as expectativas das populações.

Para Eduardo dos Santos, os desafios eram enormes, as despesas cresceram muito e, em certos casos, “superam a nossa capacidade”, daí a necessidade de recorrer-se à sabedoria no domínio da gestão parcimoniosa.

José Eduardo dos Santos disse também ser preciso trabalhar com base em prioridades “atacando os problemas essenciais”, que, por sua vez, permitam a resolução de outros, decorrentes dos eixos fundamentais.

Antes dessa reunião, no Marco Histórico “4 de Fevereiro”, no município do Cazenga, com titulares das pastas da Construção, Transportes, Planeamento e Desenvolvimento Territorial, Urbanismo e Habitação, os secretários de Estado das Águas e do Tesouro, entre outros responsáveis, o então “querido líder” cumpriu uma jornada que o levou às obras de intervenção na zona conhecida como da “Lagoa de São Pedro”, na comuna do Hoji-Ya-Henda, assim com a algumas vias rodoviárias, que supostamente iriam conferir melhores condições de vida às populações.

Assim, com a impressão digital de um dos seus sipaios (no caso até é filho incerto de pais portugueses) que dirigia o Pravda do regime, Eduardo dos Santos mandou dizer que “no ano de 2015, de grande significado para os angolanos, a empresa lusa Mota-Engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda”.

Até aqui tudo normal. Mas seguiu-se a reprodução do argumentário simiesco do sipaio, com o aval do Presidente: “Durante as obras, a construtora vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transformadas em rios e no sítio dos esgotos abriram-se crateras que ainda hoje se vêem.”

E depois não querem que a rapaziada critique Portugal, mesmo que tenha de se descalçar pra contar até 12. Então a Mota-Engil “vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”? Isso é coisa que se faça? A ideia seria dar razão ao patrão quando este falava da “situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”. Mas, convenhamos, poderiam não ter vedado “com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”.

“Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram-se. A cidade foi assolada por um surto de febre-amarela. A crise só foi ultrapassada com a substituição do governo provincial”, disse o Pravda. E disse muito bem, ou não estivesse a reproduzir o recado de um líder que até conseguiu pôr o Rio Kwanza a desaguar na foz e não na nascente…

É claro que para além da Mota-Engil há muitos mais culpados, todos portugueses… por culpa de Portugal. Num editorial do Pravda, assinado por José Eduardo dos Santos sob o pseudónimo de José Ribeiro, criticou os “amigos da desgraça” e a “imprensa do Rossio”, referindo-se ao tratamento jornalístico em Portugal do anunciado pedido de apoio do Governo angolano ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Foi notória a forma ligeira e pretensiosa como alguma imprensa à margem do Tejo, useira e vezeira em desejar desgraça em casa alheia, saiu à rua para lançar diatribes à volta de um suposto programa de resgate económico monitorado pelo FMI, organização de que Angola é membro de pleno direito”, escreveu o pasquineiro.

“Cá dentro, a imprensa do Rossio foi secundada com o anúncio apocalíptico de bancarrota. As finanças públicas não existem mais, segundo o porta-voz da UNITA [Alcides Sakala], que é, para nossa desgraça colectiva, membro da Assembleia Nacional, um órgão de soberania que merece todo o nosso respeito”, dizia o editorialistas. Acrescente-se que, mais uma vez, a culpa é de Portugal que permitiu que UNITA existisse e que, ainda por cima, fosse considerado um movimento angolano.

“Não fosse a UNITA useira e vezeira em discursos inócuos e sem qualquer sustentação técnica, dir-se-ia que o homem perdeu completamente o Norte e agora confunde Angola com Portugal e o rio Kwanza com o Tejo, tal a sintonia com que o homem orquestra a canção do resgate e da austeridade com os amigos do Rossio”, dizia o editorial do Pravda do regime.

Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidamente pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos deve tomar a hóstia que tira todos os pecados.

A bem, é claro, da Nação. Da nação do MPLA, entenda-se.

Folha 8 com Lusa

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